Projeto-piloto para levar ajuda humanitária por camião ao norte, ameaçado pela fome, numa altura em que a ONU alerta que mais crianças morreram em Gaza em quatro meses do que em quatro anos de conflitos no mundo.
O exército de Israel anunciou esta quarta-feira o lançamento de um projeto-piloto para levar ajuda humanitária, através de camiões, diretamente ao norte da Faixa de Gaza, ameaçado pela fome.
“De acordo com as diretivas do Governo, seis camiões que transportavam ajuda humanitária do Programa Alimentar Mundial entraram no norte da Faixa de Gaza na noite passada [terça-feira] através do portão 96 da cerca de segurança”, disseram as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).
Antes de entrar na Faixa de Gaza, os camiões com ajuda humanitária foram inspecionados mais a sul, na passagem de Kerem Shalom, disse o exército, num comunicado.
“Os resultados deste projeto-piloto serão apresentados aos responsáveis governamentais”, acrescentaram as IDF, numa altura em que o Governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, está sob pressão internacional para combater a fome na Faixa.
Sem mencionar este projeto, o PAM tinha indicado anteriormente que, pela primeira vez desde 20 de Fevereiro, uma das suas caravanas tinha chegado à cidade de Gaza, no norte do enclave, para entregar ajuda a 25 mil pessoas.
“Com a população do norte de Gaza à beira da fome, precisamos que a ajuda chegue diariamente e dos pontos de entrada diretamente para o norte de Gaza”, acrescentou o PAM, na rede social X.
Também na terça-feira, os EUA e a Jordânia realizaram um novo lançamento aéreo de ajuda humanitária no norte da Faixa de Gaza.
O Comando Central dos EUA disse que a entrega conjunta incluiu “aproximadamente 2.400 quilos de alimentos, incluindo arroz, farinha, massas, alimentos enlatados”.
No mesmo dia, um navio zarpou de Chipre com 200 toneladas de ajuda humanitária recolhida pela World Central Kitchen, organização fundada pelo chef José Andrés, e transportada pela organização espanhola Open Arms. O navio deverá chegar a Gaza dentro de dois a três dias.
O norte da Faixa de Gaza está à beira de uma “catástrofe humanitária”, alertou na segunda-feira o PAM, apelando a Israel para que reabra os pontos de entrada rodoviários para permitir o envio de mais ajuda.
A ONU afirma que praticamente todos os 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza estão a lutar para encontrar alimentos. Mas o acesso da ajuda humanitária à zona tem sido difícil, devido às hostilidades em curso e às dificuldades de coordenação com o exército israelita, que bloqueou as rotas e atrasou as entregas devido às inspeções.
Quatro barcos do exército dos EUA partiram na terça-feira rumo a Gaza, com toneladas de equipamento e partes de um cais de aço, levando como missão construir um porto flutuante para descarga de ajuda, num local ainda não anunciado ao longo da costa de Gaza.
Gaza: mais crianças mortas em 4 meses do que em 4 anos de conflitos mundiais
Mais crianças foram mortas na Faixa de Gaza em quatro meses de guerra com Israel que em quatro anos de conflitos em todo o mundo, afirmou esta terça-feira o diretor da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).
“É impressionante. O número de crianças presumivelmente mortas em apenas quatro meses em Gaza é superior ao número de crianças mortas em quatro anos em todos os conflitos do mundo”, escreveu Philippe Lazzarini na rede social X (antigo Twitter), condenando uma “guerra contra as crianças”.
A sua mensagem refere-se aos dados das Nações Unidas, segundo os quais 12.193 crianças foram mortas em conflitos em todo o mundo entre 2019 e 2022.
O responsável da UNRWA comparou esses números com os divulgados pelo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas, indicando que mais de 12.300 crianças foram mortas no território palestiniano entre 07 de outubro do ano passado e o fim de fevereiro deste ano.
“Esta guerra é uma guerra contra as crianças. É uma guerra contra a sua infância e o seu futuro”, declarou Lazzarini.
ZAP // Lusa