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Licenciatura perdeu valor após a crise. Vale menos um terço do valor salarial

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No que toca a salários, ter uma licenciatura ainda compensa. No entanto, segundo a Organização Internacional do Trabalho, essa realidade está a esbater-se.

Ter uma licenciatura ainda compensa quando se fala de salários, mas cada vez menos. No relatório Tendências Mundiais do Emprego Jovem 2020, divulgado na segunda-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) refere que, na última década, “a tendência de retorno crescente para quem tem o Ensino Superior foi revertida na grande maioria dos países”.

A evolução é mais sentida nos países mais desenvolvidos – países de rendimento mais elevado -, onde se inclui Portugal. “Comparando a variação do retorno salarial do ensino superior para trabalhadores jovens (ou em início da carreira) antes e depois da crise financeira com a variação para trabalhadores a meio da carreira, entre 2006 e 2016, verifica-se que os retornos são decrescentes nos estágios iniciais da carreira.”

Segundo o Diário de Notícias, no caso de Portugal a OIT estima que a variação na diferença entre os salários de jovens trabalhadores e os empregados em meio de carreira com o ensino superior antes e depois da crise financeira é de cerca de 30 pontos percentuais.

Isto significa que os indivíduos já no mercado de trabalho, com idades entre os 30 e os 49 anos, tiveram um retorno salarial desta magnitude pelo facto de terem um curso superior.

Ainda assim, as desigualdades salariais nas camadas mais jovens esbateram-se nos últimos anos, o que pode encobrir um efeito perverso, com salários nivelados por baixo.

“O rápido aumento do número de jovens com estudos superiores na população ativa é superior à procura deste tipo de mão-de-obra o que faz baixar os salários dos jovens com formação superior”, conclui a organização, admitindo que a evolução poderá estar relacionada com os avanços tecnológicos, a nova economia digital e as novas formas de emprego – com trabalhos mais precários e salários mais baixos.

Jovens “nem nem” aumentam para 267 milhões

O número de jovens que não trabalham, não estudam nem frequentam formação, os “nem nem”, aumentou em 2019 para 267 milhões, representando cerca de um quinto do total de jovens no mundo, segundo o relatório da Organização Mundial do Trabalho.

Atualmente, existem no mundo 1.300 milhões de jovens (entre os 15 e os 24 anos), dos quais 267 milhões são NEET (acrónimo em inglês para designar jovens que não estudam, não trabalham nem frequentam formação). Do total de jovens “nem nem”, dois terços (181 milhões) são mulheres, sendo que as raparigas têm mais do dobro da probabilidade de serem jovens NEET, segundo a OIT.

De acordo com a organização, desde 2017 que existe uma tendência de crescimento de jovens que não estudam não trabalham nem frequentam formação e que deverá continuar a aumentar, alcançando 273 milhões em 2021. A taxa de jovens NEET passou de 21,7% em 2015 para 22,4% em 2020, um ritmo que sinaliza que a meta de redução não será alcançada.

Não estão a ser criados suficientes postos de trabalho para estes jovens. Não podemos desaproveitar esse talento nem o investimento no ensino se queremos fazer face aos desafios que nos colocam a tecnologia, as alterações climáticas, as desigualdades” e a demografia, afirma, em comunicado, Sukti Dasgupta, diretora do serviço de políticas de emprego e de mercado de trabalho do departamento de política de emprego da OIT.

A taxa mundial de desemprego juvenil é de 13,6%, variando de forma considerável entre regiões, e os jovens têm três vezes mais probabilidades de estarem desempregados do que os adultos (com 25 anos ou mais).

Mesmo entre os 429 milhões de jovens que têm emprego em todo o mundo, cerca de 55 milhões (13%) vivem em condições de extrema pobreza, enquanto 71 milhões (17%) estão em situação de pobreza moderada.

ZAP // Lusa

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2 Comments

    • Carla, estou totalmente de acordo consigo. O “ensino” universitário já não tem nada a ver com os valores do pensamento livre, crítico e criativo que tinha. É mesmo só para formar gente que não pensa, mas as executa tarefas que lhes mandam fazer. Claro que felizmente (ainda) há (cada vez menos) excepções.

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