A língua que falamos afeta a nossa perceção do tempo

A perceção que a humanidade tem sobre o tempo ainda é um verdadeiro enigma para a ciência, de modo que protagoniza diversos estudos.

Alguns deles sugerem que esse fator pode ser influenciado pelo idioma que é falado. Pensar no sistema escrito da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda pode interferir, por exemplo.

Assim, alguns psicolinguistas argumentam que as nossas representações mentais do tempo são influenciadas, talvez limitadas, pela linguagem. Na maioria das línguas, o passado é explicado como algo que ficou atrás de nós, enquanto o futuro está à nossa frente. No entanto, para o povo indígena aimará da América do Sul, por exemplo, a língua indica que o passado está à frente deles, e o futuro, atrás.

Em 2017, linguistas realizaram um estudo que sugeria que falantes bilíngues podem pensar sobre o tempo de maneira diferente, dependendo do idioma que empregam. Algumas línguas (como o inglês) tendem a usar distâncias físicas para explicar a duração dos eventos, enquanto outras (como o grego) tendem a medir o tempo referindo-se a quantidades físicas. Dessa forma, o fluxo do tempo é percebido como um volume crescente, e não como uma distância percorrida.

Se uma pessoa falasse grego e inglês, por exemplo, mudaria a forma como explicava o movimento do tempo, dependendo do idioma em que fosse questionada sobre isso.

A teoria dos especialistas é que aprender um novo idioma faz com que a pessoa fique sintonizada com dimensões percetivas das quais não tinha consciência antes. A linguagem pode infiltrar com facilidade os nossos sentidos mais básicos, incluindo as nossas emoções, a nossa percepção visual, e nosso sentido de tempo.

Perceção do tempo

Existem diversos fatores que podem ter influência sobre a perceção que uma pessoa tem em relação ao tempo. Segundo um estudo publicado na Nature Reviews Neuroscience, pessoas constantemente atrasadas veem o tempo de maneira diferenciada, por exemplo.

A região do cérebro que processa alguns aspetos do tempo é o hipocampo. Os neurónios dessa área contribuem para a nossa percepção e memória de eventos. Os especialistas acreditam que fazemos estimativas com base em quanto tempo achamos que levou para concluir aquela mesma tarefa no passado, mas as nossas memórias e perceções nem sempre são precisas. O estudo sugere que fazer várias coisas ao mesmo tempo gera menos probabilidade de lembrar e concluir outras tarefas.

Neste ano, outro artigo da Nature Neuroscience deu pistas sobre como o cérebro processa a passagem de tempo. De acordo com o relatório, a perceção de tempo é descentralizada e flexível. A teoria é que o órgão mantém o tempo dependendo de padrões regulares de atividade que se desenvolvem em grupos neurais conforme nos comportamos.

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