/

Só comeu tomate (ou coisas com muito ketchup) durante 12 anos. E não era birra

3

Durante 12 anos, um adolescente britânico comeu apenas tomate ou comida com sabor a tomate. Ficava doente só de olhar para outro tipo de vegetal e a culpa não era do excesso de mimos ou de uma qualquer birra infantil, mas de um síndrome raro.

Liam Pierce, de 14 anos, não conseguia comer mais nada, além de tomates ou de comida com sabor a tomate, desde que aos dois anos de idade se engasgou com uma ervilha, relata o jornal inglês Daily Mail.

Esse trauma da infância levou o jovem de Gloucester, no Reino Unido, a tornar-se “viciado” em tomates ou em produtos à base de tomate e passou a consumir mais de três frascos de Ketchup por semana.

“A minha sensação, quando pensava em comer outros alimentos, era a mesma de uma pessoa com aracnofobia ao ver uma aranha. Era como sair da minha zona de conforto”, conta Liam Pierce em entrevista à BBC.

“Era dependente daquilo, se comia alguma coisa, tinha que ser com ketchup”, refere o jovem ao Daily Mail, contando que não podia sequer olhar para um qualquer vegetal que não o tomate sem ter vontade de vomitar.

E tudo isto não era apenas um capricho. Liam Pierce sofre de um distúrbio psiquiátrico que está, finalmente, a ultrapassar graças a sessões de hipnose.

O que é a Síndrome da Alimentação Selectiva?

O jovem britânico sofre de Síndrome da Alimentação Selectiva (também conhecido como SED ou ARFID, na sigla em inglês), uma doença rara e pouco conhecida.

Trata-se, de acordo com especialistas, de uma “neofobia alimentar” (aversão a alimentos novos) que afecta principalmente as crianças e que pode estender-se até à adolescência.

Não é simplesmente ser “exigente” com os alimentos (a maioria das crianças são) e quanto mais tempo persiste, maior é a rejeição a certos alimentos.

A principal consequência é a deficiência nutricional, o que pode prejudicar o desenvolvimento intelectual, o crescimento, as defesas e o desempenho académico, disse à BBC Jesus Roman, presidente da Sociedade Espanhola de Dietética e Ciência dos Alimentos (SEDCA).

“A SED significa que não se têm mais de 15 sabores (registados). É muito difícil explicar, porque muitas pessoas não conhecem esse transtorno”, explica Liam Pierce na BBC.

O caso deste jovem não é único e um exemplo semelhante foi o da adolescente britânica Jennifer Radigan, que só comia batatas fritas e queijo e que apareceu na imprensa em 2015.

“Isto afecta-me todos os dias. Não importa o quanto se quer comer outra coisa. Eu não posso”, queixou-se, na altura, a jovem.

Uma criança “mimada”

Liam diz que quando leu nos média sobre outros casos percebeu que poderia sofrer da mesma coisa e começou a pesquisar sobre o tema.

“Os médicos disseram-me que eu era simplesmente uma criança mimada. Mas não é assim. É uma doença real. E é difícil explicar porque muitas pessoas não entendem”, refere Liam.

A sua mãe, Helen, também enfrentou problemas.

“Eu não conseguia entender porque é que o meu filho não queria provar algo novo. Foi traumático para ele e para mim”, nota Helen à BBC. “Não era uma criança mimada. Era uma resposta fóbica“, acrescenta.

Muitas crianças têm caprichos com a comida, mas apenas 1% desenvolve a Síndrome da Alimentação Selectiva na idade adulta.

Alguns estudos norte-americanos encontraram milhares de casos que respondem aos critérios deste distúrbio alimentar.

De acordo com o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido, cerca de 12% das crianças de três anos de idade sofrem de forma persistente deste distúrbio e são extremamente exigentes com a comida, mas menos de 1% o desenvolve na idade adulta.

De acordo com a Revista Britânica de Psicologia Infantil Clínica e Psiquiátrica, a Síndrome da Alimentação Selectiva é “um fenómeno muito pouco estudado que pode resultar em isolamento social, ansiedade e conflito.”

Por sorte, a história de Liam tem um final feliz. Há duas semanas, ele começou a incluir novos alimentos na sua dieta. E a mudança, diz ele, deve-se à hipnose.

“Nas últimas semanas, tentei mais de 50 coisas novas”, conta orgulhoso Liam.

“É libertador saber que venceu o distúrbio e ver que está interessado na comida, em provar novos alimentos. Mudou a nossa vida”, diz a sua mãe.

ZAP / BBC

3 Comments

  1. Não é… mas tem o mesmo sabor do tomate…dai que a pessoa em questão só consiga comer tomate e ketchup… não por ser o mesmo que comer tomate… mas por ter o mesmo sabor 🙂

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.