A Islândia sequenciou geneticamente todos os casos positivos de covid-19 no país desde o início da pandemia, uma prática cada vez mais necessária à medida que novas estirpes emergem no Reino Unido e na África do Sul.
Como avançou no domingo a agência France Presse, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instou na sexta-feira todos os países a aumentar a sequenciação do genoma para ajudar a combater as novas variantes.
Nos últimos 10 meses, cientistas do laboratório deCODE Genetics, em Reiquiavique, na Islândia, têm analisado todos os testes positivos de coronavírus a pedido das autoridades de saúde, visando evitar que os casos problemáticos passem despercebidos.
“Demora relativamente pouco tempo para fazer a sequenciação”, disse o chefe do laboratório, Olafur Thor Magnusson, indicando que são precisas “cerca de três horas” para determinar a estirpe do vírus. O processo – desde o isolamento do ADN à sequenciação – pode levar até 36 horas e permitiu à Islândia identificar 463 estirpes distintas.
Antes da sequenciação, o ADN de cada amostra é isolado e, em seguida, purificado através de esferas magnéticas. As amostras são então colocadas em equipamentos parecidos com ‘scanners’, que mapeiam o genoma do coronavírus.
De acordo com a France Presse, dentro de cada equipamento há uma caixa preta – designada “célula de fluxo” -, uma lâmina de vidro que contém as moléculas de ADN.
“A sequenciação de amostras é fundamental para nos ajudar a acompanhar o estado e o desenvolvimento da epidemia”, disse à agência noticiosa a ministro da Saúde, Svandis Svavarsdottir. As autoridades usaram essas informações para decidir sobre as medidas precisas e direcionadas para conter a propagação do vírus, afirmou.
Embora a variante sul-africana não tenha sido detetada na Islândia, 41 pessoas foram identificadas como portadoras da estirpe britânica. Todas foram paradas na fronteira – onde são realizados testes de PCR em viajantes -, evitando assim a transmissão.
A identificação do ADN também permitiu estabelecer uma ligação clara entre os clientes de um ‘pub’ no centro de Reiquiavique e a maioria das infeções numa nova vaga, que ocorreu em meados de setembro, levando as autoridades a fechar bares e discotecas na capital.
Todos os cerca de 6.000 casos de cvoid-19 relatados na Islândia foram sequenciados.
O mapeamento de genes é a especialidade da laboratório deCODE. Fundado em 1996, realizou o maior estudo genético de uma população. Para um estudo de 2015 sobre fatores de risco de cancro, sequenciou todo o genoma de 2.500 islandeses e estudou o perfil genético de um terço da população, que na época contava com 330.000 habitantes.
“É muito fácil sequenciar esse genoma viral: tem apenas 30 mil nucleotídeos, é nada”, referiu Kari Stefansson, a fundadora e diretora-executiva da empresa, de 71 anos.
Em comparação, o genoma humano normalmente analisado nos seus laboratórios tem 3,4 mil milhões de pares de nucleotídeos – ou moléculas orgânicas -, acrescentou.
Embora a sequenciação rigorosa da Islândia tenha sido útil para rastrear a propagação do vírus, ainda não levou a nenhuma descoberta científica importante para o decODE. “Se houver diferenças entre os vírus com as várias mutações de padrão, não são muito óbvias. Não são suficientemente óbvias para que possamos detetá-las”, disse Stefansson.