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Genocídio do Ruanda. Macron admite responsabilidade, mas não pede desculpa

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Philippe Wojazer / EPA

O Presidente francês Emmanuel Macron visitou o Ruanda esta quinta-feira e quebrou o silêncio, reconhecendo a “responsabilidade” de França no genocídio no país em 1994. 

Emmanuel Macron reconheceu que França carrega uma grande responsabilidade pelo genocídio de 1994 no país da África Central, numa visita ao memorial às quase 800 mil vítimas em Kigali, esta quinta-feira.

No entanto, segundo o NPR, não foi tão longe ao ponto de pedir desculpas pelo que aconteceu.

O Presidente afirmou que França “não foi cúmplice” do genocídio. O país acabou por se aliar ao “regime genocida” de Ruanda e carrega uma “responsabilidade avassaladora” pelos massacres.

“França tem um papel, uma história e uma responsabilidade política em Ruanda. Tem um dever: olhar a história de frente e reconhecer o sofrimento que infligiu ao povo ruandês ao favorecer por muito tempo o silêncio em vez do exame da verdade”, disse Macron.

Quando o genocídio começou, “a comunidade internacional demorou quase três meses, três meses intermináveis, antes de reagir e nós, todos nós, abandonamos centenas de milhares de vítimas”.

Os fracassos de França contribuíram para “27 anos de distância amarga” entre os dois países. “Tenho que reconhecer as nossas responsabilidades”, assumiu.

O genocídio entre 7 de abril e 15 de julho de 1994 começou após o avião do Presidente Juvenal Habyarimana, da maioria hutu, ter sido derrubado. Em poucas horas, milícias extremistas hutus mataram os membros da minoria tutsi, além de hutus moderados, em atos de extrema violência.

Apesar de não ter pedido desculpas, o Presidente francês disse que só os que sobreviveram aos horrores do genocídio “podem talvez perdoar, dar-nos o presente do perdão“.

A viagem foi interpretada como o “passo final na normalização das relações” entre os dois países, após mais de 25 anos de tensões, tendo Macron anunciado para breve a nomeação de um embaixador em Kigali.

França e Ruanda estiveram de relações diplomáticas totalmente cortadas entre 2006 e 2009. Em 2010, o então Presidente Nicolas Sarkozy admitiu que tinha havido “sérios erros” da parte dos franceses e “uma espécie de cegueira”, declarações que ficaram, contudo, aquém do esperado.

Desta vez, o Presidente ruandês louvou as palavras de Macron. “As suas palavras foram algo mais valioso de que um pedido de desculpas. Foram a verdade”, disse Paul Kagame, numa conferência de imprensa conjunta.

“França e o Ruanda vão ter uma relação muito melhor que será benéfica para ambos os povos, economicamente, politicamente e em matéria de cultura”, disse, lembrando que a relação nunca será “inteiramente convencional”, porque “há uma familiaridade especial que resulta da história complexa e terrível que partilhamos, para o melhor e para o pior”.

ZAP //

1 Comment

  1. O eterno problema de ex-colonos e ex-colonizados, estes ficaram livres de nós segundo o desejo dos seus líderes com auxílio externo sobretudo da defunta URSS, agora passam a vida a disputarem-se entre eles com guerras ideológicas, religiosas ou tribais, pior ainda que o comunismo que os levou à desgraça têm agora o islamismo tal como um cancro a ganhar ramificações por toda a África, se as antigas potências interferem logo vem à baila a conversa do colonialismo, com aplausos de forças de esquerda europeias, se não se atua, passa-se a ser cúmplice da desgraça que venha a ocorrer! Repare-se no caso bem recente da visita do nosso presidente à Guiné-Bissau, logo foi criticado pelo PAIGC por fazer a visita a um regime que a eles evidentemente não agrada e como se eles fossem melhores que os atuais; anos a fio a governarem, vê-se a miséria em que o país vive, em todo o caso o mais real de tudo terá sido os vivas a Portugal e ao PR daquele povo escravo dos seus “salvadores”, dará para tirar daí alguma conclusão do sentimento silencioso que lhes vai na alma.

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