O Ministério Público está a investigar a construção da chamada Torre de Picoas, na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. Em causa estão suspeitas relacionadas com o processo de licenciamento dirigido pelo vereador do Urbanismo Manuel Salgado.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a abertura do inquérito em declarações à revista Sábado, notando que o processo “se encontra em investigação” no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa (DIAP).
O caso tem origem em suspeitas relacionadas com o licenciamento da Torre de Picoas, designadamente com a intervenção do vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Manuel Salgado, depois de acusações feitas pelo ex-vereador da Mobilidade da CML, Fernando Nunes da Silva, e pelo ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.
Fernando Nunes da Silva contou aos jornais Sol e i que o antigo proprietário do terreno onde foi construída a Torre de Picoas, Armando Martins, teve vários projectos para a zona rejeitados durante mais de 20 anos. Recusas que Nunes da Silva atribui a Manuel Salgado, garantindo que tem documentos que confirmam que ele não forneceu ao proprietário todas as informações que deveria e poderia, lesando os seus interesses.
Como não conseguiu rentabilizar o terreno e tendo dificuldades financeiras, Armando Martins fez uma hipoteca de 15 milhões de euros sobre o mesmo ao BES, por recomendação de “um dos Espírito Santo”, como conta o i.
A chegada da crise e a impossibilidade de pagar a hipoteca, levaram Armando Martins a entregar o terreno ao BES por um euro. Na altura, o Banco era presidido por Ricardo Salgado que é primo direito de Manuel Salgado.
Nunes da Silva também assegura que informou Fernando Medina, o actual presidente da CML, sobre a actuação de Manuel Salgado. E o Sol garante que António Costa, ex-presidente da autarquia, recebeu documentos, alegadamente entregues pelo deputado social-democrata da Assembleia Municipal, Vítor Gonçalves, sobre o processo, quando estava de saída da Câmara.
O ex-vereador da CML, Manuel Maria Carrilho, que lançou suspeitas sobre Manuel Salgado no seu livro “Sob o Signo da Verdade”, reforça essa ideia em declarações ao jornal i, lamentando que foram “precisos 13 anos para se perceber o óbvio e as suas sinistras consequências”.
Na obra, Carrilho relata que quando concorreu à presidência da CML, Salgado queria ser o número dois da sua lista. Mas quando o confrontou com os conflitos de interesses entre as suas funções de vereador e os projectos atribuídos pela CML ao seu gabinete de arquitectura, o Risco, Salgado terá dito que “se podia pensar num blind trustee para dirigir” o atelier ou que o poderia vender “a alguém de confiança, que lho vendesse de novo quando ele saísse da Câmara”.
Em Junho passado, o Expresso noticiou que a Torre de Picoas tinha sido colocada à venda por 120 milhões de euros.