Ferramenta é capaz de identificar caras tapadas ou com traumas físicos. É alimentada pelas IDF, que fornecem listas de potenciais alvos baseados em vídeos publicados pelo Hamas, relatos de prisioneiros palestinianos e em dados do Google Fotos.
O Governo israelita está a criar uma base de dados que contempla o resultado do reconhecimento facial de palestinianos na Faixa de Gaza, sem o seu consentimento ou conhecimento, avança o jornal norte-americano The New York Times.
O programa, criado após os ataques de 7 de outubro que desencadearam o conflito, recorre a tecnologia do Google Fotos que, unida a uma ferramenta única construída pela empresa de tecnologia Corsight, identifica membros afiliados ao Hamas.
A empresa de Tel Aviv construiu esta ferramenta com o apoio das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Depois dos ataques de 7 de outubro, os oficiais da principal unidade de inteligência das IDF conduziram uma operação que identificou potenciais alvos da nova tecnologia, recorrendo a imagens de câmaras de segurança e vídeos publicados pelo Hamas nas redes sociais. Terão também exigido que prisioneiros palestinianos identificassem pessoas das suas comunidades afiliadas ao grupo islamita — mas não se ficaram por aqui.
Para melhorar e expandir a base de dados pessoais, o exército israelita criou postos de controlo equipados com câmaras de reconhecimento facial ao longo das principais estradas que os cidadãos palestinianos usam para escapar à guerra.
Com recurso ao gratuito Google Fotos, os oficiais de inteligência israelita tentaram melhorar a tecnologia carregando bases de dados de “pessoas conhecidas” e, com a função de pesquisa de fotos, identificaram mais pessoas que foram inseridas nesta “lista negra”.
A tecnologia é ainda capaz de captar imagens de pessoas “cujas características foram impactadas por trauma físico, e de encontrar uma correspondência entre fotos enviadas por membros da família preocupados”, reportou a Forbes, que acusa o governo israelita de usar a ferramenta em hospitais para identificar pacientes.
A Corsight diz também que a tecnologia é capaz de identificar rostos escondidos ou mascarados e estará a desenvolver, desde 2022, uma ferramenta capaz de construir um modelo de rosto baseado no seu ADN.
Tecnologia não convence soldados israelitas
Apesar das promessas, da empresa — que diz que a sua tecnologia é capaz de identificar estes membros mesmo se menos de metade do seu rosto não estiver visível — a tecnologia não tem convencido alguns soldados que falaram com o Times.
A ferramenta da Corsight já terá identificado incorretamente pessoas como membros do Hamas e falhou ao tentar identificar pessoas em fotografias ligeiramente escuras ou granuladas.
O poeta palestiniano Mosab Abu Toha protagonizou um desses tristes casos. Quando partia para o Egito com a sua família, foi detido num posto de controlo militar israelita em meados de novembro após a tecnologia da Corsight o ter colocado na “lista de alvos”. Segundo o Times, foi espancado e interrogado durante dois dias, sem qualquer explicação, antes de ser enviado de volta para Gaza.
“Parar os terroristas maléficos”
Focada nos setores de inteligência artificial e cibersegurança para uso governamental, a empresa fundada em 2019 pelo canadiano Aaron Ashkenazi, tem vindo a manifestar o seu apoio a Israel desde o início do conflito.
Fornece a Israel “as ferramentas tecnológicas para parar estes terroristas maléficos que estão seu caminho”, disse o CEO da tecnológica em artigo de opinião publicado no The Jerusalem Post, em outubro.