O exército de Israel retirou todas as suas tropas terrestres do sul da Faixa de Gaza por “razões tácticas”, levantando questões sobre o futuro rumo da guerra, numa altura em que delegações do Hamas e de Israel se deslocam ao Egipto para uma nova ronda de negociações sobre o cessar-fogo.
Duas brigadas permanecerão na metade norte da Faixa de Gaza e no novo corredor que agora divide o território palestiniano em Wadi Gaza, para “preservar a liberdade de ação das FDI e a sua capacidade de conduzir operações baseadas em informações precisas”, afirmaram este domingo as Forças de Defesa de Israel.
Segundo o jornal britânico The Guardian, a redução de efetivos no terreno destina-se principalmente a descanso das tropas, após quase quatro meses de intensos combates na dizimada cidade de Khan Younis, no sul do país, e não a uma mudança significativa de estratégia.
“Não há necessidade de permanecermos em Khan Younis. A 98ª Divisão desmantelou as brigadas do Hamas em Khan Younis e matou milhares dos seus membros. Fizemos tudo o que podíamos lá”, afirma um oficial do exército citado pelo diário israelita Haaretz:
“Os palestinianos deslocados da cidade poderão agora regressar às suas casas”, acrescenta o oficial.
Segundo analistas militares citados pelo The Guardian, não está fora de questão uma ofensiva terrestre israelita na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde cerca de 1,5 milhões de pessoas estão abrigadas.
No entanto, diz o jornal britânico, o anúncio da retirada coincide com o início de uma ronda de conversações no Cairo, a capital egípcia, com o objetivo de garantir uma segunda trégua e um acordo de libertação de reféns. Este anúncio está a ser recebido como um sinal positivo de que as últimas negociações, depois de muito vacilarem, podem finalmente dar frutos.
Israel confirmou este domingo que iria enviar uma delegação para participar nas negociações, depois de o Hamas ter anunciado no dia anterior que iria enviar negociadores.
Segundo os meios de comunicação israelita, a delegação do país, que irá apresentar-se com um “mandato alargado”, inclui os chefes da Mossad e do Shin Bet, as duas principais agência de inteligência do país.
O diretor da CIA, Bill Burns, também deverá participar nas conversações, que terão início na noite deste domingo, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que se encontra sob crescente pressão internacional devido à conduta das suas forças em Gaza e à situação humanitária desesperada, afirmou este domingo que Israel não cederia às exigências “extremas” do Hamas nem aceitaria qualquer cessar-fogo enquanto os reféns israelitas ainda sequestrados pelo Hamas não fossem libertados.
O anúncio da retirada de Israel do sul de Gaza surge também depois de o presidente dos EUA, Joe Biden, ter exigido um cessar-fogo imediato, tendo avisado o chefe de estado israelita de que o futuro apoio dos Estados Unidos dependeria de que fossem tomadas medidas concretas para proteger civis e trabalhadores das agências de ajuda humanitária.
Nos últimos dias, aumentaram os receios de que o conflito regional alastre, depois de o general Rahim Safavi, um conselheiro militar iraniano de alto nível, ter dito que nenhuma das embaixadas de Israel estava segura, após o ataque israelita em Damasco, na semana passada, que matou dois generais iranianos de elite.
Netanyahu disse que Israel estava preparado para qualquer resposta. “Quem quer que nos prejudique ou planeie prejudicar-nos, nós prejudicá-lo-emos”, afirmou.
Guerra no Médio Oriente
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