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Instrutivo ou invasivo? Wearable revela ao seu patrão quando está infeliz (e isso pode ser má ideia)

Com milhões de pessoas fechadas em casa, a “tecnologia de saúde” tem sido um campo de batalha para empresas como a Microsoft, Apple e Google. Estar informado sobre a saúde física é importante, mas especialistas defendem que wearables que medem a saúde mental devem ser saudados com um otimismo mais cauteloso.

Os principais produtos da área da “tecnologia de saúde” são os dispositivos wearables que medem a frequência cardíaca, contagem de passos e dezenas de outros dados que o mantêm informado sobre a saúde física. Estes dispositivos ajudam as pessoas a controlar os seus treinos, estabelecendo metas quantificáveis que podem ajudá-las a permanecer em forma e saudáveis.

Porém, segundo Maxine Whelan, professora assistente da Coventry University, a introdução de wearables que medem a saúde mental deve ser saudada com um “otimismo mais cauteloso”, uma vez que os dispositivos manterão dados pessoais. Além disso,  registar constantemente o estado emocional pode ser contraproducente no caminho a alcançar uma saúde mental melhor.

Os wearables são comuns na vida das pessoas. Esse movimento já se espalhou para ambiente de trabalho, com os trabalhadores de escritório a ter acesso a dados que mostram quanto tempo passam sentados.

Agora, as empresas em busca do próximo grande indicador de saúde focaram-na na saúde mental – uma preocupação particular que surgiu durante a pandemia.

Liderando este novo desenvolvimento está o dispositivo Moodbeam, que é usado no pulso. Em vez de monitorizar passivamente os indicadores de saúde física, os utilizadores são incentivados a pressionar um dos dois botões – amarelo para “OK” e azul para “não OK” – quando registam uma mudança de humor ou em horários programados do dia.

A ideia por trás do dispositivo é adicionar o bem-estar emocional à lista de indicadores de saúde estabelecida, processando como o nosso humor flutua num dia típico.

Vinculado a uma aplicação de smartphone, o Moodbeam oferece uma visão geral dos “momentos de humor”, que visam ajudar os utilizadores a identificar tendências e padrões na sua saúde mental ao longo do tempo.

Os utilizadores também podem inserir entradas de diário, bem como pressionar os botões do wearable, e isso pode facilitar uma maior autoconsciência e melhor alfabetização emocional, ajudando os utilizadores a lidar com maus hábitos ou momentos nos seus dias que os fazem sentir “não tão bem”.

A ideia é que, neste período de isolamento social, os diretores e gestores de empresas consigam identificar colaboradores descontentes e desanimados ou até mesmo com indícios prematuros de doenças psiquiátricas, como depressão ou burnout.

De momento, o Moodbeam é comercializado principalmente como uma solução digital para empregadores que tenham uma equipa que trabalha remotamente, dando aos trabalhadores a oportunidade de registar os seus transtornos emocionais ao trabalhar em casa.

Porém, este sistema levanta questões sobre privacidade e vigilância do empregador.

Instrutivo ou invasivo?

Um estudo anterior tratou da monitorização do humor. A equipa de Whelan viu como as pessoas que vivem com doença pulmonar obstrutiva crónica responderam a um questionário mensal de humor como parte de uma intervenção digital mais ampla e descobriu que mais da metade dos participantes relatou aumento nas pontuações de humor ao longo de 12 meses.

Esse achado não teria sido capturado se o humor não tivesse sido registado como um ponto de dados, destacando o benefício de monitorizar o humor em grupos de pacientes.

A monitorização ainda mais frequente, com dispositivos como o Moodbeam, pode ajudar as pessoas a entender melhor o seu bem-estar emocional, ao mesmo tempo que fornece informações adicionais para intervenções de saúde mental por parte dos profissionais.

Por outro lado, segundo os investigadores, os funcionários não responderam bem a ter os seus sentimentos monitorizados no passado. Num estudo, camionistas expressaram ceticismo sobre se os empregadores realmente se importavam com a sua saúde, vendo isso como um “exercício de seleção” mais para o benefício da reputação do empregador do que do bem-estar do funcionário.

Além disso, os cientistas observam que os wearables podem causar ansiedade aos funcionários e provocar temores sobre “o que acontece a seguir” após pressionarem um botão do Moodbeam – especialmente o botão “não OK”.

Além do local de trabalho, não é claro se a abordagem “OK ou não OK” promovida pela Moodbeam é a certa para a monitorização da saúde mental. Os indivíduos emocionalmente alfabetizados são capazes de compreender e expressar um amplo espectro de emoções, muitas das quais podem resistir ao agrupamento numa escolha binária de “OK” ou “não OK”.

E, segundo os investigadores, se os utlizadores são constantemente pressionados a julgar as suas emoções, registar algumas como negativas pode levar a impactos negativos na saúde mental. Assim, sentir-se mal por se sentir mal pode fazer com que se sinta ainda pior.

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