Líder dos rebeldes sírios discursou na histórica mesquita dos Omíadas

Wassim Nasr / Twitter

Líder dos rebeldes sírios discursou na histórica mesquita dos Omíadas

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou este domingo que o fim do regime de Assad deve conduzir a uma transição pacífica e inclusiva de todas as comunidades. António Costa, presidente do CE, considerou que o fim da “ditadura de Assad” é uma “nova oportunidade de liberdade e de paz”.

O líder dos rebeldes sírios, Abu Mohammed al-Jolani, discursou hoje na famosa mesquita dos Omíadas em Damasco, depois de a capital ter sido declarada livre das forças de Bashar al-Assad, noticia a agência AFP.

Ao entrar na icónica mesquita da Cidade Velha de Damasco, o líder do grupo radical islâmico foi saudado por uma multidão que gritava “Allah Akbar” (Alá é grande), segundo vídeos que circulam na imprensa.

O líder dos rebeldes chegou hoje a Damasco, onde se prostrou num relvado, antes de se dirigir à histórica mesquita.

“O líder Ahmed al-Chareh prostrou-se e beijou o chão” à chegada a Damasco, anunciou o canal Telegram da coligação rebelde, no qual se viam as imagens do líder deitado no relvado.

Os rebeldes declararam hoje Damasco ‘livre’ do presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, para derrotar o governo sírio.

O presidente sírio, no poder há 24 anos, deixou o país perante a ofensiva rebelde, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), desconhecendo-se, para já, o seu paradeiro.

Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, enquanto a maioria dos países ocidentais e árabes se mostrou satisfeita por Damasco deixar de estar nas mãos do clã Assad.

No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.

O paradeiro de Bashar al-Assad é desconhecido, havendo rumores de que a aeronave em que se deslocava para fora do país, que desapareceu dos radares, poderá ter-se despenhado.

Rangel pede transição pacífica

Portugal afirmou hoje que, tal como os parceiros europeus, segue de perto a situação na Síria, defendendo que “o fim inominável” do regime sírio do Presidente Bashar al-Assad “conduza a uma transição pacífica”.

Numa declaração na rede social X, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, realçou que a transição deve também ser “inclusiva”, na linha da resolução 2254 do Conselho de Segurança, e que o povo sírio “tem direito à paz”.

“Portugal, com os parceiros europeus, segue de perto a situação na Síria. O fim do inominável regime de Assad deve conduzir a uma transição pacífica e inclusiva de todas as comunidades, na linha da Resolução 2254 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O povo sírio tem direito à paz“, afirmou Rangel.

A Resolução 2254 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em dezembro de 2015, foi aprovada com o objetivo de se definir uma solução política para a guerra civil na Síria, que eclodira em 2011, e de se estabelecer um processo de transição política, sob a égide da ONU.

Costa: nova oportunidade de liberdade

O presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, considerou hoje que o fim da “ditadura de Assad” é uma “nova oportunidade de liberdade e de paz para o povo sírio”.

“A ditadura de Assad causou imenso sofrimento. Com o seu fim, surge uma nova oportunidade de liberdade e paz para todo o povo sírio”, considerou Costa numa mensagem na rede social X.

O Presidente do Conselho Europeu acrescentou que so regime na Síria “também é crucial para a estabilidade mais ampla da região”, garantindo ainda que a União Europeia “está pronta para trabalhar com o povo sírio por um futuro melhor”.

A posição ocorre depois de Kaja Kallas, chefe da diplomacia da União Europeia (UE) ter considerado como “positiva” a queda de Bashar al-Assad, mostrando a fraqueza do apoio russo e iraniano.

“O fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado. Também mostra a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irão”, disse Kaja Kallas numa publicação na rede social X.

Kallas acrescentou que a prioridade da UE é “garantir a segurança” na região, e deixou o compromisso de que a UE irá trabalhar com “todos os parceiros construtivos” na Síria e, de forma mais ampla, na região — mas alertou para o processo de reconstrução do país, temendo que seja longo e difícil.

Oportunidade para respeitar direitos humanos

Os peritos da ONU que investigam as violações dos direitos humanos na Síria desde 2011 classificaram hoje a queda do regime de Bashar al-Assad como “uma oportunidade para inaugurar uma era mais respeitadora dos direitos humanos no país”.

“Chegou o momento de conduzir o país a um futuro estável, próspero e justo, que garanta os direitos humanos e a dignidade há muito negados ao seu povo”, declarou em comunicado a comissão presidida pelo jurista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que espera que a tomada de Damasco pela coligação da oposição possa marcar “o fim de décadas de repressão estatal”.

A nota oficial congratula-se especialmente com a libertação de prisioneiros que teve lugar na prisão de Sednaya, nos arredores de Damasco: “É um quadro que milhões de sírios não podiam imaginar há apenas alguns dias e é importante que as autoridades atuais garantam que as atrocidades ali cometidas não se repitam”.

A missão da ONU, que além de Pinheiro inclui as especialistas Hanny Megally (Egito) e Lynn Welchman (Reino Unido), destacou ainda a libertação de milhares de prisioneiros em zonas recentemente tomadas pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe, uma antiga filial síria da Al-Qaeda).

“Esperamos que as autoridades garantam que todas as pessoas libertadas de detenções arbitrárias e ilegais recebam assistência para facilitar o reagrupamento familiar e que tenham apoio psicológico e médico adequado”, afirmaram.

Os investigadores manifestaram também a esperança de que seja conhecido o paradeiro de dezenas de milhares de pessoas desaparecidas, muitas das quais podem ter estado presas nos centros de detenção do regime deposto sem que as suas famílias tenham qualquer informação sobre o seu paradeiro.

Os peritos pediram que as partes em conflito facilitassem a sua entrada na Síria para investigar os centros de detenção e apelaram ao acesso sem entraves dos vários atores humanitários.

Por último, apelaram às novas autoridades sírias para que protejam as casas e os bens das centenas de milhares de pessoas deslocadas na última ofensiva das forças da oposição, que começou há pouco mais de uma semana e terminou com a tomada de Damasco.

“Há uma oportunidade para quebrar o círculo vicioso destrutivo de pilhagem que a missão documentou em anteriores mudanças de poder territorial”, disseram.

ZAP // Lusa

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