//

Mais de dois terços dos países do mundo são “altamente corruptos”

Mais de dois terços das nações do mundo têm altos níveis de corrupção, com países do norte da Europa a liderar o ‘ranking’ de menos corruptos e os Estados Unidos (EUA) a verem aumentar os negócios desonestos, mostra o último relatório da Transparency International (TI).

O Índice Anual de Percepção de Corrupção (CPI) classificou 180 países relativamente ao seus níveis percebidos de corrupção no setor público, utilizando uma escala de zero a 100, com zero a significar “altamente corrupto” e 100 “muito limpo” (ou nada corrupto). O índice foi criado com base na confiança que especialistas e líderes empresariais têm nas instituições públicas.

Segundo avançou a Newsweek, na terça-feira, os países são classificados tendo em consideração as taxas de suborno, o desvio de fundos públicos, os conflitos de interesse e outras formas de corrupção percebidas dentro do governo.

A Dinamarca lidera o ‘ranking’ como a nação menos corrupta, com 88 pontos, seguida pela Nova Zelândia. Já o Reino Unido atinge os 80, caindo dois pontos em relação ao ano anterior. Portugal, com 64 pontos, ocupa a 30.ª posição do ‘ranking’.

Os resultados da TI indicam que a média dos países da União Europeia (UE) e da Europa Ocidental manteve-se estável em 66 pontos, com a África Subsariana pontuou uma média de 32 e a Europa Oriental e Ásia Central 35.

 

O país mais corrupto dos 180 é a Somália, com dez pontos, seguida pela Síria e pelo Sudão do Sul. Ao todo, “mais de dois terços dos países da pesquisa pontuaram abaixo de 50 pontos”, diz o Independent.

O relatório mostra que apenas 20 países melhoraram de forma significativa as pontuações desde 2012, como a Argentina (40.ª posição, com 40 pontos) e a Costa do Marfim (105.ª, 35 pontos). Dezasseis outros, incluindo a Austrália (13.ª, 77 pontos), o Chile (27.ª, 67 pontos) e Malta (51.ª, 54 pontos), diminuíram consideravelmente no mesmo período.

A análise da TI evidencia uma “clara relação” entre uma democracia saudável e o combate à corrupção no setor público, apontando a descida da Turquia (78.ª, 41 pontos) e da Hungria (64.ª, 46 pontos), em consonância com os desafios que têm sofrido o estado de direito e a liberdade de imprensa nesses países.

“É muito mais provável que a corrupção prospere onde as fundações democráticas são fracas e onde políticos não democráticos e populistas podem usá-la em seu benefício”, disse ao Metro a presidente da TI, Delia Ferreira Rubio.

O Independent nota que as democracias plenas obtiveram uma média de 75 pontos, enquanto as democracias com falhas 49. Os regimes autocráticos, por seu turno, tiveram uma média de 30 pontos.

A pontuação da Hungria caiu oito pontos nos últimos cinco anos, devido a alguns “desenvolvimentos preocupantes”, incluindo a saída forçada da Open Society Foundation e da Central European University (CEU), fundada pelo filantrópo George Soros.

A organização revela ainda que, na Ásia, os protestos públicos resultaram em novos governos e reformas anti-corrupção na Índia, na Malásia, nas Maldivas e no Paquistão, mas que isso ainda não se traduziu numa ação sólida.

Já a Venezuela, que enfrenta uma crise política devido às “políticas economicamente ruinosas” do presidente Nicolás Maduro, encontra-se na 168.ª posição, com 18 pontos.

Os EUA são um dos maiores impulsionadores do índice, caindo quatro pontos, para 71, uma pontuação que empurra o país para fora dos 20 menos corruptos (passou da 17.ª posição para a 22.ª). A representante americana da Transparency International, Zoe Reiter, indicou à NPR que esta é a pontuação mais baixa dada ao país em sete anos.

“Sempre fomos superados” pelo Canadá e por muitos países do norte da Europa, no entanto, “o que vemos agora é uma tendência ao declínio da confiança nas nossas instituições democráticas, não apenas pelo público, mas também por especialistas”, referiu.

Jim Lo Scalzo / EPA

O Presidente dos EUA, Donald Trump

O relatório elegeu igualmente o presidente dos EUA, Donald Trump, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o venezuelano Nicolás Maduro entre os líderes que defendem táticas que promovem a corrupção, como o ataque à imprensa livre e independente e aumento da retórica anti-imigração, anti-LGBT, anti-indígena e racista.

E acrescentou: “As preocupações em torno da administração de [Donald] Trump são bastante sérias, mas essa é uma questão que tem vários anos. Os conflitos de interesses não são um problema novo, mas ficaram mais expostos” durante o mandato do atual presidente norte-americano.

“Trump é um sintoma, não uma causa. A sua presidência está a iluminar alguns dos problemas”, disse ainda. Segundo a própria, este resultado é um alerta sobre a necessidade de lidar com conflitos de interesse, com a influência indevida do setor privado e com a ampliação das lacunas entre ricos e pobres.

Um artigo do Metro nota que tais problemas “foram destacados pelas ações de um presidente rico, que desafiou o precedente para manter os seus assuntos fiscais pessoais em segredo e manter as suas posses de negócios enquanto está no cargo”.

Custos da corrupção na UE

Um relatório do Parlamento Europeu dos Verdes/Aliança Livre Europeia, de dezembro de 2018, na UE, mostra a corrupção custa um total de 904 mil milhões de euros por ano. Em Portugal, os dados apontam para 18,2 mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 7,9% do produto interno bruto (PIB).

Portugal é o 11.º país dos 28 estados-membros da União Europeia (UE) com a fatura mais pesada da corrupção, em termos absolutos, evidencia um artigo do Jornal de Negócios, divulgado a 08 de dezembro de 2018.

 

O montante para a corrupção, no caso português, “supera o orçamento anual para a Saúde (16,2 mil milhões de euros) e é dez vezes superior às despesas com o desemprego (1,8 mil milhões). Se fosse redistribuído por toda a população portuguesa, o valor perdido para a corrupção daria 1.763 euros por ano a cada português”.

O estudo refere também que, segundo dados de um inquérito do Eurostat em 2017, 54% dos portugueses inquiridos acreditavam que o nível de corrupção no país tinha aumentado nos três anos anteriores, 29% afirmavam que se tinha mantido e apenas 4% diziam que havia diminuído.

O inquérito mostra ainda que 92% dos portugueses acreditava que a corrupção era generalizada no país e 79% dizia que a corrupção fazia parte da cultura de negócios em Portugal.

Em termos de valor perdido para a corrupção, Itália lidera o grupo, com um custo anual de 237 mil milhões de euros, o que corresponde a 13% do PIB italiano e representa 26% das perdas totais para a corrupção dos 28 países da UE.

Seguem-se França, com uma perda anual de 120 mil milhões de euros, o que vale 6% do PIB gaulês, e a Alemanha, com prejuízos de 104 mil milhões, ou 4% do seu PIB.

Taísa Pagno, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.