Começou, nesta terça-feira, o julgamento do caso da morte da cantora Sara Carreira, no tribunal de Santarém. O cantor e actor Ivo Lucas e a fadista Cristina Branco são dois dos três acusados de homicídio por negligência.
Após a abertura da instrução, o juiz de instrução criminal do Tribunal de Santarém decidiu levar a julgamento os quatro envolvidos no acidente que matou a cantora Sara Carreira no dia 5 de Dezembro de 2020, na Autoestrada 1 (A1), junto a Santarém.
A decisão instrutória manteve a acusação da prática de um crime de homicídio por negligência, passível de pena de prisão até três anos, contra Cristina Branco, e agravou a acusação imputada a Ivo Lucas para homicídio negligente na forma grosseira, passível de pena de prisão até cinco anos.
O mesmo crime foi imputado a Paulo Neves que conduzia a uma velocidade abaixo do permitido por lei em autoestrada (entre 28 e 32 quilómetros/hora), sem qualquer sinalização de perigo. Além disso, apresentava uma taxa de alcoolemia de 1,18 graus/litro quatro horas depois do acidente. Essa conduta aumentou o risco de colisão e contribuiu para a cadeia de acidentes que se sucederam, alega a acusação.
O quarto arguido, Tiago Pacheco, que conduzia o veículo que embate naquele onde seguia Sara Carreira, está acusado de condução perigosa de veículo.
Segundo o tribunal, a conduta de Paulo Neves e de Cristina Branco, ao não conseguir evitar o embate, foi causa directa para o embate do carro de Tiago Pacheco contra aquele onde seguia Sara Carreira e que era conduzido por Ivo Lucas.
Quanto ao cantor que era namorada da filha de Tony Carreira, é acusado de manter uma condução descuidada, ao circular acima do limite máximo permitido por lei e na faixa central da autoestrada.
“Lapso temporal” e “carro a sobrevoar as cabeças”
A fadista Cristina Branco já prestou declarações em tribunal, garantindo que ligou os quatro piscas após o acidente e que manteve sempre os limites de velocidade permitidos por lei.
“Eu queria levar a minha filha em segurança”, disse ainda, assumindo que tem um “um lapso temporal” quanto ao que aconteceu a meio da viagem. “O embate dá-se muito perto do pórtico de Santarém, o que eu me recordo, lembro-me de entrar na portagem e só me lembro depois do embate”, referiu.
Na leitura da acusação, a juíza titular do caso apontou que a fadista circulava entre os 114 e os 120 km/hora e que “não circulava com atenção, não reduziu a velocidade, nem se desviou do carro de Paulo Neves”.
Logo depois do embate, Cristina Branco notou que saiu do carro para ir buscar a filha e o telemóvel, para telefonar para o 112. E foi a sua filha que viu o despiste do carro onde seguia Sara Carreira, contou ainda.
“A minha filha começa a gritar e eu olho e vejo um carro a sobrevoar as nossas cabeças“, relatou.
Neste momento, Tony Carreira emocionou-se e levou as mãos à cabeça.
A mãe de Sara Carreira, Fernanda Antunes, também chorou quando ouviu o arguido Paulo Neves a explicar o que aconteceu.
“Eu estava plenamente consciente do que estava a fazer. Estava plenamente consciente da minha condução“, assegurou Paulo Neves, embora conduzisse alcoolizado.
O arguido diz também que ia “devagar” porque “era uma noite escura com nevoeiro“, assumindo que bebeu “vinho” e comeu “queijo” com colegas antes de ir para a estrada.
Sara Carreira morreu a 5 de Dezembro de 2020 depois de um acidente envolvendo três veículos na A1.
O carro de Cristina Branco embateu, cerca das 18h30, no veículo de Paulo Neves, que circulava na faixa da direita a entre 28,04 e 32,28 quilómetros/hora, velocidade inferior à mínima permitida por lei (50 Km/h), e depois de ter ingerido bebidas alcoólicas.
A viatura de Cristina Branco embateu, de seguida, na guarda lateral direita, rodando e imobilizando-se na faixa central da A1.
Cerca das 18h49, Ivo Lucas circulava pela faixa central a entre 131,18 e 139,01 Km/h, velocidade superior à máxima permitida por lei (120 Km/h), não tendo conseguido desviar-se do carro da fadista, no qual embateu com o lado esquerdo, seguindo desgovernado para o separador central e capotando por várias vezes até se imobilizar na faixa da esquerda, quase na perpendicular, com parte a ocupar a faixa central.
Pelas 18h51, Tiago Pacheco seguia pela via central a entre 146,35 e 155,08 km/h, não conseguindo desviar-se da viatura de Ivo Lucas (que ocupava parcialmente aquela faixa).
ZAP // Lusa