“Dou o benefício da dúvida porque eles saberão o que estão a fazer – mas suspeito que não sabem”.
19 de Fevereiro, dia do debate televisivo entre Rui Rocha e Luís Montenegro.
O líder da Iniciativa Liberal (IL) disse que “a solução para o país está nesta mesa”. Ou seja, a AD venceria as eleições e encontraria uma solução governativa em colaboração com a IL.
Não aconteceu. Sobretudo porque os números não deixaram: juntos, AD e IL têm apenas 88 deputados, bem longe dos 116 necessários para a maioria absoluta.
Mesmo sem essa maioria, houve negociações entre as duas forças políticas – que não resultaram. A IL ficou fora do Governo.
Numa entrevista publicada nesta semana, a líder parlamentar da IL comentou que há “prioridades diferentes” para PSD e IL, destacando as diferenças na “ambição de reforma fiscal” e a postura sobre o círculo de compensação eleitoral.
“Na questão fiscal consideramos que há a urgência de uma reforma imediata e que tem de ser ambiciosa. Na tomada de posse, o primeiro-ministro refere que vai baixar o IRC daqui a três anos. Para nós era fundamental reduzir já”, enunciou Mariana Leitão, no jornal Público.
Nessa sequência, a deputada foi questionada sobre eventual aproximação entre os dois partidos à volta de um (também eventual) orçamento rectificativo. “Precisamos de analisar, qualquer que seja o documento”, respondeu.
João Cotrim Figueiredo, antigo líder da IL, disse logo a seguir às eleições que o partido vai ser uma oposição construtiva à AD.
Os dois grandes grupos
“Afinal, não se entendem, não falam“, analisou Miguel Pinheiro na rádio Observador.
“E isso parece-me problemático, sobretudo para a IL“, continuou, antes de dividir os eleitores da IL em dois grandes grupos.
O primeiro grupo são os convictos, idealistas que querem dar o máximo espaço aos liberais.
O “segundo grande grupo” é formado por eleitores que querem um governo não-socialista que junte PDS, CDS e IL – e alguns colocam o Chega nesta equação: “Votam em pequenos partidos para darem outras ideias, mas pensando que os partidos se entendem”.
“Mas agora vêem que, afinal, o voto na IL não é para somar aos votos no PSD; é para subtrair ao PSD. Podem começar a pensar duas vezes” se, nas próximas eleições, vão votar novamente na IL, um partido que “tem dado sinais de que essa soma (ao PSD) não é automática”.
E isso pode originar uma perda significativa de eleitores: “Parece-me que pode haver uma sucessão de desilusões que leve a que a IL só fique com o primeiro grupo de eleitores – e se calhar essa percentagem (dos convictos) não é assim tão grande”.
“Suspeito que a coisa pode não correr bem. Dou o benefício da dúvida porque eles saberão o que estão a fazer – mas suspeito que não sabem”, finaliza o especialista.
A IL vai ser o próximo partido de direita a “ir de vela”.
Não tarda no baú das recordações, onde o CDS regressará , a seu tempo.