Em Portugal, as infeções por covid-19 entre vacinados são inferiores a 1%

Vasco Célio / Lusa

Dados são avançados por Manuel Carmo Gomes e resultam de cálculos preliminares, já que não foi considerada a variante Delta no risco de transmissão. Mesmo assim, epidemiologista está otimista em relação ao controlo da pandemia em Portugal.

O impacto da vacina contra a covid-19 tem um impacto comprovado no número de doentes internados nos hospitais e na mortalidade. No entanto, os especialistas ainda não conseguem afirmar com um elevado nível de certezas a sua influência no processo de transmissão do vírus e, consequentemente, na redução do risco de infeção. As primeiras estimativas feitas em Portugal parecem apontar nesse sentido, já que entre pessoas com o esquema de vacinação completo a percentagem de infeções é muito baixa.

De acordo com os dados facultados ao Expresso por Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos peritos que trabalha com as autoridades de saúde, a taxa de infeção média entre vacinados é inferior a 1% ao longo dos últimos meses — algo genérico a todas as faixas etárias já vacinadas.

Estes números, resultantes de cálculos preliminares, ainda estão a ser trabalhados, já que falta perceber se a tendência se mantém com a variante Delta. A partir das estimativas elaboradas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge relativamente à efetividade das vacinas e da manutenção da proteção ao longo do tempo, é também possível perspetivar que o controlo da pandemia pode mesmo acontecer — apesar da ameaça do aparecimento de novas variantes continuar a pairar no ar.

De forma a diminuir estes riscos, alguns países, como França, Israel, Alemanha ou Holanda, estão a optar por administrar terceiras doses da vacina para reforçar a imunidade de pessoas mais idosas ou vulneráveis.

Para Manuel Carmo Gomes (que também integra a comissão técnica para a vacinação contra a covid-19), esta não é uma possibilidade a descartar, embora, para já, seja tempo de avaliação e ponderação.

É preciso saber mais sobre a duração da proteção conferida pelas vacinas. Há estudos que estão a ser feitos e que ajudarão à tomada de decisão, que não deve ser precipitada, nem movida por pressão das farmacêuticas. Só depois saberemos se se justifica voltar a vacinar, quando e quem”, disse o especialista ao semanário.

Marc Veldhoen, imunologista no Instituto de Medicina Molecular (IMM), por sua vez, afirma que “há já literatura científica que mostra que uma terceira dose ajuda a desenvolver mais defesas em pessoas que têm um sistema imunitário enfraquecido”. “No entanto, nada indica ainda que esse reforço vacinal faça alguma diferença em pessoas saudáveis que completaram a sua vacinação.”

A opinião do especialista vai de encontro à posição da Organização Mundial de Saúde (OMS), que nas últimas semanas tem destacado a importância de vacinar a população dos países mais pobres em detrimento da administração de terceiras doses em pessoas saudáveis. Esta estratégia a ajudará a reduzir a transmissão do vírus e a possibilidade de aparecimento de novas variantes no mundo”, defende.

Segundo a OMS, nos países pobres 1,5 pessoas em cada 100 receberam uma dose de uma vacina, enquanto nos países ricos foram 100 em cada 100.

Relativamente à duração da proteção conferida pela vacina, Marc Veldhoen reafirma o que já é sabido pela comunidade científica. “Os anticorpos permanecem no organismo 13 meses após o contacto com o vírus e pelo menos seis meses após a vacinação, sendo provável que se mantenham por mais. E mesmo que diminuam com o tempo, provavelmente manter-se-ão os suficientes para responder de forma eficaz no caso de um reencontro com o vírus.”

Ainda assim, realça o imunologista do IMM, há espaço para exceções. “Se houver uma infeção visível, o mais provável é não gerar doença grave entre os vacinados. Claro que haverá sempre casos, pois as vacinas não são 100% protetoras. Ouviremos essas notícias, mas serão a exceção”, confirma.

Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos da América parecem corroborar as previsões de Manuel Carmo Gomes e do próprio Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. De acordo com uma análise recente da Kayser Family Foundation, a percentagem de infeção entre pessoas completamente vacinadas também ficava abaixo de 1% nos estados que reportavam esse tipo de informação.

Manuel Carmo Gomes é, por isso, um homem otimista em relação ao controlo da pandemia no nosso país. “Incidência de novos casos está a cair há uma semana e hospitalizações e mortes estão agora num plateau, mas devem também iniciar a descida este mês”, avançou.

Os dados atuais permitem também ao especialista prever que no próximo inverno o novo coronavírus não deverá constituir um motivo de preocupação nos hospitais do SNS.

ARM, ZAP //

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