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Larry tornou-se um dos cientistas mais influentes do mundo (só que é um gato)

Reese Richardson com o seu gato Larry

Reese Richardson com o seu gato Larry que se tornou num dos cientistas mais influentes do mundo numa brincadeira com um propósito maior.

O gato Larry conseguiu tornar-se no felino “cientista” mais influente do mundo graças a um esquema de manipulação de artigos científicos que aparecem em bases de dados académicas.

Para começar a contar esta história é preciso recuar a 1975. Nessa altura, o físico Jack H. Hetherington queria publicar os resultados de uma investigação individual na revista científica Physical Review Letters. Só que, por engano, escreveu o artigo científico no plural, usando as fórmas “nós” e “o nosso”.

Como seria demasiado trabalhoso alterar tudo para a forma individual “eu”, resolveu acrescentar o nome do seu gato siamês como o autor “F. D. C. Willard” – a forma abreviada de Felis Domesticus Chester Willard.

F. D. C. Willard acabou por acumular 109 citações em artigos científicos, como conta o bioquímico David Marçal num ensaio no jornal Público.

Além da referida pesquisa de Hetherington, o gato assinou “mais três trabalhos, incluindo um como autor único na revista francesa de divulgação científica La Recherche, em 1980”, aponta Marçal.

Gato Larry conseguiu 132 citações científicas

Este preâmbulo serve para notar que o gato Larry conseguiu bater o recorde de F. D. C. Willard, acumulando, em Julho de 2024, 132 citações no Google Scholar, uma base de dados de artigos académicos.

O gato, cuja assinatura “científica” é “L. Richardson”, tornou-se, assim, no “intelectual felino mais influente do mundo“, como conta o seu dono, Reese Richardson, um aluno de doutoramento da Northwestern University, no Illinois (EUA).

Na verdade, a “brincadeira” de Reese Richardson pretendia mostrar o esquema que existe com o aproveitamento do sistema de indexação automática de artigos no Google Scholar, que também beneficia da “cegueira” do algoritmo do Google.

“Há uma indústria de falsificação de citações”

David Marçal reforça as conclusões da “brincadeira” de Reese, notando no Público que há uma verdadeira “indústria de falsificação de citações, verdadeiras “fábricas de artigos” que se oferecem para aumentar as citações de um investigador desde que este pague”.

“Os vigaristas criam falsos artigos científicos, com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT” e “incluem citações para os artigos científicos verdadeiros do cliente”, publicando-os no repositório de artigos “ResearchGate”, nota o bioquímico.

Para os publicar só precisam de ter um endereço de email de uma instituição académica – e até esses emails podem ser comprados.

Depois, o algoritmo da Google indexa estes artigos falsos, o que ajuda a dar visibilidade aos autores dos mesmos.

“Google Scholar é manipulável”

Foi o próprio Reese Richardson quem divulgou a pequena experiência que fez com Larry no seu blogue e o Google já retirou as citações do gato.

O aluno de doutoramento nota que o objectivo era conseguir “144 citações”. Mas, apesar de ter ficado aquém desse número, os seus “esforços” – “cerca de uma hora de trabalho não automatizado” – permitiram demonstrar que “o Google Scholar é manipulável“, o que se torna um problema quando é utilizado “rotineiramente para avaliar os cientistas”, como salienta.

Assim, Reese Richardson propõe o abandono das “heurísticas quantitativas, como a contagem de citações”, e desafia plataformas como o Google Scholar e o ResearchGate, entre outros, a “deixarem de fornecer estas métricas aos utilizadores“.

E se quiserem continuar a mantê-las, devem, “pelo menos, tornar a manipulação dos seus produtos um pouco mais difícil“, conclui Reese Richardson.

Susana Valente, ZAP //

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