Jesus não fala com Conceição por uma “parvoíce”. E faltou-lhe a “coragem” de Amorim

Um regresso ao Benfica que falhou, um “episódio parvo” e fatal com Conceição e o “sonho de uma vida” para o qual faltou a “coragem” de Rúben Amorim — e que fica “no segredo dos deuses. As revelações inéditas de Jorge Jesus.

É, depois de Ronaldo, a grande estrela do momento na Arábia Saudita, e entre muitas revelações inéditas, Jorge Jesus admitiu que saiu do Al Hilal para voltar ao Benfica a convite de Luís Filipe Vieira, em entrevista ao Canal 11 esta segunda-feira.

“Da primeira vez que saí do Al Hilal, foi para ir para um clube, mas não aconteceu. Que clube? Era o Benfica“, admitiu o ex-técnico dos encarnados.

“O presidente Luís Filipe Vieira queria-me, mas não deu e depois tive de ir para o Brasil. E ainda bem que assim aconteceu, porque foi um ano espetacular. O Flamengo foi o maior clube que eu treinei, nisso não há hipóteses”, garantiu o técnico de 70 anos, que também falou sobre a ida para o Sporting: foi influência do pai.

“Não quero repetir aquilo que fiz quando saí do Benfica para o Sporting, nunca mais vou fazer a mesma coisa. A questão sentimental do meu pai teve influência na decisão de treinar o Sporting”, esclareceu.

“O meu pai, sportinguista, jogador do Sporting, fazia-me várias perguntas nos últimos anos da vida dele. ‘Porque é que eu não treino o Sporting?’ Bem, porque não me convidam. E no dia em que me convidaram eu aceitei por ele, não chegou a ver-me treinar o Sporting, porque morreu antes, mas foi por ele que o fiz”, explicou Jesus.

O “episódio parvo” com Sérgio Conceição

Apesar de uma relação “quase familiar” com o ex-FC Porto, um “episódio parvo” estragou tudo até hoje, e Jesus tem pena que tal tenha acontecido.

“Eu tinha uma relação quase familiar com o Sérgio Conceição, mas tivemos um episódio parvo, que acontece entre treinadores sobretudo no fim do jogo, e nunca mais reatámos a relação. Hoje vejo as coisas de forma diferente e tenho pena. A vida hoje não dá para as pessoas se chatearem. O Sérgio Conceição tem 50 anos e leva as coisas de uma forma muito intensa, como eu levava com a idade dele. Eu já tenho uma idade diferente e olho para as coisas de forma diferente”, desabafou o técnico.

A “coragem” de Amorim e o sonho que fica em segredo

Ao contrário de si, que recusou o “sonho da sua vida” — que “fica no segredo dos deuses” — Amorim teve a coragem de sair e assumir um desafio em palcos maiores.

“Eu percebo-o perfeitamente, porque eu este ano tive a possibilidade de cumprir o sonho da minha vida e não tive coragem de ir embora. Ele teve essa coragem. Porque não tive coragem? Porque sou muito bem tratado aqui na Arábia Saudita, porque eu trouxe os jogadores e não os podia abandonar. Que sonho era esse? Não posso revelar, fica só para mim. Se era um clube ou seleção? Não posso dizer. Tem de ficar no segredo dos deuses”.

Jorge Jesus acredita também que o ex-leão “vai demorar a implementar as ideias dele” no Manchester United.

“Em Inglaterra há muitas equipas a jogar em 3x4x3 ou 3x5x2, mas é difícil. No Sporting foi mais fácil, porque pôde escolher os jogadores para este sistema. No United está a tentar fazer isso com jogadores que não foram escolhidos por ele”, admite, “mas ele vai conseguir. Eu gosto dele, foi o jogador que mais anos esteve comigo“, explicou: “tem outro ‘pedigree’. Foi para um clube, não digo top, mas próximo disso.”

Ainda no tema Sporting, falou sobre Frederico Varandas: “está a fazer um trabalho espetacular”.

“Há uma franja de adeptos, sendo a minoria, que conseguem controlar a maioria. O Sporting, o FC Porto e o Benfica vivem com esse drama. O Sporting acabou, o Varandas foi corajoso e está a fazer um trabalho espetacular. Essa minoria consegue desestabilizar, o Vítor Bruno sofreu como sofrem todos”, disse.

Liga portuguesa e saudita? “Nem é possível” comparar

Entre a Liga saudita e a portuguesa, Jesus diz que “nem há conversa” e que “nem é possível” comparar.

“Basta ver os melhores jogadores do Al Hilal, do Al Nassr, do Al Ittihad e ver o que há em Portugal”, disse, acrescentando que os três grandes portugueses perderam qualidade nos últimos anos e teriam dificuldades no futebol árabe.

Do Benfica atual, por exemplo, “só o Di María” é que jogava na sua equipa.

“Eles conheciam o Ronaldo, não Portugal”, recorda: “é o orgulho dos portugueses, não o valorizam muito, para a imagem que traz”.

Jesus destaca, entre todos, a “surpresa” sueca Gyokeres: “joga em qualquer parte do mundo”.

“Como não consegui que Neymar desse certo?”

Admitindo que não teve “sorte nenhuma” com o brasileiro — que fez apenas sete jogos, um golo e duas assistências ao seu serviço no Al-Hilal, devido a uma lesão que o afastou dos relvados durante um ano — Jorge Jesus admitiu que “as coisas não ligaram” e que se sente “frustrado” com isso.

“Às vezes, a falar sozinho frustrado até penso: ‘como é que não consegui que este jogador, que é um super craque, ter dado certo?’, mas pronto, foram coisas que aconteceram”, disse: “foi o melhor com quem trabalhei”.

Tomás Guimarães, ZAP //

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