Cientistas descobriram duas espécies de lesmas-do-mar que conseguem fazer crescer o seu corpo novamente depois de cortarem a própria cabeça.
De acordo com a cadeia televisiva CNN, em causa estão as espécies Elysia cf. marginata e Elysia atroviridis, lesmas-do-mar que são capazes de fazer crescer novamente o seu corpo depois de se “autodecapitarem”.
Este comportamento é chamado de autotomia e consiste na capacidade de alguns animais de se libertarem de certas partes do corpo, podendo estas regenerar-se, ou não, depois de um determinado período de tempo.
Sayaka Mitoh, estudante de doutoramento do departamento de Biologia da Universidade das Mulheres de Nara, no Japão, e principal autora do estudo, observou que a investigação não foi capaz de determinar o porquê de estas lesmas-do-mar fazerem isto, mas destacou que alguns animais o fazem para remover parasitas internos que inibem a reprodução.
No primeiro caso, cinco dos 15 espécimes analisados pelos investigadores cortaram a sua cabeça cerca de 226 a 336 dias depois de terem nascido. Poucas horas depois, começaram a alimentar-se de algas e o seu coração começou a regenerar-se em sete dias. 20 dias depois, estas lesmas já tinham todo o corpo totalmente regenerado.
No caso da segunda espécie, três dos 82 espécimes observados também se autodecapitaram. Desses, apenas dois conseguiram regenerar os seus corpos no período de uma semana.
Porém, nem todas tiveram a mesma sorte. As lesmas-do-mar mais velhas – por exemplo as Elysia cf. marginata que nasceram 480 a 520 dias antes de terem cortado a sua cabeça – não se alimentaram e morreram em dez dias.
Embora pareça uma decisão disparatada, explicou Mitoh, cujo estudo foi publicado esta segunda-feira na revista científica Current Biology, a verdade é que “as mais velhas morreriam em breve de qualquer das formas” e por isso, ao tentarem esta opção, “existe a possibilidade de sobreviverem e regenerarem um corpo livre de parasitas”.
A investigadora não tem a certeza de como é que estas lesmas conseguem viver sem alguns dos seus órgãos vitais, mas destacou que “conseguem sobreviver sem o coração provavelmente porque as suas cabeças são pequenas” e podem absorver oxigénio através da superfície corporal.
Em declarações à estação norte-americana, Mitoh considera que é necessário avançar com mais pesquisas sobre este comportamento, não só com estas lesmas-do-mar como objeto de estudo, mas também com outros animais.
“Queremos perceber se outras espécies de sacoglassanos [clado a que pertencem estas duas lesmas] têm esta capacidade para depois estudar o padrão evolutivo e o processo de uma autotomia e uma regeneração tão extremas”, concluiu.