Nomeado há um ano administrador delegado na Sociedade da Bacalhôa, Frederico Falcão deixou o grupo de Joe Berardo, investidor e empresário que está no centro da polémica devido às dívidas à banca de mais de 900 milhões de euros.
De acordo com o jornal Público, o afastamento de Frederico Falcão da sociedade vinícola, que explora as marcas Aliança, Quinta da Bacalhôa, Quinta do Carmo, Quinta dos Loridos, foi formalizada na semana passada por mútuo acordo. A notícia acabou por apanhar de surpresa o setor, dado que Frederico Falcão interrompeu o seu mandato a meio, após ter assumido a liderança da empresa em julho do ano passado.
O porta-voz da sociedade da Bacalhôa afirmou ao jornal que o processo foi natural e que “o executivo deixou o grupo por mútuo acordo”, não tendo “havido despedimento ou dispensa”.
Frederico Falcão disse que decidiu abandonar a sociedade após “um entendimento” cordial com a Sociedade da Bacalhôa. “Já não me identificava com o projeto e depois de um acumular de situações, entendi que deixara de ter condições para continuar”.
Enólogo de formação, o gestor exerceu o cargo de presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) entre abril de 2012 e junho de 2018, e depois de ter passado pelas empresas Esporão, Companhia das Lezírias, Pegos Claros, Fundação Abreu Callado.
A saída de Frederico Falcão do grupo Berardo surge num quadro de crescimento das exportações nacionais de vinho, o que se verifica consecutivamente desde há cinco anos, e que abrangem as marcas da Bacalhôa. Os vinhos da Bacalhôa estão no top três dos mais vendidos em Portugal.
A Sociedade da Bacalhôa, com adegas no Alentejo, Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro, é controlada desde 1998 por José Berardo. O investidor que em maio deste ano atraiu as atenções quando esteve na Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos, de que é um dos maiores devedores – com uma exposição de 350 milhões de euros, em crédito com problemas de garantias e colaterais -, e quando afirmou que “pessoalmente” não tem dívidas”, nem tem “nada” em seu nome.
Em 2017, em entrevista à TVI, o empresário foi filmado a mostrar a sua casa de Azeitão (a Quinta da Bacalhôa) e a mencionar os “grandes lucros da Bacalhôa”.
José Berardo está a ser alvo de várias iniciativas jurídicas dos bancos no sentido de recuperarem parte dos créditos que ficaram por pagar pelas sociedades ligadas ao investidor, tendo já conseguido avançar no processo de arresto de imóveis, e sobretudo conquistado uma providência cautelar que trava qualquer movimento relacionado com coleção Berardo, exposta no Centro Cultural de Belém. Isto, enquanto decorre o processo central de arresto dos quadros pertencente à Fundação com o nome do investidor.