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“Fogos não vão desaparecer e o passado pode repetir-se”, alerta António Costa

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Paulo Novais / Lusa

António Costa intervém durante a inauguração do memorial em homenagem às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande.

António Costa alerta que os incêndios são um risco que não vai desaparecer. “O passado pode repetir-se”, disse primeiro-ministro. “É dever do Estado cuidar de prevenir esse risco”.

O primeiro-ministro esteve, esta terça-feira, na cerimónia de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, no memorial erguido junto à Estrada Nacional 236-1, na zona de Pobrais, Pedrógão Grande, norte do distrito de Leiria.

António Costa alertou que o passado pode repetir-se, referindo que o país está particularmente exposto aos riscos das alterações climáticas.

“O memorial representa um alerta, o alerta de que o passado corre sempre o risco de se repetir e que Portugal é um país particularmente exposto aos riscos das alterações climáticas”, afirmou o primeiro-ministro.

Segundo o chefe do executivo, “esse risco das alterações climáticas agrava todos os anos o risco de incêndio”, considerando que “é dever do Estado cuidar de prevenir esse risco” e de “preparar-se para enfrentar esse risco”.

Na cerimónia, na qual estiveram o Presidente da República, os ministros da Administração Interna, da Coesão Territorial, do Trabalho e das Infraestruturas, autarcas, além de familiares e vítimas dos incêndios, o primeiro-ministro defendeu, contudo, que esse risco exige a “mobilização de toda a sociedade”.

“É por isso que é muito importante a existência deste memorial, como memorial de alerta”, adiantou, notando ainda que “64% dos incêndios ocorridos desde janeiro tiveram uma origem negligente”.

António Costa defendeu que depende de cada um “evitar transformar o risco de incêndio num incêndio efetivo”.

“É um risco de alerta, para a necessidade da reforma estrutural da nossa floresta, um grito de alerta para a necessidade de revitalizarmos o Interior, um grito de alerta para prevenirmos e tornarmos o território mais resiliente e menos exposto ao risco”, prosseguiu.

O primeiro-ministro considerou, igualmente, que este é um “alerta para que cada comunidade aprenda, saiba, conheça o risco, porque só conhecendo o risco se pode também defender”, assim como um “alerta para o apoio” que tem de ser dado aos agentes de Proteção Civil.

“Um grito de alerta para o país saber que nesta água que renasce nesta fonte é também o dever que temos de renascer a consciência coletiva de saber que, mesmo os eventos extraordinários e excecionais, nos impõem a obrigação permanente, diária e coletiva, de saber que o risco existe e que o devemos prevenir”, acrescentou.

António Costa sustentou que a melhor homenagem, aos que partiram e respetivas famílias e amigos e aos que atingidos pelos incêndios “permanecem com a dor da ferida”, é dizer que não são esquecidos, mas, sobretudo, agir-se “sabendo que o risco existe” e que se tem “todos os dias trabalhar para o enfrentar”.

O memorial, da autoria do arquiteto Souto Moura, presente na cerimónia, um investimento de 1,8 milhões de euros, inclui um lago de enquadramento, com cerca de 2500 metros quadrados de área, alimentado por uma gárgula com 60 metros de extensão, sendo bordejado por uma faixa de plantas constituída por nenúfares brancos, lírios e ranúnculos.

O memorial abriu no dia 15 de junho sem qualquer cerimónia pública de homenagem às vítimas dos incêndios florestais de junho e outubro de 2017. A ausência de figuras de Estado suscitou críticas de vários setores.

Os incêndios que deflagraram em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande e que alastraram a concelhos vizinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos noutras 253, sete das quais graves. Os fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

A maioria das vítimas mortais foi encontrada na Estrada Nacional 236-1, que liga Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, junto à qual foi erguido o memorial.

Em outubro do mesmo ano, outros incêndios na região Centro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.

“Um risco que não vai desaparecer”

Na parte da manhã, o primeiro-ministro tinha estado no Sardoal, Santarém, onde voltou a sublinhar a ideia de que é preciso “ter consciência de que o fogo é um risco e um risco que está presente e que não vai desaparecer”.

António Costa falava aos jornalistas durante um exercício realizado na aldeia de Santa Clara, na freguesia de Alcaravela, Sardoal, no âmbito do programa Aldeia Segura, o qual considerou “um trabalho muito importante” desenvolvido pelas autarquias, em colaboração com bombeiros e forças de segurança, que permite garantir a segurança das populações em caso de incêndio.

António Costa lembrou que, de manhã, contactou, no concelho de Mação, também no distrito de Santarém, com diversas formas de prevenir os incêndios rurais, dando os exemplos dos programas de alteração da paisagem e das faixas de contenção.

Ao início da tarde, depois de uma ação de sensibilização do programa “A Raposa Chama”, com alunos dos 3.º e 4º anos e do ensino secundário, na Escola Básica e Secundária Judite Andrade, António Costa assistiu a um simulacro do plano de evacuação em Santa Clara, no âmbito do programa Aldeia Segura, com alerta e concentração da população na sede da Junta de Freguesia, e a uma ação de fiscalização à limpeza de terrenos por parte da GNR.

“Para além do combate direto às chamas, a prioridade tem de ser a proteção das pessoas. Isso é absolutamente fundamental e é por isso que o programa Aldeia Segura é essencial”, afirmou.

Segundo o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, que acompanhou António Costa, existem no país mais de 2300 Aldeias Seguras, tendo o distrito de Santarém 246 e o Sardoal 38.

Para o presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges (PSD), estes programas “são muito importantes para a proteção das pessoas, para que tudo se faça com tempo e segurança”.

ZAP // Lusa

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