Israel está a combater dentro de Gaza, mas garante: “não vai reocupar a Faixa”

“Israel não vai reocupar a Faixa de Gaza”, garante o ministro dos Assuntos Estratégicos israelita. “Reocupação pelas forças israelitas não é a coisa certa a fazer”, disse o porta-voz da Casa Branca. Quem é que vai gerir Gaza depois de tudo?

O exército israelita, que já entrou no seu segundo mês de guerra contra o grupo islamita Hamas, anunciou esta terça-feira que as suas tropas estão a combater dentro da cidade palestiniana de Gaza pela primeira vez em anos.

“Pela primeira vez em décadas, as Forças de Defesa de Israel estão a combater no coração da cidade de Gaza”, declarou Yaron Finkelman, comandante do Comando Sul do exército israelita.

As tropas israelitas iniciaram operações militares dentro da Faixa de Gaza há cerca de dez dias, após semanas de contínuos ataques de artilharia a partir de solo israelita e bombardeamentos aéreos, e anunciaram no passado fim-de-semana um cerco das suas tropas à cidade de Gaza, a principal urbe do enclave palestiniano.

“Neste preciso momento, os nossos soldados estão a eliminar terroristas, a descobrir túneis, a destruir armas, enquanto continuam a avançar para o coração do inimigo”, declarou o major Finkelman num comunicado militar.

Os soldados tomaram o controlo de um reduto militar do Hamas no ‘coração’ da cidade de Gaza e atacaram milicianos escondidos perto de um hospital, informaram esta terça-feira as Forças de Defesa de Israel (IDF), referindo que o exército continua a aprofundar e a alargar a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza.

Segundo as informações do exército, as tropas parecem estar a concentrar os esforços na captura de centros de comando e controlo e na expulsão de membros do Hamas dos seus redutos nos arredores da populosa cidade, alguns dos quais, segundo oficiais israelitas, se situam perto ou sob os hospitais do enclave, sobrelotados de civis.

Os residentes do norte de Gaza relataram combates intensos durante a noite, que continuaram na manhã de hoje em áreas fora da cidade. O campo de refugiados de Shati, bairro construído na costa norte da cidade de Gaza, tem sido alvo de fortes bombardeamentos aéreos e marítimos nos últimos dois dias, segundo os residentes.

Israel “não vai reocupar” Faixa de Gaza

O ministro dos Assuntos Estratégicos israelita, Ron Dermer, garantiu que “Israel não vai reocupar a Faixa de Gaza”, numa entrevista ao canal norte-americano MSNBC.

“Nós retirámo-nos completamente de Gaza há 17 anos e recebemos de volta um Estado terrorista. Não podemos repetir isto, é óbvio. Assim que o Hamas deixar de estar no poder e as infraestruturas forem desmanteladas, Israel deve ter a responsabilidade geral pela segurança durante um período indefinido”, disse, na terça-feira à noite, Dermer, que tem assento como observador no gabinete de guerra de Israel.

Questionado sobre a forma como esta responsabilidade será organizada, Dermer reconheceu que a questão permanece em aberto, mas disse que “não será uma ocupação”.

Os comentários deste antigo embaixador israelita nos EUA, próximo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, surgem depois de Washington ter afirmado que se opõe a uma nova ocupação a longo prazo de Gaza por parte de Israel.

“Em geral, não apoiamos uma reocupação de Gaza, nem Israel”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Vedant Patel, aos jornalistas, na terça-feira.

“Reocupação não é a coisa certa”. Quem vai gerir Gaza depois da guerra?

Esta reação surge na sequência das declarações de Netanyahu, na segunda-feira, de acordo com as quais pretende que Israel assuma “a responsabilidade geral pela segurança” do território após a guerra.

“Estamos em discussões ativas com os nossos homólogos israelitas sobre como deverá ser a Faixa de Gaza após o conflito. O Presidente, Joe Biden, mantém a sua posição de que a reocupação pelas forças israelitas não é a coisa certa a fazer”, disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, numa conferência de imprensa.

“Há uma coisa sobre a qual não há absolutamente nenhuma dúvida: o Hamas não pode fazer parte da equação”, acrescentou.

O porta-voz do Hamas, Abdel Latif al-Qanou, reagiu na plataforma de mensagens Telegram a estas declarações, afirmando que “o que Kirby disse sobre o futuro de Gaza depois do Hamas é uma fantasia. O nosso povo está em simbiose com a resistência e só ele decidirá o seu futuro”.

Dermer admitiu que Israel terá de enfrentar a dificuldade do “dia seguinte”, depois da eliminação do Hamas. “Quem é que vai gerir Gaza? Se for uma força palestiniana que governe Gaza para o bem-estar dos habitantes e sem querer destruir Israel, então podemos falar”, afirmou.

Israel declarou guerra ao Hamas há um mês, na sequência de um ataque do grupo islamita que causou mais de 1.400 mortos e mais de 240 reféns, enquanto a ofensiva israelita na Faixa de Gaza causou mais de 10.300 mortos, cerca de 26.000 feridos e 2.450 desaparecidos, a maioria civis.

Na Guerra dos Seis Dias de 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza, território do qual se retirou em 2005, mas que mantém sob bloqueio aéreo, terrestre e marítimo.

// Lusa

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