O candidato presidencial comunista contou com a presença do secretário-geral do PCP, esta segunda-feira, na Marinha Grande, que destacou a importância de lutar contra os atuais “traços de regressão democrática”.
Durante uma ação na Escola Secundária Artística António Arroio, em Lisboa, o candidato apoiado pelo PCP e PEV, João Ferreira, disse que “houve afetos mal distribuídos” pelo atual Presidente da República, o que desvalorizou os professores.
Para o candidato comunista, não houve, nos últimos anos, “a devida atenção” a esta classe profissional, cujo papel social tem vindo a ser desvalorizado, o que, na sua opinião, afasta os cidadãos desta profissão.
Segundo João Ferreira, a profissão de professor será, provavelmente, daquelas que ao longo dos últimos anos mais têm sido desvalorizadas, “em que mais se sentiu uma desvalorização do papel, da função social do professor, do reconhecimento que a sociedade tem da importância que o professor desempenha”.
Nesse sentido, considerou, “falhou quem poderia ter aqui um papel, nomeadamente, o Presidente da República”, que “falhou nesse reconhecimento” dos professores.
O candidato sublinhou que “não é possível investir na escola pública sem valorizar quem a faz”, ou seja, os professores e os assistentes operacionais, que também enfrentam graves dificuldades, sobretudo ao nível da progressão de salários.
Durante a ação, João Ferreira falou com assistentes operacionais, professores e também alunos da escola António Arroio, que se queixaram das condições de trabalho, mas também dos problemas da própria estrutura, em obras desde 2010.
Sem refeitório, os alunos viam-se, antes da pandemia, obrigados a comer no chão, segundo relatou a presidente da associação de estudantes, ao que se soma a inexistência de biblioteca, auditório e papelaria, que funcionam em salas adaptadas.
Cristina Melo, assistente operacional, descreveu como “muito complicada” a falta de pessoal, por se tratar de uma escola com muitos alunos, lamentando ainda que o seu ordenado tenha sempre sido “abafado” pelo aumento do ordenado mínimo.
“Ganho tanto como uma colega que acaba de entrar há um mês. Nas questões salariais não somos nada importantes”, desabafou, acrescentando que tem de fazer a limpeza das salas e espaços comuns e ainda o serviço de bar, entre outras tarefas, numa escola com 1200 alunos e apenas 23 auxiliares.
O docente Manuel Guerra lembrou que a escola está em obras desde 2010, tendo sido já alvo de várias suspensões e adiamentos, o que faz com que certos professores, como Acácio Santos, que vive em Torres Vedras, não possa ali fazer refeições.
Comunista pede aumento da proteção dos trabalhadores
Após o encontro com funcionários desta escola artística, João Ferreira seguiu para a Marinha Grande, onde participou na sessão “Património de luta, horizonte de esperança”, que assinalou uma revolta operária ocorrida há 87 anos, a 18 de janeiro de 1934, culminando numa greve geral em vários locais do país.
Aí, o candidato presidencial disse compreender o reforço de medidas anunciado pelo Governo para conter a pandemia, mas defendeu a necessidade de aumentar a proteção nos locais de trabalho, habitações, equipamentos e serviços públicos e lares.
“As medidas que foram agora anunciadas são medidas que compreendo em face do que são informações que o Governo terá, de que eu não disponho”, afirmou aos jornalistas à margem de uma sessão pública na Marinha Grande, no distrito de Leiria.
No entanto, o candidato comunista considera que continua a ser necessário “um reforço de medidas de emergência no que toca à proteção de locais de trabalho, onde os trabalhadores não pararam, no que toca à proteção mesmo de habitações, onde isso seja necessário, equipamentos de uso coletivo, lares e serviços públicos”.
Questionado sobre a possibilidade de alterar as ações de campanha que estão previstas face à evolução da pandemia, João Ferreira lembrou que a “esmagadora maioria” das ações previstas já tinham sido adaptadas às circunstâncias, frisando que a avaliação será feita dia a dia.
“Em face das medidas que foram agora anunciadas há uma avaliação que temos que fazer também”, sublinhou, acrescentando que a todo o momento a organização da campanha tem de ir “calibrando” as iniciativas e as medidas adotadas em cada uma.
“É um trabalho que creio que vai ter que ser feito quase dia a dia. Neste momento estamos a avaliar em concreto o impacto destas medidas no resto da campanha eleitoral se bem que, insisto, na sua esmagadora maioria, elas já foram tidas em conta nas profundas alterações que fizemos há pouco tempo”, concluiu.
Jerónimo de Sousa marcou presença na campanha
A sessão pública realizada na Marinha Grande contou com a presença do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e de Isabel Camarinha, líder da CGTP. Segundo o semanário Expresso, o líder comunista encarregou-se de recordar os “valorosos combatentes” que nessa revolta operária de 1934 “se levantaram contra o fascismo”.
Referindo-se ao que apelida de “traços de regressão democrática” nas sociedades, Jerónimo de Sousa considerou que esse fenómeno tem assumido “uma preocupante dimensão”.
O secretário-geral do PCP afirmou que não se combatem projetos reacionários continuando a apostar em “políticas que dão espaço à revolta e indignação popular ou nos protagonistas dessas políticas”.
“Dizem que João Ferreira fala muito da Constituição. Faz bem, porque falar dela é ir às raízes do 25 de abril”, apontou Jerónimo de Sousa, citado pelo mesmo jornal.
Nesta ocasião, João Ferreira recebeu o apoio de mais de 1500 membros de Órgãos Representativos de Trabalhadores (ORT).
O candidato presidencial apoiado pelo PCP e pelo PEV seguiu depois para uma ação com empresários da restauração na Nazaré, também no distrito de Leiria. Uns a funcionar em take-away, outros fechados, os cidadãos contaram ao candidato a dificuldade no acesso aos apoios e a necessidade de recorrer a empréstimos.
“Acredito que este confinamento seja ainda mais duro do que o de março. Estes apoios são feitos a pensar noutras empresas, não é nos pequeninos”, afirmou o comunista.
ZAP // Lusa