Houthis respondem com mísseis balísticos a bombardeamento de Israel. A guerra tem nova frente

Yahya Arhab / EPA

Israel afirma ter intercetado um míssil proveniente do Iémen que “se aproximava” do país. Os huthis reivindicaram o lançamento de “vários mísseis balísticos” contra Israel, um dia depois de um ataque israelita em Hodeida ter causado três mortos.

A escalada de tensão nos últimos dias entre Israel e os rebeldes Houthis, após o bombardeamento do porto de Hodeida em resposta a um atentado em Telavive, ameaça alargar a guerra aberta no Médio Oriente a mais uma frente.

Este domingo, os rebeldes huthis, do Iémen, reivindicaram a responsabilidade pelo lançamento de “vários mísseis balísticos” contra Israel, depois de Telavive ter bombardeado Hodeida, num ataque que causou pelo menos três mortos e 90 feridos graves.

O porta-voz militar dos huthis, Yahya Sarea, disse num comunicado que o movimento apoiado pelo Irão lançou uma barragem de mísseis contra “alvos importantes” na cidade de Eilat, que não especificou, afirmando que a operação foi levada a cabo “com sucesso”.

A afirmação surge depois de o exército israelita ter anunciado que intercetou um míssil sobre o Mar Vermelho, lançado do Iémen nas primeiras horas da manhã, afirmando que, embora o míssil não tenha entrado em território israelita, fez disparar as sirenes em Eilat, em caso de queda de estilhaços.

A defesa aérea “intercetou com êxito um míssil terra-terra” sobre o mar Vermelho, que “se aproximava do território israelita a partir do Iémen, utilizando o sistema Arrow 3 de longo alcance”, indicou o exército israelita em comunicado.

O míssil “não entrou em território israelita. As sirenes foram ativadas devido à possibilidade de queda de estilhaços. O incidente terminou”, acrescenta a nota.

Este sábado, aviões de guerra israelitas bombardearam o porto iemenita de Hodeida, causando três mortos e mais de 80 feridos, em retaliação ao ataque dos huthis, na sexta-feira, em Telavive, onde morreu uma pessoa.

Três mártires e 87 feridos com queimaduras graves”, indicou o Ministério da Saúde huthi, após o ataque israelita, que provocou um incêndio de grandes proporções.

O exército israelita afirmou que os “aviões de guerra atingiram alvos militares do regime terrorista huthi na região do porto de Hodeida, em resposta às centenas de ataques perpetrados contra Israel” pelos rebeldes.

Este porto, essencial sobretudo para a ajuda humanitária, serve de “principal via de abastecimento de armas iranianas do Irão para o Iémen, a começar pelo drone utilizado no ataque de Telavive”, acusou o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari.

“Tenho uma mensagem para os inimigos de Israel: não se enganem. Defender-nos-emos por todos os meios, em todas as frentes. Quem nos atacar pagará um preço muito elevado”, declarou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, num discurso transmitido pela televisão.

Segundo os especialistas, estes são os primeiros ataques anunciados por Israel contra o Iémen, palco de uma guerra entre huthis e o governo do país, que está situado a cerca de 1.800 quilómetros de Israel.

A entidade sionista pagará o preço dos seus ataques contra instalações civis e nós responderemos à escalada com a escalada”, avisou Mohammed al-Bukhaiti, membro do gabinete político dos huthis, que controlam vastas zonas do Iémen, incluindo Hodeida.

Na sexta-feira, os huthis reivindicara a autoria do ataque com um drone contra Telavive, que matou pelo menos uma pessoa, em resposta ao qual Israel lançou o bombardeamento ao porto de Hodeida.

A Força Aérea das Forças Armadas do Iémen, como os huthis se autodenominam, “levou a cabo uma operação militar qualitativa, que consistiu em atacar um dos alvos importantes na região ocupada de Jaffa, chamada Telavive israelita”, afirmou na sexta-feira o porta-voz militar dos Huthis, Yahya Sarea, em comunicado.

O drone utilizado “é capaz de evitar os sistemas de interceção do inimigo e não ser detetado pelos radares”, acrescentou Sarea, na mesma nota.

 

Os huthis, movimento xiita rebelde apoiado pelo Irão, estão a atacar há meses, ao largo das costas do Iémen, navios que consideram ligados a interesses israelitas, em solidariedade com os palestinianos de Gaza, e dispararam mísseis contra cidades israelitas, a grande maioria dos quais foi intercetada.

O movimento rebelde iemenita integra o chamado “eixo de resistência“, uma coligação liderada pelo Irão de que faz parte também, entre outros, o grupo islamita palestiniano Hamas e o movimento xiita libanês Hezbollah.

Este sábado, o Hezbollah alertou que os ataques israelitas contra os Huthis, os seus aliados iemenitas, abrem uma “nova fase perigosa” no Médio Oriente, nove meses após o início da guerra na Faixa de Gaza.

“A ação estúpida levada a cabo pelo inimigo sionista anuncia uma nova fase perigosa nos confrontos em toda a região”, afirmou em comunicado o Hezbollah, grupo apoiado pelo Irão, à semelhança dos rebeldes Huthis do Iémen e do islamita Hamas da Palestina.

Sauditas negam envolvimento

A Arábia Saudita, que se situa entre o Iémen e Israel, tem sido acusada pelos rebeldes iemenitas de atuar como primeira linha de defesa de Israel e de intercetar drones e mísseis lançados pelos huthis contra o território israelita, embora Riade nunca se pronuncie sobre estas ações e se distancie do conflito entre as duas partes.

“O Reino da Arábia Saudita não tem qualquer ligação ou envolvimento no ataque a Al Hodeida”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa saudita, brigadeiro-general Turki al-Maliki, numa declaração concisa divulgada pela agência noticiosa oficial saudita SPA.

O porta-voz do Ministério da Defesa saudita sublinhou ainda que o país não permitirá que qualquer entidade viole o seu espaço aéreo, depois de rumores de que a Arábia Saudita teria autorizado Israel a bombardear o porto de Hodeida.

O reino árabe apelou para a “contenção” quando os EUA e o Reino Unido lançaram uma campanha de bombardeamento em meados de janeiro contra as posições huthis no Iémen, em retaliação aos ataques do grupo apoiado pelo Irão à navegação comercial no Mar Vermelho.

“Estes ataques têm como objetivo interromper e degradar ainda mais as capacidades dos Huthis, apoiados pelo Irão, para levarem a cabo os seus ataques imprudentes e desestabilizadores contra navios norte-americanos e internacionais que transitam legalmente no mar Vermelho”, afirmou na altura o Pentágono.

ZAP // Lusa

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