London Calling! Históricas cabines telefónicas estão a ganhar uma nova vida

No centenário deste ícone cultural britânico, patrocinadores financiam cabines remanescentes em campanha para evitar que desapareçam das ruas do Reino Unido. As tradicionais cabines vermelhas ganham novas utilidades.

Para muitos, pensar no Reino Unido é pensar nos autocarros vermelhos, nos The Beatles ou no Palácio de Buckingham; outros podem preferir o famoso fish n’ chips ou pubs.

Mas, indiscutivelmente, uma das imagens mais icónicas é a tradicional cabine telefónica vermelha, que conseguiu sobreviver até hoje apesar do seu raro uso na modernidade do país.

Na verdade, o número de cabines telefónicas em todo o país tem reduzido sensivelmente nos últimos anos, de acordo com a British Telecom (BT) — restam apenas 3 mil dos tradicionais quiosques vermelhos.

Ameaça existencial

Enquanto assinala o seu 100º aniversário, o quiosque clássico está sob ameaça existencial — originalmente devido aos telemóveis e ainda mais desde que os smartphones se popularizaram.

No entanto, em 2008, a BT lançou o seu programa Adopt a Kiosk (adote um quiosque), no qual mais de 7.200 cabines telefónicas passaram a ser bancadas por comunidades em todo o Reino Unido por apenas 1 libra (1,16€) cada.

“Os quiosques podem ser adotados por administrações locais e instituições de caridade registadas”, lê-se no site da BT.

“Com a grande maioria das pessoas a usar telemóveis e com melhorias significativas na cobertura móvel em todo o Reino Unido, continuamos a ver uma grande queda no número de chamadas feitas a partir de telefones públicos”, afirma Michael Smy, responsável pelo projeto na BT.

“Com o icónico quiosque vermelho a completar 100 anos, esta é uma grande oportunidade para lembrar as localidades que ainda gostariam de manter o seu quiosque de comprá-lo por apenas uma libra. Já vimos algumas ótimas conversões de quiosques em todo o Reino Unido que se tornaram ativos comunitários valiosos“, acrescenta.

Essas “conversões” transformaram as famosas caixas vermelhas numa série de espaços úteis e culturais, desde unidades de desfibriladores e bibliotecas, até minigalerias de arte e pequenos museus locais.

A BT continuará a fornecer eletricidade, sem nenhum custo, para alimentar a luz das cabines telefónicas adotadas.

Já em 2021, o Reino Unido garantiu que iria salvar algumas das cabines.

Segundo o Travel and Leisure, o regulador britânico de telecomunicações Ofcom propôs novas regras para salvar cerca de 5.000 das 21.000 cabines telefónicas do país, por entender que ainda se encontram em uso – especialmente durante emergências.

“Algumas das cabines telefónicas que planeamos proteger são utilizadas para fazer um número relativamente baixo de chamadas”, disse à Associated Press Selina Chadha, diretora da Connectivity do Ofcom.

“Mas se uma dessas chamadas for de uma criança aflita, de uma vítima de um acidente ou de alguém a pensar em suicídio, essa linha telefónica pública pode ser uma linha de salvação… Também queremos assegurar que as pessoas sem cobertura móvel, principalmente em zonas rurais, continuam a poder fazer chamadas”, justificou.

A história da cabine vermelha

O nome Sir Giles Gilbert Scott pode não ser familiar para muitos, mas em 2024 faz 100 anos desde que o seu projeto foi escolhido para ser a primeira cabine telefónica vermelha no Reino Unido. A cor foi escolhida devido à facilidade de identificação.

Desde então, as cabines tornaram-se um ícone cultural, sendo esta talvez a conquista mais memorável e duradoura de Scott — o que já diz algo para um arquiteto cujas obras incluem a biblioteca da Universidade de Cambridge, a Central Elétrica de Battersea e a Catedral de Liverpool.

O design de Scott foi a segunda versão, depois de a insatisfação com o modelo original ter originado a procura de uma alternativa. Finalmente chegou às ruas em 1926.

Dez anos depois, Scott refinou o seu design para marcar o jubileu de prata do rei George 5°. O estatuto icónico das cabines telefónicas vermelhas foi aprimorado no Reino Unido do pós-guerra, tendo alcançado salas de estar em todo o mundo através de filmes, vídeos musicais e séries de culto na televisão.

O número de cabines telefónicas em todo o Reino Unido atingiu o pico na década de 1990, com cerca de 100 mil unidades.

No entanto, apesar do seu estatuto histórico, tem havido um declínio significativo na utilização de telefones públicos em todo o Reino Unido, onde 98% da população adulta atualmente possui um telemóvel.

Amada por turistas

E se foi noutros tempos que as pessoas fizeram fila para usar o telefone, algumas caixas ainda atraem multidões nos dias de hoje.

Por exemplo, a cabine telefónica específica perto da saída da estação de metro de Westminster — que vemos na foto acima — atrai milhares de turistas. Devido à sua proximidade com o Big Ben, é possível envolver o relógio icónico de Londres e a cabine telefónica vermelha numa única foto.

Um utilizador do TikTok afirmou ter esperado 45 minutos na fila para tirar uma foto com a mítica cabine: “O mundo enlouqueceu”, comentou um londrino.

As cabines vermelhas podem já não ser necessárias para telefonemas, mas à medida que são transformadas em pequenas casas úteis, ainda há uma serventia para o velho caixote.

ZAP // DW

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