No primeiro feriado oficial dedicado às comunidades indígenas, Washington foi palco de protestos contra a inacção de Biden na luta contra as alterações climáticas e na protecção dos direitos das tribos.
No feriado dos EUA dedicado a Cristóvão Colombo, centenas de indígenas saíram às ruas por todo o país, incluindo em frente à Casa Branca, e a justiça climática foi uma das principais reivindicações.
Os manifestantes exigiram também que Biden parasse de aprovar projectos de combustíveis fósseis, que muitas vezes são feitos em territórios onde vivem comunidades indígenas, e que declarasse a crise climática como uma emergência nacional.
Os protestos da People vs Fossil Fuels de segunda-feira são apenas os primeiros dos próximos cinco dias, organizados pela coligação nacional chamada Build Back Fossil Free, que abrange grupos de justiça social e climática, organizações tribais desde o Alasca até à população negra do Louisiana que vive no “Cancer Alley” – uma zona industrial no estado onde há muita exploração de petróleo e muitos casos de cancro.
Os líderes tribais estão a marchar em vários pontos de Washington para apelar a que a administração de Joe Biden tenha em conta o impacto destes projectos nas comunidades e no ambiente, depois de ter mantido a produção de gás e petróleo, seja através das vendas de petróleo offshore no Golfo do México ou com o projecto de criação de um oleoduto do Canadá para os EUA.
“O Presidente Biden tem uma escolha a fazer: vai ficar do lado das pessoas ou de meia dúzia de executivos dos combustíveis fósseis? É um teste com resultados que vão determinar o futuro do nosso planeta e o bem-estar das gerações futuras que o vão habitar. Estamos a dar a cara para garantir que o Presidente Biden passe este teste crucial”, afirmaram os organizadores num comunicado.
Os organizadores realçam que “ao recusar impedir os principais projectos de combustíveis fósseis, o Presidente Biden quebrou as suas promessas de proteger os direitos indígenas, priorizar a justiça ambiental e responder verdadeiramente à crise climática”.
Na segunda-feira assinalou-se aquele que era até recentemente o Dia de Colombo, mas que foi mudado ou equiparado recentemente a Dia das Pessoas Indígenas em muitas comunidades nos EUA, depois de apelos a que se descolonizasse o feriado.
A 8 de Outubro, Biden tornou-se o primeiro chefe de Estado dos EUA a reconhecer oficialmente o dia. “O nosso país foi concebido numa promessa de igualdade de oportunidade para todos – uma promessa que apesar do progresso extraordinário que fizemos ao longo dos anos, nunca cumprimos totalmente“, começou o Presidente.
“Isto é especialmente verdade quando se trata de defender os direitos e a dignidade das comunidades indígenas que foram estiveram aqui antes da colonização das Américas começar”, acrescentou Biden.
O chefe de Estado restaurou também as protecções a três monumentos nacionais que foram cortados por Donald Trump, reforçando assim as protecções federais a milhares de hectares onde vivem comunidades indígenas.
Em resposta, a Rede Ambiental Indígena disse que se Biden está verdadeiramente empenhado em “honrar os tratados e reforçar a soberania” dos povos, tem de “agir rapidamente para mitigar o caos climático” e “acabar com o legado anti-indígena nos EUA” da extracção de combustíveis fósseis.
“Estamos fartos das palavras vazias. As nossas comunidades precisam de água potável, devolução de terras, desinvestimento na indústria de combustíveis fósseis, e de sarar os traumas dos internatos”, critica a organização.
Apesar das demonstrações não serem violentas, a polícia usou um dispositivo que emite um som agudo para tentar dispersar a multidão, segundo as imagens captadas pela Rede Ambiental Indígena.
As acções da polícia foram criticadas nas redes sociais, com utilizadores no Twitter a dizer que não entendem visto que os manifestantes estavam a ser ordeiros ou com outros a referir que “havia menos polícias a proteger o Capitólio de traidores“, recordando o ataque de 6 de Janeiro. Segundo o Washington Post, uma pessoa foi detida.
Perto da Casa Branca, as palavras “Expect Us” – traduzido para “Esperem por Nós” – foram pintadas na base da estátua do Presidente Andrew Jackson, que levou a cabo a repressão violenta dos nativos e obrigou mais de 60 mil a deslocarem-se entre 1830 e 1850, aquele que ficou conhecido como o Caminho das Lágrimas.
A expressão “Expect Us” faz parte da frase “Respect Us or Expect Us” – Respeitem-nos ou Esperem por Nós -, que é um slogan usado por mulheres indígenas que têm protestado contra o reforço de nove mil milhões de dólares no investimento no oleoduto que liga Alberta, no Canadá, ao Wisconsin, por parte da gigante petrolífera canadiana Enbridge.
Este oleoduto tem sido alvo de muitos protestos. Desde que os protestos contra a construção começaram, a polícia já deteve mais de 900 manifestantes e a Enbridge pagou mais 2.4 milhões às forças americanas por prenderem e vigiarem centenas de protestantes que se opõem ao oleoduto no Minnesota.
Siqniq Maupin, director da Soberania Iñupiat para um Árctico Habitável, que está a lutar contra a exploração petrolífera no Alasca, disse num comunicado que “vamos ter de deixar claro que estamos cá para proteger a nossa terra e águas“.