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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumprimenta o Rei Abdullah II da Jordânia
O rei da Jordânia Abdullah II apresentou-se, esta terça-feira, em Washington com uma estratégia humanitária específica. Diz-se disposto a receber 2.000 crianças doentes de Gaza. No entanto, opôs-se ao plano de Donald Trump para o enclave.
Abdullah II declarou-se pronto para receber 2.000 crianças gravemente doentes de Gaza.
“É um gesto bonito”, aprovou Trump, sentado ao lado do seu convidado, na Sala Oval da Casa Branca.
Mas Trump vai mais além do que isso. Quer que a Jordânia e o Egito acolham a população de Gaza; enquanto esvazia o território para o transformar numa vasta zona de desenvolvimento imobiliário sob o controlo dos Estados Unidos.
Esta ideia de Trump desencadeou uma onda de indignação internacional.
Trump chegou a mencionar a suspensão da ajuda dos EUA à Jordânia caso esta não acolhesse os palestinianos deslocados. Mas, perante o rei adotou um tom mais conciliador, afirmando que não era necessário “ameaçar” o país: “Penso que já ultrapassámos essa fase”.
Jordânia numa posição sensível
Esta questão do acolhimento dos palestinianos é particularmente importante para a Jordânia: metade dos seus 11 milhões de habitantes são de origem palestiniana e, desde a criação do Estado de Israel, em 1948, muitos palestinianos procuraram refúgio neste país vizinho.
Em 1970, eclodiu um conflito – designado como “Setembro Negro” – entre o Exército jordano e grupos palestinianos liderados pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que culminou com a expulsão desses grupos do reino haxemita.
Além disso, a Jordânia está bem ciente da pressão económica que Donald Trump poderá exercer sobre o país.
Todos os anos, Amã recebe cerca de 750 milhões de dólares (725 milhões de euros) de ajuda económica de Washington e mais 350 milhões de dólares (338 milhões de euros) de ajuda militar.
Cessar-fogo em Gaza está fragilizado
A reunião entre Trump e Abdullah II decorreu numa altura em que o cessar-fogo em Gaza está fragilizado, depois de Trump ter exigido que o movimento islamita palestiniano Hamas liberte os reféns israelitas, o mais tardar ao meio dia de sábado, sob pena de ali se desencadear “um verdadeiro inferno” se não o fizer.
“Acho que não vão cumprir o prazo”, disse Trump sobre o Hamas.
Após mais de 15 meses de guerra em Gaza, entrou em vigor, a 19 de janeiro, um acordo de cessar-fogo negociado por mediadores internacionais – Qatar, Estados Unidos e Egito -, que prevê o fim das hostilidades, a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinianos e o aumento da ajuda humanitária a Gaza.
Egito tem um plano para Gaza
No final desta semana, será a vez de o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, visitar a Casa Branca, depois de sucessivos apelos para que Gaza seja reconstruida “sem deslocar os palestinianos”.
Já esta quarta-feira, o Egito anunciou que tem um plano sobre o futuro de Gaza que garante a reconstrução do enclave sem a deslocação da população contrariando a exigência de Trump de expulsar os habitantes.
“O Egito afirma a intenção de apresentar uma visão abrangente para a reconstrução da Faixa de Gaza, de uma forma que garanta a sobrevivência dos palestinianos na terra a que pertencem e em sintonia com os direitos legítimos e legais deste povo”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio num comunicado citado pela agência de notícias espanhola EFE.
A Faixa de Gaza é habitada por cerca de dois milhões de pessoas.
Deslocação de palestinianos é “inaceitável”
Para os Estados da região, a solução apresentada por Trump significa o fim da causa palestiniana e pode perturbar a segurança e a paz no Médio Oriente.
A limpeza étnica, entendida como a expulsão forçada de um grupo étnico de um território, constitui um crime contra a humanidade e pode ser considerada um crime de genocídio, de acordo com as Nações Unidas.
A Liga Árabe, composta por 22 Estados, rejeitou categoricamente o plano de Trump, insistindo na necessidade de implementar a solução “dois Estados”, que estipula a criação de um Estado palestiniano ao lado do Estado israelita em Gaza e na Cisjordânia ocupada.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, considerou “inaceitável para o mundo árabe” deslocar palestinianos do seu território para outros países.
“O Egito sublinha que qualquer visão para resolver a causa palestiniana deve evitar pôr em risco as conquistas da paz e deve abordar as raízes e as razões do conflito, pondo fim à ocupação israelita dos territórios palestinianos e implementando a solução ‘dois Estados’ como a única via para a estabilidade e a coexistência entre os povos da região”, sublinha a diplomacia egípcia.
O governo do Cairo, que procura uma posição árabe unificada em relação ao plano de Donald Trump, convocou uma cimeira extraordinária dos membros da Liga Árabe para o dia 27 de fevereiro e, na terça-feira, anunciou que vai acolher uma reunião ministerial dos 57 países da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) com o mesmo objetivo.
ZAP // Lusa
Guerra no Médio Oriente
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12 Fevereiro, 2025 Jordânia opõe-se a Trump, mas está numa posição sensível. Egito tem um plano para Gaza