Dezenas de líderes conhecidos na Jamaica, incluindo professores e políticos, estão a exigir um pedido de desculpas e compensações pela escravatura, enquanto o Duque e a Duquesa de Cambridge se preparam para uma viagem à antiga colónia britânica.
O grupo rejeita a visita do Príncipe William e de Kate, parte de uma viagem maior à região das Caraíbas, que coincide com o 60º aniversário da independência da Jamaica e o 70º aniversário da coroação da Rainha Isabel II.
“Não vemos razão para celebrar 70 anos da ascensão da sua avó ao trono britânico porque a sua liderança, e a dos seus antecessores, perpetuaram a maior tragédia de direitos humanos da história da humanidade”, lê-se numa carta publicada este domingo, antes da visita do casal, e assinada por 100 líderes jamaicanos.
A visita real à América Central e Caraíbas que começou no sábado foi ordenada pela rainha, de acordo com o The Washington Post.
A viagem visa reforçar os laços da Grã-Bretanha com os países da Commonwealth, mas está a ter um início complicado, bem como alguns países consideram cortar os laços com a monarquia, como a ilha das Caraíbas oriental de Barbados fez em novembro do ano passado.
A oposição local forçou o casal real a cancelar uma visita a uma quinta de cacau em Belize, que estava planeada para sábado, enquanto a próxima viagem à Jamaica enfureceu alguns que dizem estar ainda à espera de um pedido de desculpas e de compensações pela escravatura.
O legislador jamaicano Mike Henry, que há muito lidera um esforço para obter indemnizações estimadas em mais de 7 biliões de libras, disse à Associated Press que um pedido de desculpas é apenas o primeiro passo para o que descreveu como um “abuso da vida humana e do trabalho”. “Um pedido de desculpas admite realmente que há alguma culpa”, acrescentou.
Centenas de milhares de escravos africanos trabalharam na Jamaica sob mais de 300 anos de domínio britânico e enfrentaram condições terríveis.
Houve variadas revoltas, principalmente com uma mulher chamada “Rainha Ama”, que liderava um grupo de africanos escravizados, conhecidos como os Jamaican Maroons, cuja guerrilha se tornou conhecida e deu cabo das forças britânicas. A “Rainha Ama” continua a ser a única mulher dos oito heróis nacionais da Jamaica.
Durante a sua estadia de dois dias na Jamaica, espera-se que o Príncipe William e Kate celebrem o legado de Bob Marley, um gesto que também tem tem causado discórdia entre alguns jamaicanos.
“Como Rastafari, Bob Marley encarnou a defesa e é reconhecido globalmente pelos princípios dos direitos humanos, igualdade, e repatriação”, declarou a carta daqueles que exigiam um pedido de desculpas.
O grupo disse que estaria a celebrar 60 anos de liberdade da Grã-Bretanha, acrescentando que é triste “que não tenham sido feitos mais progressos, dado o fardo da herança colonial”.
“Não obstante, celebramos as muitas conquistas dos grandes jamaicanos que rejeitaram os conceitos negativos e coloniais e que tiveram êxito, com toda a confiança, contra enormes probabilidades. Também iremos recordar e celebrar os nossos lutadores pela liberdade“, concluem.