Os incêndios florestais nas ilhas de Bornéu e de Sumatra e os distúrbios e protestos dos últimos dias na província de Papua assolam neste momento o país asiático.
Esta segunda-feira, uma multidão enfurecida incendiou prédios, lojas e casas do governo local e ateou fogo a carros e motos na cidade de Wamena, na província de Papua, num protesto que juntou centenas de pessoas provocadas, que eclodiu devido a suspeitas de insultos xenófobos de um professor a um estudante indígena.
O anterior balanço apontava para 20 mortos e 65 feridos. O porta-voz da polícia de Papua, Ahmad Musthofa Kamal, disse depois que mais seis corpos foram encontrados ao redor dos destroços queimados dos edifícios engolidos pelos incêndios. Para já, os números apontam para 26 mortos e 70 feridos.
Numa outra manifestação, em Jayapura, capital da província, que provocou a morte a um soldado e três civis, a polícia deteve 733 estudantes universitários para interrogatório, indicou o porta-voz da Polícia Nacional, Dedi Prasetyo.
Os estudantes reuniram-se em frente à Universidade de Jayapura para protestar contra o racismo. No entanto, ocorreram confrontos com a polícia que disparou tiros de aviso para deslocá-los para outro local, de acordo com um jornalista da France-Presse (AFP).
Em Wamena, a sede do departamento do governo local foi destruída devido a um incêndio, bem como outros edifícios e lojas.
Desde 19 de agosto, muitas localidades em Papua assistiram a manifestações, algumas degenerando em tumultos com edifícios em chamas e confrontos com a polícia.
A agitação começou em reação aos incidentes racistas contra estudantes de Papua na Surabaya, a segunda maior cidade da Indonésia na ilha de Java, tendo sido também relançados os pedidos para um referendo sobre a independência.
Para além desta situação, os fogos florestais que se registam desde junho no país e que se agravaram no início deste mês, obrigam ao encerramento de escolas e aeroportos, por causa do intenso fumo provocado pelas centenas de quilómetros de chamas.
Quase dez milhões de jovens com menos de 18 anos, um quarto dos quais com menos de cinco anos, vivem nas áreas mais afetadas da ilha de Sumatra e na parte indonésia de Bornéu, avisou hoje o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
As crianças mais novas são as mais vulneráveis, por ainda estarem a desenvolver o seu sistema imunológico, alerta a Unicef, acrescentando existir um risco alto de os bebés nascidos de mães expostas à poluição durante a gravidez nascerem com um peso abaixo da média ou antes do termo da gravidez.
Os incêndios, que estão a devastar em especial as ilhas de Bornéu e de Sumatra, poluíram o ar de uma vasta área do sudeste da Ásia, provocando uma contenda diplomática com a Malásia, país vizinho que se queixou dos fumos poluentes que atravessam a fronteira e que afetam milhões de pessoas.
Quase 30 mil bombeiros e soldados estão a combater os fogos, muitos dos quais são de origem humana.
Os incêndios ocorrem todos os anos no arquipélago indonésio, mas o número aumentou este ano depois de uma estação seca particularmente longa e intensa.
Desde domingo que algumas regiões do país apresentam um céu vermelho causado pela neblina e poluição atmosféricas dos incêndios florestais.
O Serviço de Monitorização da Atmosfera Copernicus (CAMS), um programa europeu que utiliza dados de satélite, indica que os incêndios na Indonésia já provocaram uma libertação de quase tanto CO2 na atmosfera como os incêndios de 2015, considerado o pior ano no país.
Entre o início de agosto e até 18 de setembro, foram emitidos 360 milhões de toneladas de gases com efeito estufa, contra 400 milhões em 2015, observou o serviço.
A polícia indonésia deteve mais de 180 pessoas e representantes de quatro empresas suspeitas de provocarem os incêndios e fechou várias dezenas de plantações afetadas, para investigar e alertar os proprietários.
ZAP // Lusa