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A lição turca (onde se trabalha muito). Como se faz um mega-aeroporto em 42 meses

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O Governo português anunciou que a construção do novo Aeroporto de Alcochete pode demorar cerca de 10 anos. Da Turquia chega o exemplo do mega-aeroporto de Istambul que demorou cerca de 42 meses a entrar em funcionamento.

O novo aeroporto de Istambul começou a funcionar em 2018, embora de forma parcial, e tem recebido vários prémios internacionais. Em Março passado, voltou a ser eleito o “Aeroporto do Ano” depois de já ter sido escolhido como o Melhor Aeroporto da Europa.

Localizado à beira do Mar Negro e a 35 quilómetros de Istambul, foi inaugurado em Outubro de 2018 e tem, actualmente, capacidade para receber cerca de 90 milhões de passageiros por ano.

Mas a infraestrutura ainda está a ser expandida e entre 2027 e 2028, espera-se que tenha seis pistas e quatro terminais a funcionar e que alcance os 200 milhões de passageiros todos os anos.

Nessa altura, será maior do que a ilha de Manhattan, com um custo total de 12 mil milhões de euros e 250 mil empregos garantidos.

Como se constrói um mega-aeroporto?

A construção do aeroporto foi dividida em quatro fases. A primeira fase começou em Junho de 2014 e terminou em Outubro de 2018, quando começou a funcionar, mas ainda de forma parcial.

Foi um tempo recorde de apenas 42 meses quando as projecções costumam apontar precisamente para os 10 anos previstos pelo Governo português.

Este tempo recorde foi sinalizado por André Ventura, líder do Chega, no Parlamento português, com a nota de que os turcos “não são propriamente conhecidos por ser o povo mais trabalhador do mundo”.

Ora, se fosse preciso provas da produtividade dos trabalhadores turcos, o novo aeroporto está lá para a atestar. Mas, ainda assim, os números da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontam que os trabalhadores da Turquia estão entre os que mais trabalham no mundo.

“Em 2022 (o último ano para o qual há registos), trabalharam uma média semanal de quase 46 horas na sua ocupação principal”, aponta o Público. “Acima da Turquia, entre os países da OCDE, só surge a Colômbia (47,6 horas)” e “Portugal está em sétimo lugar, com 39,6 horas“, refere o mesmo diário.

Os turcos também estão entre os trabalhadores com melhor produtividade. O Produto Interno Bruto (PIB) gerado por cada trabalhador na Turquia era
“ligeiramente superior” a 83,7 mil euros em 2023, enquanto em Portugal não chega aos 64,8 mil euros, segundo o Público.

Do tamanho de 10 mil campos de futebol

Voltando ao novo aeroporto de Istambul, é o “maior projeto de infraestrutura da história da Turquia” e quando estiver concluído terá uma “área de 76,5 milhões de metros quadrados” – mais ou menos 10 mil campos de futebol.

Mas olhando só para a parte que já está a funcionar, o terminal principal tem uma área útil de 1,4 milhões de metros quadrados e é o maior do mundo debaixo da mesma cobertura.

Projectado por uma empresa londrina, a construção esteve a cargo de um consórcio (IGA) de cinco empreiteiros turcos líderes de mercado no país.

Realizar todas as obras ao mesmo tempo foi o maior desafio“, explicava o CEO do consórcio, Yusuf Akçayoğlu, em declarações ao site especializado Airport Technology em Fevereiro de 2018, alguns meses antes da abertura do aeroporto.

“Enquanto estávamos a lançar as bases da construção, fizemos movimentação de solo, projecto, fabricação e mobilização ao mesmo tempo”, explicava ainda, notando que “cada processo teve que ser feito muito rapidamente e em paralelo“.

“Outro desafio no início do projecto foi reunir uma equipa inteira em três meses“, sublinhou também.

Apesar dos desafios ultrapassados, e de todos os prémios recebidos, a obra esteve envolta em algumas polémicas, nomeadamente devido à morte de trabalhadores e a questões ambientais.

Torre de controle em forma de tulipa

Em termos de design, o aeroporto é elogiado pelo design revolucionário que é marcado pela inspiração no Império Otomano.

“A sala de trânsito do terminal principal tem o formato do Estreito do Bósforo“, aponta a Architectural Digest, notando que tem a “cobertura repleta de clarabóias, janelas do chão ao tecto, vasos de plantas, 55 mil metros quadrados de lojas Duty Free e áreas de recreação para crianças”.

E a torre de Controle de Tráfego Aéreo tem o formato de uma tulipa, o símbolo nacional da Turquia.

Em torno do aeroporto, nasceu uma verdadeira “aerotrópolis”, com hotéis, lojas, restaurantes, infraestrutruras culturais e sociais, escritórios, áreas residenciais, hospitais e escolas, com foco no design sustentável e em construções amigas do ambiente.

O projecto inclui a construção de estradas e ligações por metro e comboios de Alta Velocidade.

Susana Valente, ZAP //

11 Comments

  1. A lição turca, que tristeza, Portugal está mesmo decadente com jornalismo maluco e decadente…ganhem vergonha e sejam um pouco patriotas, seus covardes!

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    • É assim tão dificil “ouvir” as verdades? Como nós não temos capacidade para fazer tem que se abafar a notícia de que os outros conseguem!?!?

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  2. Nesses países são fáceis essas proezas!?
    Não têm impactos ambientais, não têm sinistralidade na construção civil, não têm horários de trabalho, etc., etc., etc.
    São só luxos!!!
    É verdade nem têm greves!!!

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  3. “É verdade não tem greves”

    Por aqui pelo burgo, tambem só existe na desfunçao publica. Vamos lá fazer greves no privado,… vamos.

  4. Demoramos 10 anos porque não é para fazer.

    Lisboa não aguenta 60/70/80 milhões de passageiros, e mesmo que aguente, é o que nos convém?

    Metam Beja a funcionar e Monte Real também. Há pessoas que querem vir a Portugal mas dispensam Lisboa.

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  5. A Alemanha, conhecida pela sua produtividade, quantos anos precisou para construir o novo aeroporto de Berlim? Ou a nova filarmónica em Hamburgo? Cada projecto de construção é diferente… Comparar com a Turquia? E quem garante que todos os requisitos de segurança estão implementados no aeroporto em caso de emergência? Lembram-se da polémica dos construtores turcos no último grande sismo na Turquia?

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  6. Os Chineses faziam isso num décimo do tempo. Pessoas focadas no trabalho. Os Portugueses estão mais é nas praias, nas esplanadas e no futebol querem lá saber de mais alguma coisa, viver para comer, exigir dinheiro e não fazer nada.

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