Um terço dos portugueses nunca vai ao dentista. Há situações ilegais dentro do Estado

Pobres são os mais afectados no “esquecimento” da saúde oral em Portugal. É uma área da qual “nem se fala” e, também nesta especialidade, faltam profissionais.

A saúde oral dos portugueses foi esquecida. O alerta, directo, é deixado pelo presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário São João.

No texto que escreveu para o Jornal de Notícias, Fernando Araújo cita números do Barómetro de Saúde Oral da Ordem dos Médicos Dentistas: no ano passado menos 17% de residentes em Portugal foram ao dentista, comparando com 2019.

O responsável indica que um terço dos portugueses nunca vai ao dentista. Ou, se vai, só toma essa opção em momentos urgentes.

O principal factor para estes números baixos são as limitações financeiras – e a ausência de uma “resposta fundamental em saúde pública e agravou-se com a pandemia. Mais uma vez, são os pobres os mais afectados”, avisa Fernando Araújo.

O cheque-dentista ajudou algumas pessoas mas a maioria dis portugueses continua a não ir a uma consulta devido a problemas económicos.

“O Estado tem a responsabilidade de implementar políticas que promovam a coesão e reduzam as desigualdades. A saúde oral não é um luxo, mas uma necessidade básica“, lembra o ex-secretário de Estado Adjunto e da Saúde.

Há seis anos iniciou-se uma estratégia de colocar consultórios de médicos-dentistas em centros de saúde de todos os concelhos. Mas estavam previstos 289 e existem 140 (menos de metade).

Quatro em cada cinco dentistas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) trabalham sob regime de recibos verdes. “A carreira não foi criada, nem o modelo implementado”, continua Fernando.

“Numa altura em que aparentemente a palavra de ordem é terminar com os médicos tarefeiros no SNS, a medicina dentária foi esquecida. A paixão pelo projeto “Saúde Oral para Todos” desapareceu. Sobra a resignação pela exclusão dos mais desfavorecidos”, finaliza o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário São João.

A “condenação”

A falta de acesso aos cuidados de saúde oral também foi assunto abordado por J. Serafim Freitas e Ana Sofia Lopes, no Observador.

O estomatologista e presidente do Colégio da especialidade da Ordem dos Médicos, e a médica dentista, coordenadora na Dariacordar/zero Desperdício, consideram que os governantes em Portugal não entendem o quão é importante a saúde oral. Faltam medidas e falta “velocidade” nas respostas.

“Do resto nem se fala”, escrevem, quando analisam as previsões do Orçamento Geral do Estado para 2022.

Mas há um grande problema: os cuidados primários “em que tarda a tomada das medidas que se impõem, ou seja, a existência de profissionais suficientes, com vínculo ao SNS, que garantam pelo menos a cobertura da saúde oral básica às camadas mais desfavorecidas”.

Voltando aos médicos-dentistas nos centros de saúde, a dupla de especialistas alerta: “Estão vinculados de forma ilegal e sem qualquer tipo de dignidade, pois estão contratados em regime de prestação de serviços a empresas terceiras. Ou seja, as situações ilegais existem dentro do próprio Estado, com anuência desse mesmo Estado”.

O artigo recorda a recomendação da Organização Mundial de Saúde: um dentista para cada 1500 habitantes. Na realidade portuguesa, deveria existir um médico-dentista por cada 1500 habitantes pobres.

Os números apontados mostram o que é preciso caminhar: contratar 1379 profissionais.

ZAP //

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