Desespero em Los Angeles: fogos matam 5 pessoas e obrigam 100 mil a fugir

Allison Dinner / EPA

Incêndio em Pacific Palisades, Los Angeles

Decretado estado de emergência. Ventos chegam aos 160 km/h. Tanques de água secaram após uma “combinação perigosa”.

Pelo menos 5 pessoas morreram e mais de 100 mil foram obrigadas a fugir de casa em várias zonas de Los Angeles, onde cinco incêndios de proporções gigantescas estão descontrolados desde a manhã de terça-feira.

Nuvens negras de fumo tapam o sol em grandes extensões da cidade e caem cinzas mesmo em bairros que estão a vários quilómetros das zonas afetadas. Seis escolas foram encerradas e centros recreativos foram transformados em abrigos para os que tiveram de ser evacuados.

As autoridades estão a dizer às populações locais para não esperarem – têm de sair de casa imediatamente.

Já nesta madrugada, outro incêndio deflagrou em Hollywood Hills, também em Los Angeles, onde há grandes mansões e vivem celebridades.

Alguns portugueses que vivem em Los Angeles tiveram de evacuar e estão em casa de amigos. Outros estão em alerta porque vivem perto das zonas por onde os fogos estão a alastrar. Muita gente decidiu não enviar os filhos para a escola devido aos alertas sobre a má qualidade do ar.

Na noite passada havia mais de 300 mil casas sem eletricidade e já foi declarado o estado de emergência pelo condado de Los Angeles e pelo governador da Califórnia, Gavin Newsom, que conseguiu luz verde do presidente Joe Biden para obter ajuda federal no combate aos incêndios.

“A situação em Los Angeles é altamente perigosa e em rápida evolução”, disse Newsom, numa conferência de imprensa conjunta com Joe Biden, que se deslocou à Califórnia.

“A ação rápida do presidente Biden é uma tremenda ajuda para a Califórnia, à medida que fazemos tudo o que podemos para proteger os residentes com recursos federais, locais e estaduais significativos”.

Mas a mayor de Los Angeles, Karen Bass, está a ser alvo de críticas por se encontrar fora do país e ter cortado o orçamento do departamento de combate aos fogos em 17 milhões de dólares.

Os bombeiros não conseguiram ainda conter qualquer parte dos fogos, que estão com percurso imprevisível devido aos ventos fortes, que chegaram a atingir 160 km/h.

Os incêndios estão localizados em partes diferentes do condado, todas elas perto de zonas montanhosas: Pacific Palisades, Altadena e Pasadena, Sylmar, Acton e Ventura.

O primeiro fogo começou no bairro abastado de Pacific Palisades, situado entre as montanhas de Santa Mónica e o oceano Pacífico, e espalhou-se rapidamente por causa dos ventos de Santa Ana, que durante a madrugada atingiram a força de um furacão de categoria 2.

Estes ventos sazonais vêm das zonas interiores de deserto e são particularmente perigosos devido à vegetação seca, baixa humidade e situação crónica de seca.

A NBC News reforça a “combinação perigosa” que está a originar esta escala de incêndios: um tempo seco invulgar e ventos fortes.

Estes são os piores ventos desde 2011 e o fogo em Pacific Palisades, uma zona conhecida por mansões luxuosas e celebridades, é já o mais destrutivo da história de LA. Consumiu mais de 6 mil hectares e mil edifícios, destruindo completamente alguns quarteirões – incluindo a escola secundária Palisades High, que apareceu em vários filmes de Hollywood.

Centenas de pessoas que tentaram sair da zona tiveram de abandonar os carros e fugir a pé, deixando um cenário apocalíptico na Sunset Boulevard.

A cadeia de alojamentos Airbnb anunciou um programa de emergência, que permitirá a deslocados ficarem em casas gratuitamente durante uma semana, e os ginásios Planet Fitness estão a abrir as portas para que os afetados pelo apagão possam carregar dispositivos e tomar banho.

Desespero e críticas

As camas improvisadas e os cobertores cedidos pela Cruz Vermelha Americana são tudo o que os sobreviventes dos incêndios em Pacific Palisades e Malibu têm após a devastação da última madrugada, com evacuações obrigatórias em toda a cidade.

“Mandaram-nos sair às nove da noite”, disse à Lusa Ray, que escapou com o marido e a filha adolescente do incêndio. “Às cinco da manhã a nossa casa ficou em cinzas”, acrescentou.

Saíram de pijama e fato de treino, com os telemóveis, e apenas tiveram tempo de salvar o animal de estimação, uma cabra-pigmeu com dez anos.

“Hoje [quarta-feira] vamos dormir no carro”, contou Ray, à porta da escola secundária El Camino Real, em Woodland Hills, que foi transformada em abrigo.

A cabra-pigmeu não pode dormir lá dentro, por isso terão de ficar dentro do carro.

“Não temos cabeça para mais nada. Amanhã procuramos outro sítio”, partilhou Ray.

A casa, em Malibu, está totalmente destruída. Viviam lá há 20 anos e já tinham passado por outros fogos, mas nunca viram nada tão destrutivo.

Ray estava emocionada mas também zangada com os bombeiros, que disse não terem feito nada para salvar as casas.

Não nos deixaram usar mangueiras de alta pressão porque disseram que havia pouca água”, contou. “Queriam usá-la em Pacific Palisades”, acusou.

Também segundo a NBC News, três tanques de água e alguns hidrantes secaram precisamente em Pacific Palisades, por causa de tanta procura de água, dificultando os esforços de combate ao incêndio. Especialistas alegam que o sistema local de combate aos fogos não foi construído para combater um grande incêndio como este.

Há vários incêndios ativos em Los Angeles, o mais grave dos quais em Pacific Palisades, junto às montanhas de Santa Mónica, onde arderam mil edifícios e seis mil hectares.

Este é já o incêndio mais destrutivo da história da cidade, onde há fogos sazonais devido aos ventos fortes, baixa humidade e vegetação seca.

Os habitantes de Los Angeles começaram nas últimas horas a receber avisos para ferverem a água, devido à intensidade do uso pelos bombeiros que está a diminuir a pressão nos canos e pode tornar o seu consumo perigoso.

Segundo disse à Lusa Mimi Teller, porta-voz da Cruz Vermelha Norte-Americana, os abrigos têm neste momento 94 pessoas em Westwood e 12 em Pacoima.

A Lusa esteve no abrigo de Woodland Hills, onde os funcionários contabilizaram nove pessoas desde o início dos incêndios.

Com estado de emergência declarado pelo governador da Califórnia Gavin Newsom, o distrito decidiu encerrar todas as escolas do condado, devido à má qualidade do ar, as cinzas que estão a cair e os ventos que continuam fortes.

A associação de críticos Critics Choice Association decidiu adiar a sua cerimónia de entrega de prémios de cinema e televisão, que estava marcada para Santa Mónica no domingo, 12 de janeiro.

ZAP // Lusa

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