/

Num país marcado pelo racismo, Jane Bolin fez história como a primeira juíza negra dos EUA

9

A 22 de julho de 1939, Jane Bolin fez história ao prestar juramento como juíza na cidade de Nova Iorque. A jovem ocupou o cargo durante 40 anos e só saiu de cena quando atingiu a idade obrigatória.

A vida de Jane Bolin ficou marcada pelos seus feitos históricos.

Em 1931, a jovem tornou-se a primeira mulher negra a formar-se na Escola de Direito de Yale. Passados 8 anos, em 1939, prestou juramento como a primeira juíza negra nos Estados Unidos.

Bolin trabalhou como juíza durante 40 anos em Nova Iorque, sendo que só se reformou quando a idade a obrigou a sair de cena. Em todos os casos em que esteve envolvida, procurou mostrar “uma ampla simpatia pelo sofrimento humano”.

História notável

Jane Bolin nasceu a 11 de abril de 1908, em Poughkeepsie, Nova Iorque, e herdou o amor pela justiça do seu pai. Gaius C. Bolin era advogado e também foi o primeiro negro a formar-se no Williams College.

Com a morte prematura da mãe, Bolin foi criada pelo seu pai. Na juventude, passou horas a estudar os livros de Direito no seu escritório. “Aqueles livros com capa de couro intrigavam-me”, lembrou mais tarde.

Contudo, numa cidade predominantemente branca, Bolin tinha plena consciência do mundo cruel que a podia condicionar na execução dos seus sonhos.

A disseminação da discriminação local atingiu o seu máximo quando Bolin começou a pensar em entrar para a faculdade. Na cabeça da jovem fazia sentido ir para Vassar, que se situava nas proximidades, mas a instituição não aceitava alunos negros.

Assim, Jane Bolin matriculou-se no Wellesley College, em 1924, sendo uma das duas alunas negras. Na faculdade feminina de elite, escreve o ATI, a dupla sentiu-se condenada ao ostracismo. “Os meus dias na faculdade evocam memórias pessoais tristes e solitárias”, escreveu Bolin.

Jane também enfrentou resistência ao partilhar os seus objetivos de carreira com um conselheiro de orientação. O orientador advertiu Bolin sobre o afastamento da lei, já que as mulheres tinham poucas oportunidades na área, sobretudo se fossem negras.

Ainda assim, Jane Bolin não desistiu do seu sonho. Formou-se em 1928 como a primeira da turma e matriculou-se na Faculdade de Direito de Yale. Era a única mulher negra no curso e uma das poucas estudantes negras do campus.

Na faculdade de Direito, Bolin enfrentou discriminação dos seus colegas. Anos mais tarde, recordou que os alunos batiam com as portas da sala de aula na sua cara.

Porém, isso não a impediu de se tornar a primeira mulher negra a formar-se em Direito em Yale.

Primeira juíza negra dos Estados Unidos

Apesar do seu currículo formidável, Jane Bolin enfrentou uma onda de rejeições quando tentou entrar no mercado de trabalho pela primeira vez.

“Fui rejeitada por ser mulher, mas tenho a certeza de que a raça também influenciou”, disse Bolin mais tarde.

Com dificuldade em arranjar emprego, construiu a sua própria clínica com o marido, Ralph Mizelle. Depois de cinco anos a trabalhar com Mizelle, Bolin conseguiu um lugar no escritório do conselho da corporação da cidade de Nova Iorque.

Dois anos depois, a 22 de julho de 1939, recebeu um telefonema que viria a mudar a sua vida. O governador Fiorello LaGuardia queria conhecê-la. Depois de uma longa conversa, LaGuardia nomeou-a juíza num de tribunal de Nova Iorque. “Fiquei em estado de choque”, disse Bolin, citada pelo ATI.

Assim, Jane Bolin tornou-se a primeira juíza negra da história dos Estados Unidos.

A norte-americana assumiu o comando do Tribunal de Relações Domésticas, que mais tarde foi renomeado para Tribunal de Família.

Como juíza, Bolin observou casos de violência doméstica, homicídios juvenis e casos de crianças negligenciadas.

