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Mais de 30 crianças são assassinadas por dia no Brasil

Tânia Rego / Flickr

Favela do Metrô-Mangueira, no Rio de Janeiro

Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que, em média, 32 crianças e adolescentes são mortos, todos os dias, no Brasil. As vítimas são, na sua maioria, rapazes negros e pobres, que vivem nas periferias das grandes cidades.

Na celebração do 30.º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), o Unicef lançou um relatório com os principais avanços e desafios enfrentados por crianças e jovens brasileiros, frisando que, apesar do país sul-americano ter alcançado “conquistas importantes”, ainda enfrenta vários problemas, noticiou a agência Lusa.

“É na área de proteção à criança que o país enfrenta os seus maiores desafios. Em 30 anos, o Brasil viu crescer a violência armada em diversas cidades, e hoje está diante de um quadro alarmante de homicídios. A cada dia, 32 meninas e meninos de 10 a 19 anos são assassinados no país. Em 2017, foram 11,8 mil mortes”, apontou o Unicef.

As vítimas são, na sua maioria, do sexo masculino, negros, pobres, que vivem nas periferias e em áreas metropolitanas das grandes cidades, em bairros desprovidos de serviços básicos de saúde, assistência social, educação, cultura e lazer.

Segundo uma análise de dados feita pela Unicef em 10 capitais de estado, 2,6 milhões de crianças vivem em áreas diretamente afetadas pela violência com recurso a armas. “Morar num território vulnerável faz com que crianças e adolescentes estejam mais expostos à violência armada”, destacou o relatório.

Nos últimos 10 anos, o número de homicídios entre adolescentes brancos tem diminuído, enquanto o assassínio de negros apresenta um crescimento. Em 2017, 82,9% dos 11,8 mil casos de assassínio de crianças e adolescentes com idades entre os 10 e 19 anos no Brasil foram entre “não brancos”.

“Reverter esse quadro é urgente. É preciso investir nos territórios mais vulneráveis, com políticas públicas de qualidade, voltadas a cada criança e a cada adolescente, em especial os mais excluídos. Temos que lhes oferecer um ambiente seguro em que possam desenvolver plenamente o seu potencial”, disse o representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer.

Fernando Frazão / Agência Brasil

Militares fazem operação na favela da Rocinha no Rio de Janeiro, após guerra entre quadrilhas rivais de traficantes pelo controle da área

Além da violência, o Brasil enfrenta ainda outros desafios relacionados às desigualdades. Existem cerca de dois milhões de crianças fora da escola, sendo que a grande maioria vem de famílias com baixos rendimentos.

No ano passado, 3,5 milhões de estudantes de escolas estaduais e municipais foram reprovados ou abandonaram as instituições de ensino.

Em relação à saúde, apesar da redução histórica da mortalidade infantil, o Brasil registou em 2015, pela primeira vez em 20 anos, um aumento, o que causou algum alerta dentro do Unicef. A cobertura de vacinas também caiu no país, trazendo de volta doenças como o sarampo, que estava erradicado.

“Uma das histórias de sucesso mais impressionantes é a redução da mortalidade infantil (até um ano). Somente entre os anos 1996 e 2017, o país evitou a morte de 827 mil bebés. Não obstante, no mesmo período, aumentaram em grande escala a violência armada e os homicídios, que tiraram a vida de 191 mil meninas e meninos de 10 a 19 anos”, indicou a organização.

No que à saúde mental diz respeito, nos últimos 10 anos, o suicídio de crianças e adolescentes têm crescido no país sul-americano, passando dos 714 casos em 2007, para 1.047, em 2017. “Problemas como ‘bullying’ e ‘cyberbullying’ precisam de ser olhados com atenção”, frisou o relatório do Unicef.

A organização referiu que há “uma tendência de redução do orçamento voltado aos temas da infância e adolescência no Brasil que precisa ser revertida”. “Investir nessas etapas da vida traz resultados para toda a sociedade. Cada dólar investido na primeira infância, por exemplo, traz um retorno de sete até 10 dólares”, salientou.

Lusa //

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