PlayerLayer

O futebol e a tentativa de entrada na FIFA são o último reduto para os habitantes das Ilhas Marshall. Quando o desporto se torna uma forma de ativismo, até o equipamento parece dizer: “vamos desaparecer”.
As alterações climáticas estão a destruir as Ilhas Marshall. As consequências da pouca visibilidade do país resultaram numa crescente subida do nível do mar sem que a comunidade internacional se apercebesse.
O aquecimento global está a destruir este conjunto de 34 minúsculas ilhas do Pacífico: estão a ficar com o território submerso. Outras ameaças à vida nas Ilhas Marshall, como o facto de lá existir radiação nuclear devido a um conjunto de testes encetados pelos EUA nos anos 40, também põem em causa esta nação.
Mas os seus habitantes continuam sem conseguir alertar devidamente a comunidade internacional, que há muito ignora a sua existência. Agora, porém, há uma nova janela que se abre: as Ilhas Marshall são o último país reconhecido pelas Nações Unidas a ter uma equipa de futebol oficial.
Querem entrar para a FIFA até 2030 e o primeiro jogo da nova equipa terá lugar já este verão — um torneio com quatro equipas acontecerá em agosto em Springdale, Arkansas, onde vive a maior comunidade marshallina fora das ilhas, avança a CNN.
“Começámos a nossa longa e épica jornada para levar o futebol às Ilhas Marshall em 2020. E, nos últimos cinco anos, trabalhámos incansavelmente no desenvolvimento do futebol nas Ilhas Marshall, desde a entrega de equipamentos muito necessários às ilhas até à prática do futebol nas escolas pela primeira vez”, lê-se no site do projeto.
O objetivo desta oficialização no futebol? Alertar para a subida do nível do mar. o país conta com ajuda internacional para esta iniciativa, tendo o equipamento sido desenhado por três britânicos, Matt Webb, Lloyd Owers e Justin Walley.
Jogar com o clima às costas
A camisola conta com motivos marinhos, chamando a tenção para a grande diversidade de espécies que habitam nos atóis das ilhas. O equipamento chama-se “No-Home”, “nenhuma casa”, em referência à perda de território do país. No centro destaca-se um número: 1,5. Refere-se ao acordo climático de Paris das nações Unidas, no qual os países concordaram em reunir esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Essa marca já foi ultrapassada em 2024.
Na t-shirt, há ainda uma frase de uma poetisa marshallina, Kathy Jetnil-Kijiner: “Nós merecemos prosperar”. Uma inovação criada para a campanha de marketing das camisolas foi… fazê-las desaparecer.
Sim, numa das versões da camisola, ela tem buracos propositados. A camisola desaparece, literalmente, pedaço a pedaço, à semelhança das próprias ilhas. A cada fotografia divulgada pela federação de futebol das Ilhas Marshall, a camisola surgia com cada vez menos pano (ou território).
“É uma celebração da rica cultura das Ilhas Marshall e, potencialmente, do que se pode perder se não forem tomadas medidas. Compreendemos que as alterações climáticas podem ser polarizadoras para algumas pessoas e talvez não seja algo em que queiram focar-se no desporto”, diz Matt Webb à CNN.
“Mas, para nós, seria errado não fazer qualquer referência ao assunto. E, ao usar o desporto, temos uma plataforma enorme onde outros meios de comunicação social podem não ter necessariamente a possibilidade de abordar esse tema”, conclui.