Lobo gigante de A Guerra dos Tronos (ou algo parecido). Anunciada a primeira desextinção de sempre

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Colossal Biosciences

Romulus e Remus, os “Lobos Gigantes” resgatados à extinção pela Colossal Biosciences

A biotecnológica Colossal Biosciences anunciou ter ressuscitado, pela primeira vez na história, uma espécie anteriormente extinta: o Lobo Gigante. Mas nem todos estão convencidos de que os temíveis lobos de “A Guerra dos Tronos” estejam verdadeiramente de volta.

O Lobo Gigante, um canino extinto que caçou pela última vez há milhares de anos nas florestas e planícies da América do Norte da era Pleistocénica, terá sido agora ressuscitado pela Colossal Biosciences.

A proeza foi anunciada esta segunda-feira pela startup biotecnológica norte-americana que em 2023 tentou ressuscitar o dodó e recentemente criou um rato-mamute quando tentava fazer o mesmo com o mamute-lanoso.

“O nascimento bem-sucedido de três Lobos Gigantes é um marco revolucionário do progresso científico que ilustra outro salto em frente nas tecnologias de desextinção da Colossal, e é um passo crítico no caminho para a desextinção de outras espécies-alvo”, diz a empresa no comunicado que anuncia a sua conquista.

O anúncio da Colossal foi acompanhado de um artigo de fundo na Time, que apresenta os três lobinhos gigantes criados pela startup norte-americana, e faz a capa da edição de maio da revista.

Os dois primeiros, Romulus e Remus, que ganharam o nome dos irmãos gémeos da mitologia romana que foram criados por lobos, nasceram em outubro. Khaleesi, a “rainha Dothraki” em GoT, em janeiro. Com a sua tenra idade, já medem cerca de 1,5 m de comprimento e pesam cerca de 80 kg, podendo chegar aos 150 kg.

Não são cachorrinhos normais. A exuberância angelical que os cães mostram na presença de humanos está ausente. Mantêm-se à distância, recuando se uma pessoa se aproxima. Este é tipicamente o comportamento lupino selvagem… e estes cachorros não são apenas lobos, são Lobos Gigantes, explica a Time.

Depois de ter sequenciado com sucesso o genoma da espécie (aenocyon dirus), a empresa usou a técnica CRISPR para realizar um edição genética de precisão em 14 genes de embriões de lobo, modificando o seu genoma para trazer de volta à vida a espécie outrora extinta. Os embriões foram incubados numa loba comum, que funcionou como mãe substituta.

Em declarações ao The Debrief ainda antes do anúncio histórico, o CEO da Colossal, Ben Lamm, explica que a empresa conseguiu obter amostras extraordinariamente bem preservadas dos restos mortais do canino extinto, que forneceram material genético de qualidade suficiente para restaurar a espécie.

“A nossa equipa recolheu ADN de um dente com 13.000 anos e de um crânio com 72.000 anos e criou filhotes de Lobo Gigante saudáveis. Fizemos nascer Lobos Gigantes bebés”, conta Lamm.

Mas nem todos estão convencidos de que os temíveis lobos de “A Guerra dos Tronos” tenham sido resgatados da extinção e estejam de facto de volta. Segundo a revista New Scientist, os lobinhos da Colossal são na realidade apenas lobos cinzentos com edições genéticas que os aproximam dos Lobos Gigantes.

Estes canídeos, que terão servido de inspiração para as criaturas fictícias da famosa série Game of Thrones, baseada nos romances de George R. R. Martin, surgiram durante o Pleistocénico Tardio, entre 129.000 e 11.700 anos atrás, e terão sido extintos há cerca de 9.500 anos.

A espécie, que fazia parte da megafauna antiga que prosperou na América do Norte e do Sul durante a Idade do Gelo, foi descoberta na década de 1850 e formalmente reconhecida em 1858, tendo a maior coleção de restos mortais sido recuperada dos famosos poços de alcatrão de La Brea, em Los Angeles, Califórnia.

Com um tamanho comparável ao dos maiores lobos cinzentos conhecidos atualmente, acredita-se que o Lobo Gigante tinha caraterísticas únicas — incluindo adaptações que lhe permitiam atacar os mamíferos megafaunais da sua época — que nunca foram observadas num espécime vivo até agora.

Armando Batista, ZAP //

3 Comments

  1. Não é o primeiro local onde vejo falarem de desextinção. Isso não é correto — o facto de terem clonado dois exemplares não significa, de repente, que a espécie deixou de estar extinta.
    Existe algo chamado ‘extinção funcional’, que ocorre quando uma espécie já não se reproduz em número suficiente para manter uma população viável. Há inúmeros exemplos de espécies em extinção funcional no planeta — espécies que, apesar de ainda contarem com exemplares de ambos os sexos, já não se reproduzem em ambiente natural.
    Falar em desextinção exige alargar muito o significado do termo.

    • Caro leitor,
      Tem toda a razão, e por isso mesmo levámos ao título a nota “(ou algo parecido)” e incluímos no texto a referência ao artigo da New Scientist, segundo o qual os lobos da Colossal “são na realidade apenas lobos cinzentos com edições genéticas que os aproximam dos Lobos Gigantes.”

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