Iémen. Milhões de crianças empurradas para a fome devido à pandemia e à falta de ajuda humanitária

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A guerra civil no Iémen estende-se desde março de 2015

A previsão consta de um novo relatório da UNICEF intitulado “Iémen cinco anos depois: crianças, conflitos e Covid-19”, no qual se aponta que o número de crianças iemenitas desnutridas pode chegar aos 2,4 milhões até ao final do ano, um aumento de 20% em relação ao cenário atual.

“À medida que o devastado sistema de saúde e as infraestruturas lutam para lidar com o coronavírus, a situação, que já é terrível para as crianças, provavelmente vai deteriorar-se consideravelmente”, alertou a UNICEF, citada pela agência Lusa.

A fraca infraestrutura de assistência médica não está preparada para combater a pandemia de coronavírus, após cinco anos de guerra entre uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e os rebeldes Houthis, apoiados pelo Irão. A guerra, que eclodiu em 2015, desencadeou a pior crise humanitária do mundo.

A UNICEF prevê que a situação no Iémen piore, porque os países reduziram recentemente a ajuda humanitária. O país registou oficialmente mais de mil casos de covid-19, que resultaram em 275 mortos. No entanto, acredita-se que a contagem real seja muito maior, pois as capacidades de teste são extremamente limitadas.

“Se não recebermos fundos urgentes, as crianças serão empurradas para a fome e muitas morrerão”, disse a representante da UNICEF no Iémen, Sara Beysolow Nyanti. Se isso acontecer, “a comunidade internacional enviará a mensagem de que a vida das crianças (…) simplesmente não importa”, acrescentou.

A UNICEF alertou que, a menos que 54,5 milhões de dólares (48,5 milhões de euros) sejam desembolsados para assistência à saúde e nutrição, até fim de agosto, mais de 23 mil crianças estarão em maior risco de morrer devido à desnutrição aguda. Cinco milhões de crianças com menos de cinco anos não terão acesso a vacinas contra doenças mortais.

As agências internacionais de assistência estão alarmadas com o declínio significativo do financiamento humanitário prometido anteriormente pelos países doadores.

Ahron de Leeuw / Flickr

Ruas de Sana’a, no Iémen

Numa conferência online dedicada ao Iémen, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Arábia Saudita a 02 de junho, 31 dos países doadores prometeram 1,35 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) em ajuda – menos mil milhões de dólares do que o necessário e metade do valor que os países prometeram em 2019.

A UNICEF pode garantir apenas 10% dos 461 milhões de dólares (410 milhões de euros) que pede para cobrir a sua resposta humanitária à crise no Iémen e menos de 40% dos 53 milhões de dólares (47,2 milhões de euros) necessários para lidar com o impacto da covid-19 nas crianças, indica-se no relatório.

“A UNICEF está a trabalhar dia e noite em situações incrivelmente difíceis para obter ajuda para crianças em necessidade desesperada, mas só temos uma fração do financiamento necessário para fazer isso”, reforçou Nyanti.

O relatório da UNICEF surge logo após o responsável pela ajuda humanitária das Nações Unidas, Mark Lowcock, ter afirmado numa reunião fechada do Conselho de Segurança da ONU que o Iémen poderia “cair do penhasco” sem um forte apoio financeiro.

Lowcock acrescentou que a covid-19 está a espalhar-se rapidamente pelo país mais pobre do mundo árabe, matando cerca de 25% dos casos confirmados – um número cinco vezes superior à média global.

Metade das unidades de saúde do Iémen são disfuncionais e 18% dos 333 distritos do país não têm médicos.

Os sistemas de água e saneamento entraram em colapso, resultando em surtos recorrentes de cólera. Cerca de 9,6 milhões de crianças não têm acesso suficiente a água potável, saneamento ou higiene e dois terços dos cerca de 30 milhões de pessoas no país contam com assistência alimentar.

A pandemia de covid-19 já provocou quase 484 mil mortos e infetou mais de 9,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência AFP. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

// Lusa

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