Uma equipa de investigadores quer registar as memórias de familiares dos 100.000 portugueses que participaram na I Guerra Mundial, dos relatos que fizeram aos diários que escreverem, passando pelos postais, e objetos diversos.
Trata-se da iniciativa “Dias da Memória” que irá decorrer de 17 a 19 de outubro, na Assembleia da República, em Lisboa, que abre portas a todos que que queiram partilhar histórias de família, postais, cartas, objetos ou quaisquer “registos que ajudem a perpetuar a memória da I Grande Guerra”, disse à Lusa a historiadora Fernanda Rollo.
“Além das memórias deixadas pelos que participaram, interessa-nos também muito, como a guerra foi vivida dentro do território nacional, os racionamentos, o clima social, as greves, os motins, as contestações, por exemplo a revolta da batata em 1917 envolveu 400 presos e a morte de 40 pessoas”, enfatizou.
Esta é a primeira iniciativa da Europeana, a maior biblioteca digital da Europa, onde todo o material digitalizado será disponibilizado, tornando as memórias dos portugueses acessíveis a todos e em todo o mundo, “desde o vulgar cidadão aos investigadores de diferentes áreas, não apenas da história”, realçou.
“Já algumas pessoas disponibilizaram materiais, através do Facebook, por exemplo diários. Há um maior exercício diarístico dos portugueses do que se pensava, tendo em conta que só os oficiais saberiam escrever, pois havia um elevado nível e analfabetismo em Portugal”, disse Fernanda Rollo.
Outra área em que “parece haver muito material são os postais, que os militares enviavam de onde estavam“, tendo em conta que as tropas portuguesas não só combateram em França e na Flandres, como nas então colónias portuguesas, “um dos pontos de honra da República”, regime recentemente implantado.
“Há uma pessoa que nos disse que tem em seu poder 500 postais que é uma riqueza incalculável”, disse a historiadora.
Uma mala médica com uma cápsula de cafeína, espingardas, um capacete de um soldado, muitas cartas e postais, são alguns dos materiais já revelados pelas famílias.
Todo o material que for disponibilizado, “ficará de imediato online quer na Europeana, quer no site do Instituto de História COntemporânea.
A historiadora salientou a possibilidade de as famílias “colocarem em depósito nas instituições públicas esses objetos, onde podem ser devidamente salvaguardados, sem nunca perder a sua propriedade, inclusive da utilização das imagens”.
A iniciativa coordenada por Fernanda Rollo, do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, conta com uma equipa de 40 pessoas, e os apoios de várias instituições públicas como o arquivo e museu da Assembleia da República, o arquivo Histórico Diplomático e o Militar, entre outros.
Fernanda Rollo reconheceu a importância desta iniciativa decorrer noutras partes do país, como o Porto ou nos Açores “onde há uma memória muito viva do conflito mundial”, mas não adiantou se se realizariam.
Todavia, disse, foi pedido o apoio a todos os municípios que facilitassem o transporte, de modo a que as pessoas possam participar na iniciativa na Assembleia da República.
“Esta é uma ação de mobilização na construção da nossa memória”, realçou.
/Lusa
acho notável a recolha da informação com fins hestoricos ,pois comparativamente sabe-se muito sobre a segunda guerra mundial e muito pouco acerca da primeira ,acho que devia existir um esforço de recolha de informação a nível mundial