As irmãs Mirabal são heroínas nacionais pelos seus esforços para derrubar o regime brutal de Rafael Trujillo, na República Dominicana. Correu-lhes mal (mas não suficientemente mal).
No dia 25 de novembro de 1960, um jipe caiu de uma montanha na República Dominicana, de uma altura de 46 metros. Parecia ter sido um acidente, apenas o mais recente de uma série de misteriosos acidentes de carro.
Mas seria suposto existirem tantos carros a cair de ribanceiras? Para o ditador do país, Rafael Trujillo, sim. Era este o método que utilizava para eliminar os seus opositores, conta a National Geographic.
Mas as mulheres que seguiam neste carro, que iam visitar os maridos à prisão, acabaram mesmo por se tornar, até hoje, heroínas da nação: tratava-se das irmãs Mirabal, conhecidas na República Dominicana por “Las Mariposas” (as borboletas, em português).
Foi o princípio do fim para Trujillo. Apenas seis meses mais tarde, teve um destino semelhante ao ser assassinado por um grupo de sete dissidentes que o intercetaram quando ia visitar a sua amante.
O assassinos das irmãs foram também detidos, condenados e presos — embora tenham acabado por fugir da prisão e nunca tenham cumprido as suas penas.
Mas quem são estas mulheres e como é que puseram fim à ditadura?
O comandante militar Rafael Trujillo foi eleito presidente numa eleição fraudulenta. O novo ditador da República Dominicana, conhecido como El Jéfe (“o Chefe”), tornou-se todo-poderoso, controlando todos os aspetos do governo e expurgando os seus rivais.
A mais velha das irmãs, com o curioso nome de Patria, tinha apenas 13 anos quando Trujillo instigou um massacre de cerca de 30.000 haitianos e dominicanos de ascendência haitiana, e as raparigas cresceram numa sociedade em que questionar publicamente o governo de Trujillo era perigoso e podia mesmo conduzir à morte.
Em 1949, as irmãs Mirabal, criadas no seio de uma família próspera em Ojo de Agua, participaram num evento social aparentemente destinado a apresentar a bela e solteira Minerva Mirabal a Trujillo.
O ditador era famoso por usar o seu poder político para pressionar as jovens a terem relações sexuais e, quando Minerva recusou os avanços de Trujillo, o ditador vingou-se rapidamente.
Começou “uma verdadeira calamidade para a família Mirabal, que foi subsequentemente assediada, presa e ostracizada pelos vizinhos”, conta a historiadora Nancy Robinson.
O regime interrompeu, então, a educação e as oportunidades profissionais das filhas, prendeu o pai e “reduziu a família à ruína financeira”.
Em resposta, Minerva, María Teresa e Patria começaram a fazer oposição política.
O seu trabalho ganhou uma nova urgência depois de um golpe de Estado falhado, a 14 de junho de 1959, ter levado o governo a reprimir os opositores. As irmãs Mirabal e os seus maridos ajudaram a organizar o Movimento 14 de junho, um esforço nacional de oposição, em memória dos dissidentes que tinham liderado o golpe.
Com o nome de código “las Mariposas”, as irmãs recolheram armas e mantimentos, distribuíram panfletos e organizaram células de resistência em todo o país. Quando as suas atividades foram descobertas, as irmãs foram presas, torturadas e perseguidas, acabando mesmo por ser assassinadas.
A oposição política matou as irmãs Mirabal, mas a filha de Minerva, Minou, escreveu que as três irmãs “possuíam uma extraordinária lucidez política e militar e estavam dispostas a dar a vida” pela sua causa.
Em 1981, um grupo de feministas começou a celebrar o dia da morte das irmãs como um feriado em homenagem a todas as vítimas de feminicídio e, em 1999, as Nações Unidas seguiram o exemplo. O dia 25 de novembro é agora o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
As irmãs Mirabal tornaram-se ícones nacionais.
Alguns dos seus filhos chegaram a servir no governo dominicano e “as Borboletas” tornaram-se um símbolo nacional de bravura e resistência. Os seus rostos surgem na moeda dominicana e as suas vidas também inspiraram um romance popular, In the Time of the Butterflies, de Julia Alvarez, de 1994.