Estudar grande mamíferos carnívoros não é isento de desafios, especialmente quando habitam em locais remotos. Agora, com o uso de colares GPS e câmaras, os investigadores têm a oportunidade de aprender mais sobre os ursos polares.
Os investigadores pretendem saber como é que o Ursus Maritimus está a utilizar a terra para caçar e os impactos que isso terá na sua saúde e das populações, à medida que o gelo continua a diminuir.
Tipicamente, os ursos polares na região do oeste da Baía de Hudson, no Canadá, caçam focas-aneladas (Pusa hispida) e focas-barbudas (Erignathus barbatus) na calota de gelo, frequentemente no final da primavera e início do verão — altura em que as focas dão à luz.
À medida que o gelo diminui, os ursos polares são forçados a passar mais tempo em terra a procurar presas diferentes.
Os investigadores estudaram 20 ursos polares durante três semanas, em agosto e setembro, de 2019 a 2022. O estudo foi publicado em Nature Communications.
O ecossistema marinho ártico está a perder gelo e a ver-se reduzido em extensão e espessura, levando os ursos a passar mais tempo em terra.
As investigações mostraram que o período sem gelo na Baía de Hudson aumentou em três semanas, de 1979 a 2015, significando que os ursos polares estão em terra por cerca de 130 dias.
Algumas previsões sugerem que 24% dos machos adultos poderiam morrer de fome se esse período aumentasse para 180 dias.
“À medida que os ursos polares são forçados a ficar em terra mais cedo, diminui o período em que normalmente adquirem a maioria da energia necessária para sobreviver”, disse Anthony Paggano, autor principal e biólogo de vida selvagem de pesquisa do Programa de Pesquisa de Ursos Polares do Serviço Geológico dos EUA.
O também ex-investigador pós-doutorado da Universidade Estadual de Washington disse, ainda, que “com o aumento do uso da terra, a expetativa é de que, provavelmente, veremos mais fome, especialmente com adolescentes e fêmeas com filhotes”.
Segundo o IFL Science, a equipa queria descobrir se os ursos polares reduziam o seu gasto energético em terra, durante este período sem gelo.
Para isso, mediram o gasto energético, dieta, comportamento, atividade, taxa de movimento, química sanguínea e composição corporal de oito fêmeas adultas, cinco machos adultos, quatro fêmeas adolescentes e três machos adolescentes.
A equipa encontrou grandes variações entre cada um dos ursos polares. As fêmeas adultas e adolescentes passaram cerca de 13% do tempo a comer, principalmente frutas.
Três ursos passaram 10 a 16% do tempo a nadar e dois dos três encontraram carcaças para se alimentar durante esses períodos. Cada um deles passou pouco tempo a alimentar-se.
Um urso foi observado, através das imagens da câmara, a tentar trazer uma carcaça de foca de volta à costa, mas deixou-a cair durante o percurso.
Recentemente, um urso polar morreu no Alasca depois de consumir uma carcaça de ave infetada com gripe aviária.
“Nenhuma das estratégias permitirá que os ursos polares existam em terra, para além de um certo período de tempo. Mesmo aqueles ursos que estavam a alimentar-se, perderam peso ao mesmo ritmo dos que se deitaram”, disse Charles Robbins, coautor do estudo e diretor do Centro de Ursos da Universidade Estadual de Washington.
No geral, apesar de diferentes estratégias de caça e descanso, 19 dos 20 ursos estudados perderam peso — entre a 8 a 36 quilos — ao longo de três semanas. Em média, traduziu-se numa perda de 1 quilo por dia.
Apenas um urso ganhou peso, depois de encontrar uma carcaça de mamífero marinho morto em terra. Isto indica que à medida que o gelo marinho continuar a diminuir e os ursos passarem mais tempo em terra, estarão em maior risco de fome.
Este não é um problema que acontece apenas no Canadá. Na Noruega, a imagem de um urso polar a dormir ganhou um prémio e trouxe à luz a redução do gelo marinho em todo o mundo.