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A “indústria mais sexy” quer conquistar os 9% mais ricos do mundo

Luís Onofre

Luís Onofre, presidente da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.

A indústria do calçado portuguesa avança com um plano estratégico que pretende conquistar os “mercados de elevado rendimento”, para chegar aos 9% mais ricos do mundo. O investimento é de 600 milhões de euros.

O ‘Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030’ foi preparado pela Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), em parceria com o CEGEA – Centro Estudos do Núcleo do Porto da Universidade Católica, e aposta claramente em atrair os mais ricos.

O documento fala da concentração “cirúrgica” dos esforços promocionais e comerciais do sector em “mercados de elevado rendimento”, predominantemente concentrados na Europa, América do Norte e leste da Ásia.

“Diferentes países apresentam diferentes padrões de consumo e uns adequam-se melhor do que outros à sofisticação e criatividade, e consequente preço, que caracterizam a oferta portuguesa”, nota o Plano, reforçando que “a procura por calçado com estas características concentra-se predominantemente em consumidores com níveis de rendimento elevados”.

De acordo com este critério, o mercado potencial para o calçado português equivale a 9,1% da população mundial, ou seja, cerca de 690 milhões de pessoas.

De acordo com informação disponível no Banco Mundial, estima-se que “30% destes consumidores se localizem nos EUA, 21,6% na União Europeia, 11% na China, 7% no Japão e 7% noutros países europeus, estando os restantes dispersos pelo mundo”.

Numa análise mais aprofundada, a associação estima que “existam no mundo 145 cidades” que devem ser consideradas prioritárias para o calçado português, 63% das quais estão concentradas na Europa e nos EUA.

DR APICCAPS

Imagens da campanha de 2011 “The Sexiest Industry in Europe” da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado (APICCAPS).

Investimento de 600 milhões com apoio da bazuca

Constituído por 1.500 empresas, responsáveis por cerca de 40 mil postos de trabalho, o sector de calçado que já se auto-denominou como “a indústria mais sexy da Europa”, exporta mais de 95% da sua produção para 172 países, nos cinco continentes.

Até Setembro, Portugal exportou 61 milhões de pares de calçado, no valor de 1.537 milhões de euros, o que representa um crescimento de 22,5% face ao período homólogo do ano anterior.

O Plano da APICCAPS concentra-se em quatro pilares fundamentais: qualificação, sustentabilidade, flexibilidade e presença activa nos mercados. Inclui 24 medidas e 113 acções que visam “reposicionar o sector na cena competitiva internacional”, como cita o Dinheiro Vivo.

O investimento global é de 600 milhões de euros e a APICCAPS vai contar com o apoio dos fundos da “bazuca” europeia através do Plano de Recuperação e Resiliência.

Baterias apontadas a EUA, Japão e Coreia do Sul

O Plano da APICCAPS destaca o leste da Ásia como “a zona em que as perspetivas de evolução do consumo de calçado são mais favoráveis”, apontando baterias ao Japão e à Coreia do Sul em particular.

“No entanto, das três zonas, [o leste asiático] é também a mais distante, geográfica e culturalmente, o que constitui um obstáculo ao sucesso de uma estratégia que faz da flexibilidade e rapidez de resposta um dos seus atributos fundamentais”, reconhece o documento.

A “grande dispersão geográfica dos principais polos de consumo na China” é referida como “outro obstáculo à actuação da indústria portuguesa, pelo que o plano estratégico aponta “para que Japão e Coreia do Sul assumam maior destaque como alvos de atuação nesta zona do globo”.

No que diz respeito aos EUA, onde a indústria portuguesa conseguiu “um bom desempenho na última década”, a APICCAPS nota que, “também aqui, a dispersão dos principais centros de consumo é um obstáculo”, mas defende que se trata de “um alvo que importa continuar a trabalhar, embora de forma segmentada”.

Afinal, trata-se do “maior mercado do mundo e um mercado em que o desempenho português fica ainda aquém dos rivais mais próximos”: Itália e Espanha.

Assumida a aposta no leste asiático e na América do Norte, o ‘Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030’ vaticina que, “necessariamente, a prioridade para a promoção do calçado português terá que continuar a ser a Europa”.

“É aí que os eixos fundamentais da nossa estratégia, como a sustentabilidade e a flexibilidade e rapidez de resposta são mais valorizados. São esses mercados de que estamos mais próximos, geográfica e culturalmente, e com eles partilhamos a pertença à UE [União Europeia] e tudo o que lhe é inerente”, sustenta.

Na Europa, a APICCAPS aponta ainda à necessidade de “defender, e, se possível, reforçar a posição do calçado português nos seus mercados tradicionais” e, assim, “em cada estação, conquistar novos clientes“, aponta o Plano.

“Este Plano é mais do que uma visão, é um compromisso do sector para aprofundar a sua competitividade no plano internacional e continuar a gerar valor para o nosso país”, refere o presidente da APICCAPS, Luís Onofre, em declarações ao Dinheiro Vivo.

ZAP // Lusa

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