Decisão recente em Barcelona fez recuperar um assunto que, para alguns, nem é assunto – mas para outros origina confusão ou tristeza.
Jantar sozinho passou a ser proibido em alguns restaurantes de Barcelona.
O jornal El País destacou recentemente que os responsáveis locais da restauração querem que haja mais experiências gastronómicas sociais.
Ou seja, não querem ver pessoas sozinhas – e possivelmente desconfortáveis – numa mesa. Querem que todos estejam acompanhados e a desfrutarem do momento.
Obviamente a decisão não é consensual: há quem concorde que jantar fora sozinho é um momento de solidão que não deveria existir, mas há quem defenda o direito de escolher.
Além disso, há quem prefira jantar fora sozinho. É um momento só da própria pessoa, talvez de relaxamento ou de reflexão.
“Ter tomates”
De facto, não é só em Espanha que há versões distintas sobre ver alguém a jantar fora sozinho.
Há pessoas que acham que, se for num centro comercial, não é estranho; mas se for num restaurante “isolado”, já é diferente. Podemos ficar tristes, a pensar que aquela pessoa está triste por estar sozinha – mas até pode ser a pessoa mais feliz do mundo, na verdade.
Este assunto externo e interno fez-nos recuperar um artigo da revista Vice, que é bem claro logo no título: “Porque é que teres tomates para jantar fora sozinho faz de ti um ser humano melhor”.
E não é uma referência a um ingrediente de uma receita.
Chorar para quê?
A jornalista Nell Frizzell começa por se focar precisamente na já referida sensação de tristeza em quem observa.
A autora do artigo avisa: as pessoas que comem sozinhas não precisam da nossa piedade.
“Chorar por elas, ainda para mais quando estão a satisfazer uma das maiores necessidades e, ao mesmo tempo, um dos maiores prazeres da vida, é um tiro ao lado”, lê-se.
É um tiro ao lado porque, continua Nell, uma das “pedras angulares da auto-suficiência” pode ser precisamente uma concentrar-se no que está a consumir, assumir sozinha o seu próprio ambiente de refeição.
“Ficas livre daquelas tretas de te envergonharem pelo que estás a comer, das restrições dietéticas absurdas e aborrecidas dos outros, da conversa para encher chouriços, de teres de esperar tanto por alguém que, antes das entradas chegarem, já comeste os guardanapos e, mais importante ainda, ficas livre do compromisso. És uma ilha”.
Deixa o telemóvel (e repete)
Nell deixa uma sugestão: resistir à tentação de pegar no telemóvel. Sobretudo nas pessoas que não estão habituadas a comer sozinho.
Isto numa era em que “não sabemos realmente como é comer sozinho” – é que a internet, essa ferramenta anti-solidão (ou não), está por todo o lado.
Por isso, “sentares-te e observares bem a tua comida e as pessoas à tua volta, em vez de abraçares o conforto do scroll constante no ecrã do telemóvel é, hoje, em dia, um acto intenso de disciplina”.
Jay Rayner, crítico de comida, disse uma vez que “comer sozinho deveria ser encarado como jantares com alguém que amas”.
Quem sabe, devemos tentar fazer isso mais vezes.
Pois, eu já jantei várias vezes sozinho e irei continuar a fazê-lo.
Não me lembro de alguma ver ter estado triste nessas ocasiões, e, se estava, não era certamente por estar a jantar sozinho, até porque fazer isso é uma coisa que me dá grande prazer, assim como tomar café sozinho, beber uma cerveja sozinho, ir ao cinema sozinho, fazer uma viagem sozinho, ir ao ginásio sozinho, ir às compras sozinho, etc.
Não é que não goste de fazer essas coisas acompanhado, porque gosto, mas também gosto de fazer essas coisas sozinho.
Muito honestamente, acho que as pessoas que acham que quem faz essas coisas sozinho tem de estar triste é porque elas próprias estão tristes e têm muito pouca autoestima e autoconfiança, e depois projetam isso nos outros…
Os restaurante, esses, poderão ter outra razão, que é a de não querer ter mesas vazias à mesa de modo a maximizar os lucros…
Que estupidez total. Já jantei tantas vezes sozinho e nunca tive qualquer problema. Quando ando por fora em trabalho, janto a maioria das vezes sozinho. Até porque muitas dessas vezes janto a horas impróprias para as quais não convidaria um cliente/ parceiro de negócios. E não tenho qualquer problema em jantar sozinho. Não estou minimamente preocupado com o que as outras pessoas pensam. Quem está mal que se mude.
Eu janto frequentemente sozinho.
Nunca me senti desconfortável por essa razão, nem nunca pensei que alguém achasse que eu pudesse estar desconfortável por jantar sozinho.
Quem acha que por se jantar sozinho se deve estar desconfortável, ele próprio deve estar deprimido ou ter uma vida muito triste.
São tudo desculpas dos restaurantes para somarem á factura final, porque dois ou mais é melhor do que um.
Eu tenho uma regra própria e que há mais de dez anos não quebro que é jantar sozinho uma vez por mês e sem telemóvel, normalmente entre o dia 01 e 10 de cada mês, somente para apreciar interligação humana, ou a falta dela, nas diversas mesas que estão á minha volta.
Sou uma.pessoa com uma.vida social muito ativa e até tenho que por vezes dizer não a algumas atividades com amigos e familiares mas jantar sozinho de vez em quando faz bem á alma, é um “restart”.