Centenas de ativistas e dissidentes políticos no Egito cumpriram anos de prisão e foram libertados. Contudo, o fim do pesadelo está longe de chegar: enfrentam agora os estragos de um período de liberdade supervisionada, que começa ao cair da noite em postos de polícia superlotados.
Depois de abandonarem as suas celas, o pesadelo não termina na terra dos faraós. Os ativistas recentemente libertados Alaa Abdel-Fattah, Ahmad Maher e Mohammed Adel – principais figuras da revolução de 2011 que derrubou o ex-Presidente egípcio Hosni Mubarak – estão entre os que estão sob liberdade condicional.
As medidas exigem que as pessoas libertadas entrem em contacto todos os dias com a polícia e passem a noite na esquadra mais próxima durante meses, limitando drasticamente a sua liberdade de movimentos. Se não cumprirem, estas pessoas correm o risco de serem sujeitas a novas acusações criminais e possível prisão.
“As autoridades egípcias confiam e encaram as medidas arbitrárias e excessivas de liberdade condicional como uma tática para intimidar e silenciar ativistas pacíficos após terem sido libertados”, afirmou Magdalena Mughrabi, da Amnistia Internacional, citada pelo El Mundo.
Alguns dos dissidentes condenados a até cinco anos de liberdade condicional, contactados pelo diário espanhol, optaram por permanecer em silêncio, com medo de represálias que possam sofrer.
Todos os dias, ao entardecer, estas pessoas devem rumar até aos postos de polícia designados e passar lá a noite, sendo obrigadas a passar lá 12 horas do seu dia. Em muitos casos, o que acontece é que acabam por passar a noite em salas cheias de gente, com pouca ventilação e acesso limitado às instalações sanitárias.
Aliás, segundo revela o El Mundo, em muitos casos é-lhes recomendado que levem um tapete para que não durmam completamente no chão.
“O uso destas medidas draconianas de liberdade condicional viola os direitos das pessoas de se movimentarem livremente e de comunicarem com o exterior durante a noite, pelo que esta prática deve parar imediatamente”, declarou Mughrabi.
A Amnistia Internacional declarou que mais de 400 pessoas estão atualmente em situação de liberdade condicional, tendo de pernoitar numa esquadra entre as 18h00 e as 06h00 da manhã seguinte, todos os dias.