Atropelou e matou rapariga de 15 anos, fugiu e saiu em liberdade. “É um crime que não é crime”

2

ceiling/Flickr

Avenida 24 de Julho, Lisboa.

Condutor de 34 anos seguia num BMW e fugiu por estar “em estado de choque”, disse à polícia. Entregou-se duas horas depois, mas saiu em liberdade, como arguido. Jovem atravessou na passadeira, diz uma testemunha.

Uma jovem de 15 anos foi atropelada mortalmente na madrugada deste sábado em Lisboa, quando estava a atravessar a Avenida 24 de Julho, junto à estação ferroviária de Santos.

A rapariga, que foi projetada, ainda foi auxiliada no local e transportada, com vida, em estado grave, para o Hospital de São José, pouco depois da meia-noite, mas não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer.

A vítima foi “projetada”, sublinhou a subcomissária da PSP, Ana Ricardo, à SIC. O condutor de 34 anos fugiu do local sem prestar auxílio e entregou-se duas horas mais tarde, na PSP do Largo do Rato, onde confessou o crime e disse à polícia que entrou “em estado de choque”, daí ter fugido.

O suspeito disponibilizou-se para ir ao hospital fazer recolha de sangue para análise e procedeu-se à despistagem de álcool e drogas, mas os resultados só serão conhecidos dentro de alguns dias.

A investigação também ainda vai determinar se a vítima “estava na passadeira ou não”, explica a PSP, mas, ouvida pela CMTV, uma testemunha disse que a jovem estaria a atravessar a estrada na passadeira, com duas amigas.

O homem, de Lisboa, já foi presente a um juiz, mas ficou em liberdade, com termo de identidade e residência. Foi constituído arguido por ofensas à integridade física que resultaram em morte e omissão de auxílio.

O carro, um BMW, foi encontrado estacionado no Largo do Carmo, a cerca de 10 minutos da esquadra e a dois quilómetros do local do crime. Foi estacionado pelo suspeito pelas 02h da manhã e estava danificado. Pertence à empresa onde trabalha, segundo o JN.

“Pode ser homicídio doloso e não negligente”

A explicação [do suspeito] não parece ser muito convincente”, diz o advogado Rui Pereira à CMTV.

O arguido “está indiciado de um homicídio, resta saber se é negligente, como normalmente acontece nestas situações, ou se é doloso, porque repito: homicídios na estrada também podem ser dolosos”, e explica.

“Numa situação em que o condutor preveja que pode matar alguém e se conforme com esse resultado, haverá dolo [vontade deliberada de cometer o ato]”, adianta.

“Crime que não é crime”

No ano passado, as autoridades registaram cerca de 370 atropelamentos seguidos de fuga sem auxílio. Os casos continuam a aumentar. Só na última semana registaram-se pelo menos cinco atropelamentos na região da capital, entre os quais uma criança de 9 anos, atropelada por uma mota, conduzida sem carta por um jovem de 19 anos. Noutro caso, dois ciclistas de três atropelados por um condutor que se pôs em fuga ainda estão internados, em estado grave.

O atropelamento e fuga “é o único crime em Portugal que não é considerado crime pela cultura”, opina Rui Zink no mesmo canal. O crime violento com automóvel” é visto como “um azar”, diz o escritor e professor universitário.

Neste caso, o condutor “se calhar ia em excesso de velocidade ou se calhar entregou-se horas mais tarde para ver se o álcool saía do sangue”, supôs.

“Mas tem o direito a defender-se”, daí ter saído em liberdade. “Sabe que vai levar uma ‘palmadinha na mão’, e isso já é culpa política”, diz: “tem de haver um dissuasor para salvar jovens de 15 anos”.

Tomás Guimarães, ZAP //

2 Comments

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.