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Jorge Jesus acusa Bruno de Carvalho de mentir em tribunal

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Mário Cruz / Lusa

Jorge Jesus, atual treinador do Al Hilal da Arábia Saudita, revelou novos dados sobre o ataque à Academia de Alcochete, acusando Bruno de Carvalho, então presidente do Sporting, de mentir em tribunal.

Em entrevista ao Correio da Manhã, no Dubai, o antigo técnico dos leões rejeitou ser o responsável pela alteração da hora do treino no dia das agressões, reiterando que foi Bruno de Carvalho que insistiu na alteração.

“Não, quem mudou foi ele [Bruno de Carvalho]. Agora não sei se foi com a intenção de alguma coisa. Só vou falar deste pormenor porque o resto está em segredo de justiça. Falo disto porque tenho testemunhas. A minha equipa técnica estava comigo na reunião em Alvalade [véspera do ataque a Alcochete] em que eu ia ser despedido ou suspenso. Estavam comigo Mário Monteiro, Márcio Sampaio, Raul José e Miguel Quaresma”, disse.

De acordo com Jesus, o treino estaria marcado para as 10 da manhã do dia seguinte, mas Bruno de Carvalho terá mudado a hora devido a procedimentos legais relacionados com o despedimento do treinador.

“Houve uma altura na conversa em que eu digo que o treino do dia seguinte era às 10 da manhã, mas o Bruno de Carvalho disse que não, porque não tinha tempo de fazer a minha nota de culpa junto dos advogados e, portanto, eu teria de alterar o treino de manhã para a tarde”, explicou.

“Bruno de Carvalho disse que os advogados teriam de fazer a nota de culpa e, se eu recebesse até ao meio-dia, então tratava-se de um inquérito e eu seria despedido. Caso contrário, eu continuaria a treinar. Não recebi a nota de culpa”, revelou o técnico.

Questionado sobre se Bruno de Carvalho mentiu, Jorge Jesus foi perentório: “Sim, claramente. Bruno de Carvalho mentiu em tribunal, o treino foi alterado das dez da manhã para as quatro da tarde, porque [o Bruno] disse que precisava de tempo para que fosse criada a nota de culpa para suspender a equipa técnica”.

Quanto à detenção do antigo presidente dos leões, Jorge Jesus, disse ter ficado surpreendido. “Não estava à espera”, disse. “Agora todos vão ter de se justificar e defender. Vivemos num país democrático, com leis, às vezes, brandas demais”.

Ainda sobre o assunto, Jesus deu, a título de exemplo, o caso em que o autocarro do Borussia Dortmund foi atacado com explosivos antes do jogo com o Mónaco para a Liga dos Campeões, relembrando que a pena para o acusado foi de 14 anos de prisão. Contudo, o técnico considera que o que se passou em Alcochete foi diferente.

Jesus disse que lhe custou ver as imagens do incidente, afirmando que Bruno não está lá. “Claro que fui não agredido na cara com um cinto. Foi no corpo a agressão”, atirou Jesus reagindo às declarações de Bruno nas quais o antigo presidente afirma que o treinador “levou uma vergastada muito levezinha“, uma vez que não viu marcas da agressão.

“Nem estava lá, nem sabe o que se passou. Fui agredido outra vez e estava lá muita gente, incluindo jogadores que viram. O Petrovic viu e o William também viu essa agressão. Eu virei-me a alguns adeptos e disse que aquilo em Alcochete era uma traição ao Sporting. Logo a seguir levei um soco que me fez cair. [O Bruno] nem sequer lá estava”, frisou.

O técnico português disse ainda ter-se sentido indefeso, afirmando tudo ter feito para para defender o Sporting e, principalmente, os seus jogadores. ”

“Eu não tive medo de nada. O meu ADN é assim, desde infância. Nem pensei se me iam dar com tacos de basebol, barras de aço e cintos. Foi um momento difícil. Eu e os meus jogadores ficámos chocados com aquilo que os nossos adeptos criaram. Nunca tive medo, mas fiquei surpreendido como é que eles tinham entrado com tanta facilidade na Academia de Alcochete”, considerou.

Jesus relembrou que o processo continua em segredo de justiça e que srá ouvido assim que voltar a Portugal.

Regresso a Portugal é “inevitável”

O treinador falou ainda, durante a a entrevista ao diário, sobre um eventual regresso aos comandos técnicos do Benfica, que deixou para assinar com o Sporting há duas épocas.

Jorge Jesus disse não ter sido contactado pelo Benfica na sequência da alegada saída iminente do atual treinador, Rui Vitória, considerando que “Vieira fez bem em segurar Vitória”. “Não, não fui contactado. O Benfica tem um treinador e tem um presidente que eu conheço melhor do que ninguém. Trabalhei com ele seis anos. Pensa pela sua cabeça. Quando todos não querem, ele quer”, explicou.

Para Jesus, o regresso a Portugal é inevitável, podendo ou não passar pelo clube da Luz. “O meu regresso a Portugal é inevitável. Só não sei se ao Benfica”, disse.

Questionado pelo matutino se regressaria à Luz caso tivesse uma superequipa à disposição, respondeu: “As superequipas são os treinadores e as estruturas que as fazem. Não quero falar mais do Benfica, que tem um bom treinador e um grande presidente. Agora o que é verdade é que os resultados são o limite”

“Se Luís Filipe Vieira lhe ligasse agora ia para o Benfica?”, interrogou ainda o diário. Jesus rejeitou esse cenário: “Não. Estou num projeto em que quero ficar. Vou voltar a Portugal, não sei é quando, nem como, nem qual o clube”, esclareceu.

Importante é voltar para um clube que me quer, tenho de sentir que as pessoas me querem. Não me devem qualificar por ter mudado do Belenenses para o Sporting de Braga ou do Benfica para o Sporting. Isso é uma injustiça. Qualifiquem-me se eu sou bom ou mau treinador”, considerou.

ZAP //

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