No poder, nunca se esqueceu de onde veio ou da discriminação que vivenciou. Graças às suas decisões, as agências de assistência à infância com financiamento público não puderam rejeitar as crianças negras. Também impediu o tribunal de designar oficiais de condicional com base na sua raça.

Ana Isabel Moura, ZAP //

9 Comments

  1. Atualmente os EUA são o país do mundo em que os negros têm mais oportunidades de sucesso (facto).
    Por isso, é o país com mais bilionários negros (facto).
    A narrativa identitária anti-racista está a dividir mais do que a unir.

      • Não sei de que “privilégio” fala. Mas os asiático-americanos nunca tiveram privilégio algum — antes pelo contrário, até foram fortemente discriminados — e, no entanto, atualmente são academica e profissionalmente muito bem sucedidos.
        É que enquanto uns berram, outros estudam/trabalham.

      • E qual é a tua experiência para falar do assunto? Vivo nos EUA há vários anos, e não tenho dúvidas que há mais racismo e xenofobia na Europa (especialmente entre os vários países) que nos EUA. Um país de maioria branca elegeu por 2 vezes um Presidente negro, onde é que isso aconteceu na Europa? Esta mulher foi eleita juíza em 1939, e o primeiro Juiz negro no Supremo Tribunal foi eleito em 1967. Entretanto, por exemplo no Reino Unido, o primeiro juiz negro a chegar a um alto tribunal foi em 2004.

        É praticamente impossível encontrar empresas de média e grande dimensão nos EUA sem imigrantes em cargos de topo, e não estou a falar de imigrantes que chegaram aos EUA com 4 anos, estou a falar de imigrantes que cá chegaram com 20, com sotaque carregado. Os casos da Google e Microsoft, com CEOs Indianos, são apenas os exemplo mais conhecidos, mas na verdade é bem normal. Onde é que isto se passa na Europa, com esta frequência?

        É certo que sou branco, mas é a minha experiência.

      • Bem… só pela comparação, diria que vives nos EUA há demasiado tempo e que não conheces nem os EUA nem a Europa!…
        Não que isso tenha relação directa com o racismo mas, tens sequer noção da percentagem de população negra no EUA e na Europa?
        Duvido…
        Além disso, boa parte de população negra na Europa são refugidos (ou filhos de refugidos) chegados à Europa nos últimos 20-40 anos…
        Já agora, quantos nativos americanos foram presidentes, são juízes, ou são CEOs de multinacionais americanas?!
        Pois…

      • Vamos lá a parar de atirar areia para os olhos… O que está aqui em causa é você acusar os EUA de ser o país mais racista do mundo ocidental, e eu questiono em que é que você se baseia para dizer tal coisa. O facto continua a ser que um país de maioria branca elegeu um membro de uma minoria para Presidente (só 13% dos Americanos são negros). É certo que a percentagem de negros na Europa é muito inferior ao que se verifica nos EUA, mas há outras minorias na Europa, e todas juntas são um número expressivo. Onde é que na Europa um membro de uma minoria étnica foi eleito Presidente pela maioria?

        Nunca houve um Presidente nativo americano (pouco mais de 1% da população), mas houve um VP, senadores, representantes, juízes, CEOs, etc.

        Mantenho o que disse. Há mais racismo e xenofobia na Europa que nos EUA.

  2. Perdoem a minha ignorância a senhora a que referem que dizem ser negra é a da fotografia? A mim parece me branca ou será negra, mas que confusão a mim parece me que é tão negra como branca. Não será altura de começar mos a olhar para as pessoas sem ver cores. Reparem eu conheço pessoas que têm a tes mais escura e dizem me que são brancos. Acabem com a história de brancos, negros, amarelo, vermelhos, as pessoas valem pelo que são e não pelo que parecem. A mim chamam me branco, porque os meus pais são europeus e engraçado eu considero me pessoa nascida em Angola e cuja cultura AFRO- EUROPEIA. Já agora não conheço nenhum pessoa branca, preta, amarelo ou vermelha a não ser que seja pintada.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.