Depois de dominado o incêndio na Serra da Estrela, surgem agora as perguntas difíceis

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Nuno André Ferreira / Lusa

O grande incêndio na serra da Estrela foi dado como dominado na passada noite. Agora, surgem as perguntas difíceis que procuram justificações para o que aconteceu.

O incêndio que lavra na serra da Estrela há 11 dias foi dado como dominado pelas 21:30 desta quarta-feira, confirmou fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Este fogo deflagrou no dia 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã, e foi dado como dominado no sábado, dia 13, mas sofreu uma reativação na segunda-feira. De acordo com o site da ANEPC, pelas 22:20, encontravam-se ainda no local 1.101 operacionais, apoiados por 356 viaturas, a realizar trabalhos de rescaldo.

Nos últimos três anos foram limpos no Parque Natural da Serra da Estrela centenas de hectares de faixas, com um mínimo de 125 metros de largura, para criar zonas privilegiadas para combater os incêndios, descreve o Público.

Ainda assim, a chamada rede primária de faixas de gestão de combustível não foi suficiente para suster o fogo que afetou mais de 26 mil hectares.

“Está-se a tentar fazer diferente, mas é um processo muito lento, que ainda não permite ver resultados”, realça o presidente da Queiró — Associação para a Floresta, Caça e Pesca.

Nuno Lourenço não têm justificações para explicar o porquê de a rede primária de faixas de gestão de combustível não ter funcionado — mas tem perguntas.

“O problema será a falta de manutenção das faixas? Será que o desenho da rede é correto?”, questiona o presidente da Queiró.

O Público questionou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sobre as medidas de prevenção tomadas desde 2017 no Parque Natural da Serra da Estrela, mas este organismo optou por não responder.

Depois de um período de silêncio em relação aos incêndios, Marcelo Rebelo de Sousa visita esta quinta-feira à tarde a ANEPC na companhia do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. No final da visita, o Presidente deverá responder a perguntas dos jornalistas.

Entretanto, também o incêndio que lavra nas Caldas da Rainha foi dado como dominado às 04h25.

“Quem tem que ir a julgamento é o sistema”

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) pediu esta quarta-feira, à margem de uma reunião com a Associação dos Voluntários da Marinha Grande, que seja realizado um relatório ao incêndio da serra da Estrela.

“Não nos esquecemos que em 2017 se passou uma coisa semelhante àquela que se está a passar na serra da Estrela e o único elemento que está no banco dos réus, que no dia 13 de setembro vai ouvir a sua sentença, é o senhor comandante Augusto Arnaut dos Bombeiros de Pedrógão Grande”, afirmou António Nunes, ao acrescentar que, por isso, a LBP pediu “um relatório, não um relatório qualquer, um relatório de aprendizagem”.

“Temos de ter uma abordagem aos incêndios diferente. O relatório que irá ser feito, se for feito, o dirá”, afirmou, ao garantir que o objetivo do relatório não é para “cortar a cabeça A, B ou C”.

“Isso não é o nosso problema. Esse é um problema político. Nós só temos o nível técnico e não queremos que volte a acontecer isto [um comandante arguido]. Posso garantir que com este executivo da Liga não vai acontecer isso. Quem tem que ir a julgamento é o sistema”, que “não está bem”, adiantou.

António Nunes lamentou ainda que os bombeiros “já estejam a ser bodes expiatórios”.

Em “algumas das reportagens, já se diz que os bombeiros não estiveram lá”, mas “esquecem-se de dizer que houve colunas de bombeiros que estiveram duas, três ou quatro horas à espera para lhes ser atribuída a missão”.

“E mais uma vez, o sistema provou que não tem capacidade para poder funcionar com estas situações”, reforçou, ao defender, uma vez mais, a criação de um comando dos bombeiros.

O dirigente considerou também ser “cedo” para afirmar o “que é que está a falhar”, mas apontou as “condições meteorológicas adversas, com seca, vento, e humidades relativas baixas”, o que leva a que “qualquer ignição” seja “quase um grande incêndio” e a falta de limpeza dos aceiros, como um cenário favorável aos fogos.

Abordando o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), o presidente da LBP adiantou que esta rede “não é infalível”, como “o não é nenhuma rede de comunicações”.

Para além destes aspetos mais operacionais, António Nunes diz ainda que esta época de incêndios está a provar que o Governo fez um mau aproveitamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para reforçar este sector.

“Qualquer rede de comunicações tem zonas de sombra. Ter 100% de operacionalidade representa investimentos que nenhum país faz. Portanto, o que tenho é que saber que daqui não falo, mas que se for 20 passos para a frente, consigo falar”, disse, sugerindo que haja planos de comunicações, para que os comandantes dos bombeiros conheçam as zonas de sombra nas suas áreas territoriais.

PCP vai questionar Comissão Europeia

Uma delegação do PCP marcou presença em várias áreas afetadas pelo incêndio da Serra da Estrela. Lá, a eurodeputada Sandra Pereira contactou com quem “defende a natureza, com quem preserva a importância da propriedade comunitária, com quem se emocionou ao falar da perda de animais, com quem luta para defender as suas casas e negócios”.

Em comunicado, o PCP revelou que a eurodeputada vai agora questionar a Comissão Europeia sobre eventuais apoios disponíveis para ajudar os lesados e repor a capacidade produtiva da região.

“Ficou evidente a falta de resposta a problemas estruturais como a falta de apoio ao mundo rural, destruição da produção agropecuária e de estruturas e serviços públicos”, lê-se na nota divulgada, onde os comunistas acusam ainda o Governo de António Costa de se esforçar “em passar o ónus dos incêndios para as populações e ações individuais”.

