É “perigoso” sair à rua em Kiev. Por causa dos russos e por causa dos ucranianos

ZAP

Pavel, residente em Kiev, ouve explosões constantemente, não sai de casa e não sabe até quando os ucranianos vão resistir.

“Ouço explosões a cada hora”. O relato é de Pavel, ucraniano que mora em Kiev, que concedeu uma entrevista à rádio Observador.

Pavel contou que há explosões “deliberadas” em zonas residenciais, todas as noites, às quais muitos idosos não conseguem escapar, ficam em casa e são atingidos pelos bombardeamentos.

“Os russos atacam sobretudo de noite, propositadamente, para apanharem as pessoas a dormir. Assim matam mais pessoas. Todas as noites há ataques do exército russo, muitas crianças são assassinadas, muitos idosos são assassinados e muitas grávidas são assassinadas”, descreveu.

O ucraniano comentou que a televisão russa mostra todos os dias que os ucranianos estão “felizes” porque os russos chegaram para libertar a Ucrânia. “Mas isso é um disparate. Eles matam crianças e idosos deliberadamente. Querem aumentar a mortalidade para nós pararmos de resistir. Mas nós odiamos os russos”, reforçou.

Desde o final da semana passada que, na capital da Ucrânia (e noutras cidades), é proibido sair de casa a partir das 22 horas. Mas a maior parte das pessoas fica em casa mesmo durante o dia, disse Pavel, que à hora da entrevista não via nem uma pessoa nas ruas.

A maioria das lojas e dos supermercados está fechada, incluindo locais para vender medicamentos ou outros produtos de assistência médica.

“Estamos assustados, a vida está mais difícil. É impossível sair de Kiev; moro do lado esquerdo do rio e a estação de comboios fica do outro lado do rio. Agora vou ficar aqui”, lamentou.

Pavel tem noção de que pode sair de casa, mas também tem noção do perigo que isso representa. Por causa dos ataques russos e por causa dos ladrões ucranianos: “Posso sair mas é perigoso. Não sei o que acontece nas ruas. Há pessoas a roubar nas lojas. Há medo dos bandidos que andam pelas ruas, às vezes durante a noite há ucranianos a fazer pilhagens nas lojas”.

Para já, tem comida para “três ou quatro dias”, enquanto os russos tentam cortar a energia em bairros da cidade.

O ucraniano não acredita num desfecho positivo, na segunda ronda das negociações entre responsáveis russos e ucranianos.

Considera que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky “faz de tudo” para proteger os ucranianos, ficando em Kiev. Já o presidente russo Vladimir Putin “vai jogar os jogos dele. Acho que a Rússia não quer travar esta loucura. O nosso presidente quer, os russos não. A Rússia não quer acordo; quer ocupar a Ucrânia“, completou.

A Ucrânia tem resistido à invasão, provavelmente até surpreendido os militares russos, mas é preciso auxílio: “Resistimos mas precisamos de ajuda da Europa. Nós lutamos mas a guerra é muito dura, precisamos de ajuda”.

E os ucranianos vão resistir durante quanto tempo? “Não tenho ideia nenhuma”, respondeu Pavel.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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