Jerónimo critica “vacinação a conta-gotas” e submissão a grandes laboratórios

José Sena Goulão / Lusa

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa

O líder comunista condenou, este domingo, aquilo que considera uma “vacinação a conta-gotas” e a submissão de Portugal e da União Europeia (UE) às “grandes farmacêuticas americanas e europeias”.

Jerónimo de Sousa discursava na sessão pública de homenagem ao mítico nadador e militante comunista Baptista Pereira, por ocasião do centenário do nascimento do atleta, falecido em 1984, aos 63 anos, no cais de Alhandra, à beira do rio Tejo.

“Somos ligeiros a confinar e pouco ágeis a obter e comprar as vacinas necessárias. Desconfinamos a conta-gotas porque estamos a fazer uma vacinação a conta-gotas. Nem a UE nem o Governo estão dispostos a comprar vacinas fora dos fornecimentos dos laboratórios das grandes farmacêuticas americanas e europeias, nem a fazer pressão para se libertarem patentes e licenças, como recomendou a OMS”, afirmou.

O secretário-geral do PCP lembrou que a sua bancada parlamentar tem um projeto de resolução cuja discussão está agendada para 8 de abril no Parlamento, a fim de acelerar o processo de vacinação dos cidadãos portugueses.

“Esperamos que, nesta matéria, seja colocada em primeiro lugar a vida dos portugueses e não qualquer outro interesse”, desejou, reiterando a necessidade de aquisição de vacinas além das adquiridas via instâncias europeias e que já foram aprovadas pela OMS e outras entidades.

No sábado, o líder comunista já tinha defendido que “o confinamento é a exceção e não a solução”, alertando para os perigos sociais de prolongar os estados de emergência.

“O confinamento é a exceção, não pode ser a solução”, disse à margem de uma iniciativa do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), que decorreu na Praça dos Restauradores, em Lisboa, no dia seguinte ao Presidente da República ter admitido um prolongamento do estado de emergência a partir de 1 de abril.

Questionado sobre essa possibilidade, Jerónimo disse: “Essa posição é a mais cómoda, que é dizer que é preciso continuar o estado de emergência; as questões epidemiológicas são fundamentais, mas não pode haver uma contradição insanável entre as medidas de proteção e de exceção e a proteção da saúde, há que simultaneamente preparar o país para o desenvolvimento económico e pôr tantas coisas a mexer, neste quadro temos de conseguir apoios sociais que podem determinar o quotidiano de milhões de portugueses, e particularmente as mulheres, que se veem atingidas nos seus direitos”.

Marcelo Rebelo de Sousa indicou na sexta-feira que “é muito provável” a renovação do atual estado de emergência a partir de 1 de abril, de forma a cobrir o período da Páscoa.

A sucessão de estados de emergência, argumentou Jerónimo de Sousa, “por si só, de facto, não responde às necessidades reais”, pelo que é preciso garantir que mesmo neste estado de exceção “sejam respeitados os direitos, os horários, os salários, e se o Presidente da República acha que é preciso continuar com este estado de emergência, nós consideramos que há que continuar com as medidas de proteção social, mas responder na dimensão social e económica que permita ao país voltar à normalidade democrática”.

Nas declarações aos jornalistas à margem da manifestação do MDM, Jerónimo vincou ainda que é preciso “agir para que as sequelas não se transformem numa consequência irreversível para quem trabalha” e defendeu o papel das mulheres na sociedade.

“Esta jornada é importante e de grande significado tendo em conta a convocação do MDM para esta grande jornada de luta, direito ao trabalho, à emancipação, a não ser sujeita à desregulamentação dos horários, a ser atacada no plano dos seus vínculos laborais, para além do combate ao preconceito, posicionamentos homofóbicos”, disse.

Chamando a atenção para a situação das mulheres, agravada com a pandemia, o líder comunista disse ainda que “a precariedade teve um efeito tremendo, na medida em que as mulheres foram as primeiras a ser afastadas, e foram prejudicadas no plano dos salários, no plano das medidas e tiveram problemas redobrados na família e na proteção das crianças”, concluiu o líder comunista.

ZAP // Lusa

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