“Imprudência chocante”. Casa Branca adicionou por engano jornalista a grupo ultrassecreto com planos militares

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Yuri Gripas ; POOL / EPA

Peter Hegseth, o secretário da Defesa dos EUA

Uma “enorme asneira” revelou a um jornalista todos os planos militares do ataque de 15 de março sobre os houti no Iémen — com desabafos de Hegseth e orações de JD Vance pelo meio.

O jornalista Jeffrey Goldberg revelou esta seugnda feira num artigo no jornal The Atlantic que já sabia das operações militares dos EUA no Iémen, que tiveram lugar no dia 15 de março, antes destas acontecerem.

Isto porque foi adicionado, por engano, a um grupo na rede social de mensagens secretas Signal, onde membros relevantes da administração Trump discutiam estratégias militares — incluindo o vice-presidente, JD Vance, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, o secretário de Estado, Marco Rubio, e a diretora dos serviços secretos nacionais, Tulsi Gabbard. O grupo, conta, continha “informações precisas sobre armas, alvos e calendário”.

Segundo avança o The Guardian, o líder da oposição do Senado chamou ao erro “uma das mais espantosas violações dos serviços secretos militares de que tenho conhecimento desde há muito, muito tempo”. De acordo com analistas de segurança, este é um erro sem precedentes na história militar dos EUA. Os democratas querem levar a situação ao Congresso, para ser investigada.

O senador republicano John Cornyn descreveu o incidente como “uma enorme asneira.

Shane Harris, um repórter de segurança nacional,garantiu que “em 25 anos de cobertura da segurança nacional, nunca vi uma história como esta.

Segundo avança a imprensa internacional, o Signal nem sequer é aprovado pelo próprio governo dos EUA para a partilha de informação delicada.

O grupo tinha o nome “Houthi PC Small Group” (os houti foram o grupo atacado pelos EUA no Iémen), e de acordo com o jornalista, chefe de redação do The Atlantic, existiam outros 18 membros da administração Trump no chat.

Segundo o jornalista americano, o convite para se juntar ao grupo foi feito por Michael Waltz, o conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump.

E a própria Casa Branca admitiu o erro: Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, disse que “esta parece ser uma cadeia de mensagens autêntica e estamos a analisar a forma como um número inadvertido foi adicionado à cadeia”.

Acrescentou ainda que “a cadeia é uma demonstração da coordenação política profunda e ponderada entre altos funcionários. O sucesso contínuo da operação Houthi demonstra que não houve ameaças às tropas ou à segurança nacional”.

“Ninguém estava a enviar mensagens de texto sobre planos de guerra e é tudo o que tenho a dizer sobre isso”, comentou por sua vez Peter Hegseth.

A secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt também já se pronunciou: “O Presidente Trump continua a ter a maior confiança na sua equipa de segurança nacional, incluindo o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz”.

“Parasitismo europeu” e outros desabafos

Só que as mensagens a que o jornalista teve acesso (e cujas capturas de ecrã partilhou no The Atlantic) foram, a verdade, reveladoras. JD Vance, por exemplo, parecia pouco convencido da urgência em atacar os houti: “se acha que o devemos fazer, vamos lá. Detesto ter de pagar a fiança da Europa outra vez”, escreveu na conversa.

E Hegseth respondeu: “VP: Partilho totalmente a sua aversão ao parasitismo europeu. É PATÉTICO. Mas o Mike tem razão, somos os únicos no planeta (do nosso lado do registo) que podem fazer isto”.

“Mais ninguém se aproxima. A questão é a altura certa. Sinto que agora é uma altura tão boa como qualquer outra, dada a diretiva do POTUS (Presidente dos EUA) para reabrir as rotas marítimas. Acho que devemos ir; mas o POTUS ainda tem 24 horas de espaço de decisão”, continuou o secretário da Defesa.

Michael Waltz chegou mesmo a informar os colegas da operação que teria lugar: “O Estado-Maior Conjunto vai enviar-lhes uma sequência mais específica de eventos nos próximos dias e trabalharemos com o DOD para garantir que o COS, o OVP e o POTUS sejam informados.”

JD Vance continuou sem estar muito convencido “Equipa, estou fora durante o dia a fazer um evento económico no Michigan. Mas acho que estamos a cometer um erro“. (Vance estava mesmo no Michigan nesse dia.)

E acrescentou: “3% do comércio dos EUA passa pelo Suez. 40 por cento do comércio europeu passa. Há um risco real de que o público não compreenda isto ou porque é que é necessário. A razão mais forte para o fazer é, como disse o POTUS, enviar uma mensagem”.

Hegseth respondeu: “VP: Compreendo as suas preocupações — e apoio totalmente que as levante junto do POTUS. Considerações importantes, a maioria das quais são difíceis de saber como se desenrolam (economia, paz na Ucrânia, Gaza, etc.). Penso que a transmissão de mensagens vai ser difícil, aconteça o que acontecer — ninguém sabe quem são os Houthis — e é por isso que precisamos de nos concentrar em: 1) Biden falhou e 2) Irão financiado”.

Uma oração pela vitória

De acordo com o jornalista, foi no sábado de manhã (o dia dos ataques no Iémen),que a conversa se tornou “bizarra”.

“Às 11h44, a conta com o nome “Pete Hegseth” publicou no Signal uma “Atualização da equipa”. Não vou citar esta atualização, nem alguns outros textos subsequentes. A informação neles contida, se tivesse sido lida por um adversário dos Estados Unidos, poderia ter sido usada para prejudicar militares e pessoal dos serviços secretos americanos, particularmente no Médio Oriente”, narra o jornalista.

No entanto, comenta a “imprudência chocante” dos líderes políticos. JD Vance escreveu entretanto que ia “fazer uma oração pela vitória”.

De acordo com o texto do The Atlantic, Susie Wiles, no final da operação, que matou dezenas de pessoas, comentou no grupo: “Parabéns a todos — muito especialmente aos que estão no teatro de operações e no CENTCOM! Realmente fantástico. Deus o abençoe”.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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