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Mal pagos e desprotegidos. Na Índia, os cremadores são guerreiros invisíveis nesta pandemia

Sajjad Hussain / AFP

Na Índia, os cremadores ganham pouco mais de 100 euros por mês, trabalham em turnos de 12 horas e são até alvo de descriminação. Alguns nem usam equipamento de proteção individual.

Os número de mortes e casos na Índia desceram, esta terça-feira, pela primeira vez em duas semanas. Ainda assim, a situação epidemiológica do país está longe de estar tranquila. A Índia contabilizou 2.771 mortos e 323.144 casos de covid-19, acumulando agora 197.894 óbitos e 17,6 milhões de casos.

Os cemitérios e crematórios estão sobrecarregados com mortes por covid-19. Ashu Rai é trabalhador do maior centro de cremação de Nova Deli, capital da Índia, e, em entrevista à VICE, retrata o caos que o país atravessa, onde é difícil encontrar sítios disponíveis para cremar os mortos.

“Na semana passada, a nossa carga de trabalho aumentou drasticamente”, disse Rai. “Eu costumava cremar de três a cinco corpos todos os dias antes da pandemia, mas depois desta segunda vaga, estou a cremar mais de 15 corpos por dia sozinho”.

“Não sinto nada quando vejo um cadáver”, disse o jovem de apenas 20 anos de idade. “Talvez não queira sentir nada. Bebo duas garrafas de cerveja todos os dias antes de ir para o trabalho”.

Os trabalhadores de crematórios da Índia — sobrecarregados e mal pagos — muitas vezes enfrentam discriminação, embora sejam guerreiros invisíveis da pandemia de covid-19.

Trabalham em turnos de 12 horas, ganhando o equivalente a 110 euros por mês. Além disso, raramente usam equipamento de proteção individual (EPI), como máscaras, fatos ou viseiras.

“Recebemos EPI, mas não usamos. Trabalhamos numa fornalha, não conseguiríamos respirar naquele fato”, explicou Rai. Apesar de não se proteger no trabalho, o jovem diz que quando vai para casa, toma sérias precauções.

À VICE, Bezwada Wilson, fundador da Safai Karamchari Abhiyan, uma organização que trabalha pelos direitos e bem-estar dos trabalhadores do saneamento, disse que “ninguém sabe quantos cremadores testaram positivo a esta doença mortal” e “ninguém sabe quantos morreram como resultado“.

“Os funcionários do Governo não veem estes trabalhadores como humanos“, sugere Wilson.

Daniel Costa, ZAP //

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