O incêndio foi, inicialmente, dado como dominado às 23h36 de dia 12, tendo-se seguido trabalhos de rescaldo e vigilância em todo o perímetro. Alguns meios no terreno “foram desviados para os incêndios de Tomar e Abrantes”.

No entanto, segundo o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, isto “só poderia ocorrer com um dispositivo de vigilância” em todo o perímetro, que garantisse resposta a reacendimentos — algo que não aconteceu.

De acordo com o Expresso, no terreno houve mesmo incidentes entre equipas do ICNF e grupos de bombeiros.

“O comandante dava uma ordem para entrar e combater, ausentava-se para um reconhecimento e surgia um responsável do ICNF a contrariar as ordens dadas”, recordou um sapador florestal em declarações ao semanário.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

11 Comments

  1. Tudo cheira muito mal. Não ao fumo que resulta desta catástrofe nacional, mas à merda que está por detrás de tudo isto: loucura, álcool, terrorismo, interesses económicos, e políticos, traição.
    E já agora o triste e assustador espectáculo apresentado todos os dias pelas televisões, que não deixam de, subliminarmente, influenciar mentes menos robustas. Mas não dão notícia de quantos incendiários foram condenados a prisão efectiva por crimes contra a natureza, o país e as populações. Essas notícias não dão, mas será que as têm para dar?

    • Perguntas difíceis???? Não sejam tontos!
      Num caso destes, não há perguntas nem respostas difíceis, pois há um democrático historial com mais de 40 anos!
      Há 50-80 anos não havia incêndios com esta dimensão nem frequência! Porquê?
      Resposta real e fácil: porque nesse tempo, os bandidos estavam na cadeia… e por isso, não havia corrupção, incompetência, ANAPC, endividamento descontrolado, o viver de euro-esmolas, nem governantes com obscenas mordomia e impunidade.

    • Até a justiça deveria ser atirada à fogueira. Porque não prendem estes incendiários? Podem chamar-lhes mente frouxas, mas não são doentes mentais para pôr o fogo e receber o dinheiro! Eu se fosse governante exigiria que apanhassem esses bandidos e que os condenassem sem contemplações.

      • Como? Eles trabalham a soldo dos governantes e seus camaradas…ou porque será que acabaram com a Guarda Florestal? Porque será que em vez de apostarem na prevenção, vigilãncia, limpando as matas e reabilitando caminhos, optam por deixar os fogos acontecerem, mesmo que às 3 e tal da manhã?
        Infelizmente, há portugueses que teimam em votar em filo-pirómanos.

  2. Perguntas difíceis???? Não sejam tontos!
    Num caso destes, não há perguntas nem respostas difíceis, pois há um democrático historial com mais de 40 anos!
    Há 50-80 anos não havia incêndios com esta dimensão nem frequência! Porquê?
    Resposta real e fácil: porque nesse tempo, os bandidos estavam na cadeia… e por isso, não havia corrupção, incompetência, ANAPC, endividamento descontrolado, o viver de euro-esmolas, nem governantes com obscenas mordomia e impunidade.

  3. Há duas razões principais para isto e que já alguém comentou: incompetência e corrupção!
    Ambas têm solução:
    Para a incompetência:
    – formação real e efectiva e profissionalismo de bombeiros;
    – formação real e efetiva de quadros de comando
    – redes de comando, despacho e operação que funcionem, como os militares sabem fazer
    – Rede de detecção precoce: tecnologia barata, existente, e com custos de investimento e operação absolutamente irrisórios face aos custos actuais
    Para a corrupção:
    – esta seria muito fácil: basta que não haja NINGUÉM que tenha qualquer proveito directo com os incêndios. Todos sabem quem são!

    • Se entende que a solução SÓ está no que diz, porque é que há 50-80 anos, sem essa formação, os bombeiros controlavam os incêndios?
      Porque insistem os portugueses em votar nos mesmos, que já deram provas de ser corruptos…, até branquearam terroristas (seus amigos) com crimes de sangue?

  4. Querem resolver esta cena dos incêndios? Fácil! Eu cá do alto da minha iliteracia, ajudo os Srs. Drs, Engs, Mestres e Doutores do governo e em cargos diretivos…

    1. Proibida a compra e venda de madeira queimada. Pena EFETIVA, mínima de 5 anos de cadeia a quem o fizer. Vendedor e comprador. Sendo uma empresa o comprador, multa monetária de 100x o valor da compra.

    Aqui e para não ser uma sentença de morte para os produtores, seria constituído um fundo governamental, à laia de seguro, que compraria a madeira queimada, pelo seu custo de produção, para posterior destruição.

    2. Pena efetiva, mínima de 10 anos para incendiários.

    Em ambos os casos, não poderá haver qualquer tipo de redução ou conversão de pena. Não interessa se não tem antecedentes criminais ou se é maluquinho. Cadeia!!

    Em caso de reincidência, o dobro da pena anteriormente aplicada.

    Feito! Em meia dúzia de anos estava resolvido o problema.

    Quem manda, só não acaba com isto dos incêndios, porque não quer.

  5. Se entende que a solução SÓ está no que diz, porque é que há 50-80 anos, sem essa formação, os bombeiros controlavam os incêndios?
    Porque insistem os portugueses em votar nos mesmos, que já deram provas de ser corruptos…, até branquearam terroristas (seus amigos) com crimes de sangue?

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