Passaram 11 dias, 44 infetados e quatro mortes desde que foi detetado o primeiro caso de legionella no Hospital São Francisco Xavier. Pneumologista fala em “surto estranho”.
O Diário de Notícias contactou o pneumologista Agostinho Fernandes que falou sobre os casos de legionella que têm aparecido pelo país e que já vitimaram mortalmente quatro pessoas. Com o Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, a admitir que o surto pode ainda provocar mais mortos, apesar de já se encontrar em decréscimo, Agostinho Fernandes considera este um “surto estranho”.
“Normalmente quando há fuga de água com legionella, aparece uma contaminação brusca e vão aparecendo casos ao longo do tempo, mas ao fim de dez dias deixam de aparecer. Isto faz pensar que o que quer que tenha causado o surto manteve-se a contaminar água com a bactéria”, aponta o especialista.
No entanto, Agostinho considera que o número de mortes, tendo em conta que o surto está a afetar maioritariamente população idosa e já com outras patologias associadas, está dentro do expectável. “O número de mortes por pneumonia nesta população com comorbilidades e com idade está mais ou menos dentro do esperado. São 10%. Morreriam mais se não houvesse cuidados intensivos”.
O diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar São João acredita que o aumento do número de pessoas internadas em cuidados intensivos poderá estar relacionado com “a gravidade da doença” ou mesmo com a “mediatização”.
“É uma questão de precaução. Quando o doente tem insuficiência respiratória, vai para os cuidados intensivos. É o procedimento normal quando há agravamento da situação e questões de risco”, diz o professor catedrático de medicina.
Dos 44 infetados, sete estão nos cuidados intensivos e todos tinham já problemas de saúde crónicos e a maioria mais de 70 anos.
Em curso estão agora as investigações à origem do surto. Adalberto Campos Fernandes lembrou, na sexta-feira, que “está a decorrer “um conjunto de inquéritos” e que “é fundamental perceber como é que equipamentos que têm contratos de manutenção, de vigilância, que estão subcontratados, podem, ao que tudo indica, ter libertado para a atmosfera estas bactérias”.
O Ministro garantiu, ainda, “agir com toda a firmeza e determinação sobre aquilo que for o apuramento factual das responsabilidades”.
Já Marcelo Rebelo de Sousa recordou que o ministro espera um relatório sobre as causas dentro de uma semana e frisou que “é muito importante, por uma questão de transparência num serviço público, saber se a causa se localizou nesse serviço público, qual foi a causa e, portanto, a que conclusões chega o inquérito administrativo antes da investigação do MP”.